10 março 2022

ulla hahn

 

Mein vater


Wer ist das?

fragen meine Freunde

und deuten auf das Foto

des Mannes über meinem Schreibtisch

zwischen Salvador Allende

und Angela Davis.

 

Ich sage:

Mein Vater. Tot.

Dann fragt niemand weiter.

 

Wer ist das?

frage ich den Mann,

der nicht einmal

für das Paßfoto lächelt,

der an mir vorbeischaut

wie beim Grüßen

an Menschen,

die er nicht mochte.

 

Bauernkind, eines von Zwölf,

und mit elf von der Schule;

hatte ausgelernt,

mit geducktem Kopf nach

oben zu sehen.

Ist krumm geworden

als Arbeiter an der Maschine

und als Soldat

verführt gegen die Roten.

 

Nachher noch einmal:

geglaubt, nicht begriffen.

Aber weitergemacht.

Als Arbeiter an der Maschine

als Vater in der Familie

und sonntags in die Kirche

wegen der Frau

und der Leute im Dorf

 

Den hab ich gehaßt.

 

Abends, wenn er aus der Fabrik

nach Hause kam,

schrie ich ihm entgegen

Vokabeln, Latein, Englisch.

Am Tisch bei Professors,

als mir der Tee

aus zitternden Händen

auf die Knie tropfte,

hab ich Witze gestammelt

über Tatzen,

die nach Maschinenöl stinken.

 

Hab das Glauben verlernt mit Mühe.

Hab begreifen gelernt und begriffen:

 

Den will ich lieben

bis in den Tod

all derer,

die schuld sind

an seinem Leben

und meinem Haß.

 

Manchmal,

da lag schon die Decke

auf seinen Knien

im Rollstuhl,

nahm er meine Hand,

hat sie abgemessen

mit Fingern und Blicken

und mich gefragt,

wie ich sie damit machen will,

die neue Welt.

 

Mit Dir,

hab ich gesagt

und meine Faust

geballt in der seinen.

 

Da machten wir die Zeit

zu der unseren,

als ich ein Sechstel

der Erde ihm

rot auf den Tisch hinzählte

und er es stückweis

und bedächtig

für bare Münze

und für sich nahm.

 

Wer ist das?

fragen meine Freunde

und ich sage:

Einer von uns.

Nur der Fotograf

hat vergessen,

daß er mich anschaut

und lacht.

 

 

O meu pai

 

Quem é este?

perguntam os meus amigos

apontando para a foto

do homem no meu escritório,

colocada entre Salvador Allende e Angela Davis.

 

Eu respondo:

O meu pai. Morto.

E ninguém volta a perguntar.

 

Quem és?

Pergunto a esse homem

que nunca sorri

nem sequer na foto do passaporte

e me olha por cima dos ombros

como se cumprimentasse um estranho.

 

Filho de camponeses, um de doze,

aos onze deixou a escola;

onde tinha aprendido,

a olhar para cima

com a cabeça baixa,

curvado,

como um trabalhador sobre uma máquina

ou um soldado

forçado a lutar contra os Vermelhos.

 

Depois de tudo foi outro tempo:

Pensava que não o compreendia.

Mas continua

Como um operário na máquina

como um pai de família

e o domingo na igreja

graças à sua esposa

e às pessoas da aldeia.

 

Eu odiava-o.

 

E pelas tardes,

quando voltava para casa da fábrica

gritava-lhe na cara

palavras em latim e em inglês.

Na mesa dos meus professores,

enquanto o chá caía das minhas mãos trémulas

sobre os meus joelhos

fazia piadas sobre as patas

que cheiravam a óleo das máquinas.

 

Foi difícil mudar de ideias.

Foi difícil entender

 

que queria amá-lo

até à morte

de todos os culpados

da sua vida

e do meu ódio.

 

Às vezes

o cobertor já estava

em cima dos seus joelhos

na cadeira de rodas,

pegava na minha mão

e media-a com os seus dedos e o seu olhar,

depois perguntava-me,

como quero fazer

um mundo novo.

 

Contigo,

Disse

Com o meu punho

recolhido no seu

 

Depois fazíamos do tempo uma coisa nossa

e contava-lhe  como uma sexta parte

do mundo já era vermelha

e ele valorizava

cada parte uma por uma

metodicamente.

 

Quem é esse?

Perguntavam os meus amigos

e eu digo:

um de nós.

só o fotógrafo

se esqueceu que ele olha para mim e sorri.