18 março 2022

blanca andreu


Dame la noche que no intercede,

la noche migratoria con cifras de cigüeña,

con la grulla celeste y su alamar guerrero,

palafrén de la ola oscuridad.

Dame tu parentesco con una sombra de oro,

dame el mármol y su perfil

leve y ciervo,

como de estrofa antigua.

 

Dame mis manos degolladas por la noche que no intercede,

palafrén de las más altas mareas,

mis manos degolladas entre los altos cepos y las llamas lunares,

mis manos migratorias por el cielo de agosto.

 

Dame mis manos degolladas por el antiguo oficio de la infancia,

mis manos que sajaron el cuello de la noche,

el destello del sueño con metáforas verdes,

el vino blasonado que se quedó dormido.

 

Amor de los incendios y de la perfección,

amor entre la gracia y el crimen,

como medio cristal y media viña blanca,

como vena furtiva de paloma:

sangre de ciervo antiguo que perfume

las cerraduras de la muerte.


 

Dá-me a noite que não intercede,

a noite migratória com números de cegonha,

com a garça celeste e seu alamar guerreiro,

palafrém da onda escuridão.

Dá-me o teu parentesco com uma sombra de ouro,

dá-me o mármore e seu perfil

leve e cervo,

como uma estrofe antiga.

 

Me dê minhas mãos degoladas pela noite que não intercede,

palafrém das mais altas marés,

minhas mãos degoladas entre os altos cepos e as chamas lunares,

minhas mãos migratórias pelo céu de agosto.

 

Dá-me as minhas mãos degoladas pelo antigo ofício da infância,

minhas mãos que lancetaram o pescoço da noite,

o lampejo do sono com metáforas verdes,

o vinho brasonado que ficou a dormir.

 

Amor dos incêndios e da perfeição,

amor entre a graça e o crime,

como meio cristal e meia vinha branca,

como veia furtiva de pombo:

sangue de cervo antigo que perfume

as fechaduras da morte.