14 janeiro 2022

malena mariana martinic magan

 

Poco hombre


Hoy le corto un pedazo de hombre.

Me cansó con tanto exceso.

Le corto la voz irritante de matón que lo sabe todo.

Le corto el puño con el que se sabe valiente.

El dedo señalando mi error.

Hoy me enamoro del peor cliente.

Me subo en mis zapatos

y corro hasta perder la orientación

y los olores viejos.

Hoy le corto el atropello,

el sudor y aliento ácido,

sus manos torpes,

vientre blando,

su risa estridente.

Hoy le muestro que no sirve,

que si no paga no tiene.

Hoy le corto la imagen del espejo,

en la que se ve poderoso, violento, fuerte.

Y me siento reina, o niña buena,

o mariposa. Hasta libre.

Hoy no acepto billetes,

ni regalos, ni flores, ni promesas,

ni lágrimas de comprensión por un rato.

No huelo a chica.

No muerdo labios.

No bebo engaños.

Hoy clavo certeramente el filo en su corazón.

Y se lo arranco.

Total,

sin corazón, hará lo mismo.



Pouco homem


Hoje corto-lhe um pedaço de homem.

Cansou-me com tanto excesso.

Corto-lhe a voz irritante de rufia que sabe tudo.

Corto-lhe o punho com o qual sabe ser valente.

O dedo apontando o meu erro.

Hoje apaixono-me pelo pior cliente.

Subo nos meus sapatos

e corro até perder a orientação

e os cheiros velhos.

Hoje corto-lhe o atropelo,

o suor e o hálito ácido,

as suas mãos torpes,

barriga mole,

o seu riso estridente.

Hoje mostro-lhe que não serve,

que se não paga não tem.

Hoje corto-lhe a imagem do espelho,

onde se vê poderoso, violento, forte.

E sinto-me rainha, ou boa menina,

ou borboleta. Até livre.

Hoje não aceito notas,

nem presentes, nem flores, nem promessas,

nem lágrimas de compreensão por um momento.

Não cheiro a rapariga.

Não mordo lábios.

Não bebo enganos.

Hoje cravo com certeza a lâmina no seu coração.

E arranco-lho.

Enfim,

Sem coração, fará o mesmo.