21 julho 2019

ana minga



I
Mi corazón es un vigía que fuma. Los
versos ahora son ojos ciegos.

Cuando nací nació un inútil que para
curarse del frío utiliza el alcohol y grita
antes de caer fusilado.

Sé que te debo una dedicatoria pública
pero temo el ridículo y opto por la
mudez de los espejos.

Pero debes saber que eres toda mi
cabeza perdón por esconder las
palabras la disnea sólo ofrece vértigo y
nada vuelve salvo los nombres que se
lanzan al eco.

I
O meu coração é uma sentinela que fuma. Os
versos agora são olhos cegos.

Quando nasci nasceu um inútil que para
se precaver do frio usa álcool e grita
antes de cair fuzilado.

Sei que te devo uma dedicatória pública
mas receio o ridículo e opto pela
mudez dos espelhos.

Mas tens de saber que és toda a minha
cabeça desculpa esconder as
palavras a dispneia só traz vertigem e
nada retorna salvo os nomes que se
lançam ao eco.



18 julho 2019

elena román


Colgado de un junco

La gente se saluda en las proximidades del río
y no le afecta que su saludo no sea devuelto
y se quede colgado del aire.
Cuanto más cerca se esté del río,
más se saluda la gente y sonríe
aunque no tenga respuesta y su saludo
se quede colgado de un junco.
Pídele a la Guardia Civil que cambie los tiempos,
se dicen entre ellos
para empezar y terminar una conversación
que se queda colgada del cuello.


Pendurado num Junco

As pessoas cumprimentam-se à beira do rio
e não ficam afetadas por não lhes ser devolvido o cumprimento
ficando pendurado no ar.
Quanto mais perto se esteja do rio
mais se cumprimentam as pessoas e sorria
mesmo não tendo resposta e o seu cumprimento
fique pendurado num junco.
Pedem à Polícia que mude os tempos,
dizem entre eles
para começar e acabar uma conversa
que fica pendurado pelo pescoço.



12 julho 2019

daniela prado


Peces tropicales

Escribo con el cerebro en mis manos
y el corazón en los ojos
Todo lo que percibo
se recubre de nostalgia
entonces, se hace cristalino y frágil

Como esos pequeños peces trasparentes
que se camuflan con mis lágrimas
cada vez que me asomo
al acuario vacío.

Peixes tropicais

Escrevo com o cérebro nas mãos
e o coração nos olhos
Tudo o que percepciono
recobre-se de nostalgia
então, torna-se cristalino e frágil

Como esses pequenos peixes transparentes
que se camuflam com as minhas lágrimas
cada vez que me debruço
sobre o aquário vazio.


09 julho 2019

denise vargas


Clases de natación

A los nueve años descubrí cuánto pesa un cuerpo
en el fondo de una piscina.

Hasta entonces, solo conocía la ligereza de flotar,
cruzar de punta a punta la vida en una alberca. Las
horas fluían, abriéndose bajo cada brazada. En ese
húmedo trance de quietud, todo parecía liviano.
Solo mi padre sospechaba de ese hondo santuario
en que me sumergía, y sus ojos vigilaban mi ritual.

Esa tarde, algo rompió la nitidez del fondo. Un
cabello largo subía como humo buscando la
superficie. Dos brazos agitaban el agua sin alcanzar el
vuelo. Me acerqué, sus manos se aferraron a mi cuello,
y en un violento nudo de codos y burbujas nos fuimos
alejando sin luz. Supe en ese instante cuánto pesa
la vida en el fondo de una alberca: es llevar la muerte
colgada del cuello como un ancla; pesa más aún que la
mano que cierra unos párpados por última vez.
Esa tarde nos salvaron las señales de humo y los
ojos de mi padre. Pero nada nos libro de morir a la
niñez, y nacer prematuramente, en esa placenta de
cloro, al dulce agobio de saberse mortal.

Aulas de natação

Aos nove anos descobri quanto pesa um corpo
no fundo de uma piscina.

Até então, só conhecia a leveza de flutuar,
atravessar de um lado ao outro, a vida numa piscina. As
horas fluíam, abrindo-se debaixo de cada braçada. Nesse
húmido transe que quietude, tudo parecia leve.
Só o meu pai suspeitava desse fundo santuário
onde eu submergia e os seus olhos vigiavam o meu ritual.

Nessa tarde, alguma coisa quebrou a nitidez do fundo. Um
cabelo longo subia como fumo à procura da
superficie. Dois braços agitavam a água sem conseguir o
voo. Aproximei-me, as suas mãos agarraram-se ao meu pescoço,
e num violento nó de cotovelos e bolhas fomos-nos
afastando sem luz. Soube nesse instante quanto pesa
a vida no fundo de uma piscina : é levar a morte
pendurada ao pescoço como uma âncora ; pesa mais ainda que a
mão que fecha pálpebras pela última vez.
Nessa tarde, fomos salvos pelos sinais de fumo e pelos
olhos do meu pai. Mas nada nos livrou de morrer na
infância, e nascer prematuramente, nessa placenta de
cloro, no doce fardo de se saber mortal.



06 julho 2019

joy harjo


This Morning I Pray for My Enemies

And whom do I call my enemy?
An enemy must be worthy of engagement.
I turn in the direction of the sun and keep walking.
It’s the heart that asks the question, not my furious mind.
The heart is the smaller cousin of the sun.
It sees and knows everything.
It hears the gnashing even as it hears the blessing.
The door to the mind should only open from the heart.
An enemy who gets in, risks the danger of becoming a friend.

Esta manhã rezo pelos meus inimigos

E a quem chamar meu inimigo?
Um inimigo deve ser digno do combate.
Redondeio em direção ao sol e continuo a andar.
É o coração quem faz a pergunta, não a minha mente furiosa.
O coração é o mais pequeno primo do Sol. Ele olha e sabe
todas as coisas. Ouve o ranger como ouve a bendição.
A porta da mente só deve ser aberta a partir do coração.
Um inimigo que se interponha, arrisca-se
ao perigo de se converter
em um amigo


03 julho 2019

malen denis


Bajo cero

Escupías fuego por la boca cuando te conocí. Debería haber intuido el peligro: un chico de dieciséis años sin remera, tomando sorbos de nafta en el medio del campo helado para escupir llamaradas. El pasto grisáceo estaba cubierto de escarcha, a vos te caía, por el surco que dejan tus pulmones en tu pecho pálido, un hilo de kerosene. Brillabas por partes, un Vermeer caprichoso. La noche y la intemperie te quedan bien, algo de leñador que tenés, una actitud de resolver a la fuerza, a hachazos.

Ese invierno intentaron convencerme de que el frío era un estado en la mente. Es una sensación y una sensación siempre es psicológica, lanzó un pequeño Einstein que desconocía el concepto de hipotermia. No quería tener que discutir con un varón, además, hubiera dado todo por dejar de temblar, así que, sentada en un tronco bajo, hacía fuerza para encontrar telepáticamente el calor, hecha un bollo dentro de mi saco azul. Te encantaba ese saco, decías que era del color exacto. Nunca supe exacto respecto de qué.

Cuando caminaste recto hacia mi dirección, juraba que había alguien justo detrás de mí. ¿Estás borracha?, lanzaste mientras tomabas forma humana, rígida. Limpiabas tu pecho con una toalla de mano decorada por un bordado en cursiva y el dibujo de una manzana. Con velocidad magistral, te calzaste un suéter grueso de lana sobre la piel desnuda, seguro picaba, pero no emitiste queja alguna. Un fruncimiento de cejas te dejó la cara en penumbras: no lo hagas más, vos no sos como esas chicas, a vos no te queda bien. Te miraba como Sailor Moon a Toxeedo Mask, como un gatito tierno de internet, y vos ya conocías esa mirada.

Lo que me cautivó fue tu capacidad de ser definitivo. Yo con suerte tenía el límite de la ropa para determinar que era un ser humano, pero vos parecías ya completo, claramente cortado del fondo por un troquel del cual te habías desprendido hacía tiempo ya, parecías saber mucho de todas las cosas. Y qué honor no ser como "esas chicas", aunque no tuviera idea de quiénes eran. Y qué honor ser elegida para un consejo. La alegría me invadió el cuerpo como un látigo eléctrico.

Abaixo de zero

Cuspias fogo pela boca quando te conheci. Devia ter intuído o perigo: um rapaz de dezasseis anos sem camisa, tomando goles de nafta no meio do campo gelado para cuspir labaredas. A relva acinzentada estava coberta de geada, em ti caía, pelo sulco que os teus pulmões abrem no teu peito pálido, um fio de querosene. Brilhavas por partes, um Vermeer caprichoso. A noite e a intempérie ficam-te, qualquer coisa de lenhador em ti, uma atitude de resolver à força, à machadada.

Nesse inverno tentaram convencer-me que o frio era um estado da mente. É uma sensação e uma sensação é sempre psicológica atirou um pequeno Einstein que desconhecia o conceito hipotermia. Não me apetecia discutir com um rapaz, além disso daria tudo para deixar de tremer e por isso, sentada num tronco mais abaixo, fazia força para encontrar telepaticamente o calor, enrolada dentro do meu saco azul. Encantava-te esse saco, dizia que tinha a cor exata. Nunca soube a que se referia o exato.

Quando vieste direito a mim, jurei que havia alguém imediatamente atrás de mim. Estás bêbada? Disseste enquanto adquirias forma humana, rígida. Limpavas o peito com uma toalha de mão decorada com um bordado em itálico e o desenho de uma maçã. Com velocidade magistral, vestiste uma blusa grossa de lã sobre a pele nua, de certeza que picava, mas não emitiste qualquer queixa. franzir de sobrancelhas deixou-te a cara em penumbra: não faças mais isso, tu não és como essas raparigas, a ti não te fica bem. Olhava-te como Sailor Moon a Toxeedo Mask, como um gatinho ternurento de internet e tu já conhecias esse olhar.

O que me cativou foi a tua capacidade de ser definitivo. Eu com sorte tinha o limite da roupa para determinar que era um ser humano, mas tu parecia já completo, completamente cortado do fundo por um molde de que te tinhas desprendido já há tempos, parecias saber muito de todas as coisas. E que “honra” não ser como “essa raparigas” embora não fizesse ideia de quem eram. E que honra ser eleita para um conselho. A alegria invadiu-me o corpo como um choque elétrico.


30 junho 2019

patricia lockwood


Government Spending

The government spent a Patricia on me,
“a huge waste,” it lamented, “when we could
have been spending it on another Nixon,”
the government spent all its beauty
on the great light leap on the deer-
crossing sign — there was hardly any
beauty left for anything else in America,
and looking around them the government
said,
“Is there none left? Print more,”
you are born, you barely contain yourself,
you grow, inside you, someone spends
a billion to make prison more luxurious;
inside you, someone spends a billion
to keep libraries open one hour later;
then oh god, you feel wonderful,
you must be on welfare,
the government spent its whole education
on me, at least that is how it feels right now,
I am bursting with educational dollars,
I am bursting with other dollars as well,
I’m rounded up, I’m one long row of ohs,
I get so many commas
that the sentence doesn’t stop,
the dollars in me are a map of  Missouri
my mother can’t fold back up, oh no the map
is everywhere, but I know the way, I am hot
on a trail, I am bursting with the dollars
that put that knowing breath in drug dogs,
all the spending of  the space program is in me,
the stars seem especially close, this is because
they are a government handout, they are spending
millions on moonlight research, when I am President
I will cut the arts and let my right arm flow downhill,
I am ready, there is nothing trivial about me left,
I am eliminating the penny every second,
a dollar is peeled off a roll of  thousands,
it is the day, the mint of  it is in my mouth,
I open it, completely fresh.

Gastos governamentais

O governo gastou a Patrícia em mim
Um enorme desperdício” lamentou-se “podíamos tê-lo
gasto noutro Nixon,”
O governo gastou toda a sua beleza
na luz cintilante do sinal do cruzamento
de cervos – havia apenas um pouco de beleza
restante para alguma coisa mais na América
e olhando em volta deles, o governo
disse,
- Não resta mais nenhum? Imprimam mais.
nasceste e só te conténs a ti mesmo,
cresceste, dentro de ti, alguém gasta
um bilhão para te fazer uma prisão mais luxuosa:
dentro de ti, alguém gasta um bilhão
para manter as bibliotecas abertas por mais uma hora,
então, oh sentes-te magnífico
tens de te sentir providenciado.
O governo gata toda a sua educação
em mim, ou pelo menos é assim que se sentes,
estou cheia de dólares educativos,
estou cheia também de outros dólares
estou arredondada, sou uma longa fila de “oh’s”,
obtenho tantas vírgulas
que a oração se detém.
os dólares em mim são um mapa do Missouri
um mapa que a minha mãe não consegue dobrar, oh não o mapa
está em todos os lados, mas conheço o caminho, sou ardente
num trilho, estou cheia com os dólares
que pôs esse alento sábio nos cães drogados,
todos os gastos do programa espacial estão em mim,
as estrelas parecem estar particularmente próximas, isto é
porque sou um panfleto do governo, eles estão a gastar
milhões na investigação da luz lunar, quando eu for Presidente.
Cortarei as artes e deixarei que o meu braço direito flua costa abaixo
Estou pronto, não há nada de trivial que reste em mim.
Estou a eliminar o cêntimo a cada segundo.
Um dólar a descascar-se de um rolo de milhares,
hoje é o dia, a menta está na minha boca,
abro-a, completamente fresca.


27 junho 2019

louise dupré


…et tu pleures avec Nietzsche
devant ce vieux cheval
sous les coups de cravache

car la philosophie ne peut rien
contre la cruauté
des maîtres

pour laver la douleur
il n’y a que les larmes

et la poésie quand elle arrive
à toucher
la moelle de la langue…


e choras com Nietzsche
diante deste velho cavalo
a golpes de chicote

porque a filosofia nada pode
contra a crueldade
dos senhores

para lavar a dor
só restam as lágrimas

e a poesia quando consegue
tocar
o tutano da língua



24 junho 2019

silvia castro


como los peces
sólo recuerdo
la mitad de lo que vi

la mitad de lo que viste

una línea de tiza
alrededor de la memoria

sujeto con alfileres
el papel de molde

al desplegar la tela
no me olvido de dejar
un margen
para la costura


como os peixes
apenas lembro
metade do que vi

metade do que viste

um traço de giz
à volta da memória

preso com alfinetes
o papel de molde

ao desdobrar o pano
não me esqueço de deixar
uma margem
para a costura


21 junho 2019

claudia tejeda


Narciso

Insisto
como el pájaro contra su reflejo
el pico sobre el pico de vidrio
esa autohipnosis de la primera persona
una prisión desde el lado más libre
cuando las alas me esconden las manos
dobleces de lo rotundo
en el uso incorrecto de las ventanas.

Narciso

Insisto
como o pássaro contra o seu reflexo
o bico sobre o bico de vidro
essa auto-hipnose da primeira pessoa
uma prisão a partir do lado mais livre
quando as asas me escondem as mãos
dobras do rotundo
no uso incorreto das janelas.

18 junho 2019

natalia lara


Equidistante

Voces sombrías,
luminosas voces,
y mi voz hecha ovillo
de silencio”.
Luisa del Valle Silva

Una sombra propaga sus tentáculos
adelgaza la envoltura de la noche
me cobija en sus dedos con firmeza
clandestina riega las piedras negras
desmenuza los ardores de las horas
me maquilla sin brazos con carbones
y con tules de aire migratorio
bordea el eco de mi voz muerta:
Oblicua ciega al aedo
Ramifica su boca los perfumes finales.

Equidistante

Vozes sombrias,
luminosas vozes,
minha voz feita novelo
de silêncio”.
Luisa del Valle Silva

Uma sombra propaga os seus tentáculos
adelgaça o invólucro da noite
abriga-me nos seus dedos com firmeza
clandestina irriga as pedras negras
despedaça os ardores das horas
maquilha-me sem braços com carvões
e com tules de ar migratório
margina o eco da minha voz morta:
Oblíqua cega o aedo
Ramifica a sua boca os perfumes finais.

15 junho 2019

maría domínguez del castillo


Antipoética para el siglo XXI

Lo que prosiguió a la caída
finisecular
fue una tierra llena de cadáveres de plantas
una cama de hojas secas que empezaban a quebrarse bajo los dedos
las semillas de ambos sexos el abono más hermoso

Pero el terrible temor

de que los ojos del mundo habían contemplado ya
todas las especies
de que los labios del mundo habían sentido
el aroma de todas las flores

Y la terrible certeza

de que los padres del siglo habían creado ya
con las hojas de los muertos
las flores nuevas.

Anti-poética para o século XXI

O que se seguiu à queda
finissecular
foi uma terra cheia de cadáveres de plantas
uma cama de folhas secas que começavam a partir sob os dedos
as sementes de ambos os sexos o adubo mais belo

Mas o terrível temor

de que os olhos do mundo tinham contemplado já
todas as espécies
de que os lábios do mundo tinham sentido
o aroma de todas as flores

E a terrível certeza

de que os pais do século tinham criado já
com as folhas dos mortos
as flores novas.


12 junho 2019

ana rodríguez callealta


Noche oscura del cuerpo

salí sin ser notada
estando ya mi casa sosegada.
San Juan de la Cruz.

No voy a mentirte, Afrodita,
no ha superado la ficción el estremecimiento
de dos cuerpos que se estrechan,
como la tinta no pudo jamás correrme
por el sexo haciéndome gritar
como si al alba ya no quisiera la garganta
para nada.
Porque no era verdad, pero tampoco incierto
que puede ser Amor una ficción tan verosímil
como el sudor que derramabas en mi nombre,
fingiendo que encendías con las manos
—con la Psique que tú eras—
la facha que una vez ya ardió en los hombres,
mil millones de años mucho antes
que nosotras.
Y no es verdad, Amor, quiero decir, Deseo,
que te prefiera mía, proyectada,
exacta a cualquier musa posmoderna.
Pero he de confinarme todavía,
Quizás a las migajas del recuerdo,
solo por verme libre,
disonante
del fuego prometeico que robé
haciéndome pasar por una esclava.

Noite escura do corpo

saí sem ser notada
estando já minha casa sossegada.
San Juan de la Cruz.

Não te vou mentir, Afrodite,
não superou a ficção o estremecimento
de dois corpos que se amplexam,
como a tinta nunca me pude vir
pelo sexo fazendo-me gritar
como se a alba já não quisesse a garganta
para nada.
Porque não era verde nem sequer incerto
que pode ser Amor uma ficção tão verosímil
como o suor que derramavas no meu nome,
fingindo que acendias com as mãos
- com a Psique que tu eras -
a fachada que alguma vez já ardeu entre os homens,
mil milhões de anos muito antes
de nós.

E não é verdade, Amor, quer dizer, Desejo
que te prefira minha, projetada,
exatamente como qualquer musa pós-moderna.
Mas tenho de me confinar ainda,
Talvez às migalhas da lembrança,
só por me ver livre,
dissonante
do fogo prometeico que roubei
fazendo-me passar por uma escrava.



09 junho 2019

michelle r. o.



19 Abril

dentro de este cofre todo está podrido

la basura,
los escombros,
la sombra de las cosas se han levantado sobre
nosotros

Ha expuesto
esa mugre impune en nuestro rostro.

Tenemos miedo.
Lo hemos aprendido muy bien.

Ahora las migajas
me hacen tanto sentido.
Las admiro.
Son las sobras de una carne mayor.

Aunque escasas de cuerpo alimentan como pueden.
Se dan completas
para amansar el hambre cruel: la innegable animalidad.

¿La madre es el hambre o la migaja?
Ella da su cuerpo para formar el regazo, sus fuerzas
para cocinar sin descanso.
Algo
de los hijos
la mantiene viva.
Los hijos no tienen idea.
No saben alimentar a la madre.
Ninguno muere de hambre y eso es triste la muerte es más lenta
se llega a sentir asco por los platos llenos.


19 Abril

dentro deste baú está tudo podre

o lixo,
os escombros,
a sombra das coisas levantaram-se sobre
nós

Expus
essa sujeira impune no nosso rosto.
Temos medo.
Aprendemo-lo muito bem.
Agora as migalhas
fazem tanto sentido.
Admiro-as.
São as sobras de uma carne maior.

Embora escassas de corpo alimentam como podem.
Dão-se inteiras
para amaciar a fome cruel : a inegável animalidade.

A mãe é a fome ou a migalha?
Ela dá o seu corpo para moldar o regaço, as suas forças
para cozinhar sem descanso.
Algo
dos filhos
a mantém viva.
Os filhos não fazem ideia.
Não sabem alimentar a mãe.
Ninguém morre de fome e isso é triste a morte é mais lenta
chega-se a sentir nojo pelos pratos cheios.

06 junho 2019

mariana pérez balocchi


El rumor de los contornos respira en la anomia,
en la fuerza repetida del agua desalojando el espacio,
en el carozo partido por las lenguas del sagrario,
en una orquesta caníbal ejecutando el cuerpo de lo incompleto,
en la continuidad hambrienta de la forma exacta,
consumiéndose en un desamparo inmenso.

O rumor dos contornos respira na anomia,
na força repetida da água desalojando o espaço,
no caroço partido pelas línguas do Sacrário,
numa orquestra canibal executando o corpo do incompleto,
na continuidade faminta da forma exata,
consumindo-se num desamparo imenso.



03 junho 2019

amarú vanegas


La mano

Se incendia Alejandría,
mi voz se escurre en sus papiros,
salta cada letra sobre la tierra pisada.

Allí va mi lengua largando sus raros vocablos.

La otra lengua se pasea viscosa
por la mano que inició la pira funeraria.

A mão

Incendeia-se Alexandria
a minha voz escorre nos seus papiros,
salta cada letra sobre a terra pisada.

Ali vai a minha língua largando os seus estranhos vocábulos.

A outra língua passeia-se viscosa
pela mão que iniciou a pira funerária.