02 outubro 2018

joana medellín herrero


Receta #19

Quiero hundirme
o en su defecto…
Aceptar la flotación insonme
como quien se resigna
al hediondo jarabe
para bajar la fiebre.
Desguanzar cada articulación
que me puebla las carreteras óseas.
Acariciar el ansia
como a un gato arisco.
Mientras hunde las garritas
en el regazo frío inhabitable.

Quiero serenar la rabia.
Guardarla en una cajita y visitarla
sólo de cuando en cuando.
Lamer las paredes del encierro
en que me he metido
a voluntad de carcelero.
Oprimirme los botones
del desconcierto.

Reconocer que lo mío
nunca ha sido
reconocer el techo,
como a los árboles,
es un concepto que no me cabe
en la cerebrita de hojarasca
que me habita el cráneo.

Receita #19

Desejo a desmoronação
ou caso não haja ….
Aceitar a flutuação insone
como quem se resigna
ao horroroso xarope
para baixar a febre.
Canibalizar todas as articulações
que povoam as minhas estradas ósseas.
Acariciar a ansiedade
como a um gato arisco.
Enquanto afunda as pequenas garras
no inabitável regaço frio.

Quero acalmar a raiva
Guardá-la numa caixinha e visitá-la
só de vez em quando.
Lamber as paredes da clausura
em que me meti
a vontade do carcereiro.
Ser oprimida pelos botões
do desconcerto.

Reconhecer que a minha cena
nunca foi
reconhecer o teto
ou as árvores,
é uma ideia que não é minha
na folha da neurose
instalada no meu crânio.


29 setembro 2018

leydy loayza mendoza


Aproximaciones a la locura

Desde aquí la veo, no estando su piel en ninguna piel de mujer
Ella me ha dicho que no es del todo humana
Un cuadro de Vincent Van Gogh relata su condición efímera de musa invisible

No la tengo esta noche y ninguna melodía abre sonidos en el silencio mayor que se ha alojado en mi cabeza, acorralando sus indelebles últimas palabras sobre mi patio interior

Ha sido niña cuando habitaba aquella casa que ahora la arroja
No quiero dejarla entrar, aunque la espina de sus ojos me recorra el alma, ya es tarde

Una lluvia de poemas ha inundado mi sala y una mujer de otro tiempo ha pintado las paredes que ella rayó, sus pinceles están curando las amargas distancias pero la prisa con que viajan los dolores va lacerando poco a poco todo lo que soy

Hay siete primaveras acostadas en esta nueva casa, vendrás, vendrás, vendrás...
hormigas peregrinas me advierten en presagio discreto que en aquella madrugada en que ella venga ya no estaré yo.

Aproximações à loucura

Vejo-a daqui, a sua pele não está em nenhuma pele de mulher
Disse-me que não é completamente humana
Um quadro de Vincent Van Gogh relata a sua condição efémera de musa invisível

Não a tenho esta noite e nenhuma melodia abre sons no silêncio maior que se alojou na minha cabeça, encurralando as suas indeléveis últimas palavras sobre o meu pátio interior

Foi menina quando morava nessa casa que agora a deita fora
Não quero deixá-la entrar mesmo que a espinha dos seus olhos me percorra a alma, já é tarde

Uma chuva de poemas inundou a minha sala e uma mulher de outro tempo pintou as paredes que ela riscou, os seus pincéis estão a curar as amargas distâncias mas a pressa com que viajam as dores vai lacerando pouco a pouco tudo o que sou

Há sete primaveras deitadas nesta nova casa, virás, virás, virás…
formigas peregrinas advertem-me em presságio discreto que na madrugada em que ela vier já não estarei eu.

26 setembro 2018

silvia belcastro


Reparto di neurologia

Si addormenta Emanuela,
felice di ascoltare
le ultime note di Chopin.

Nei sotterranei si consuma
il dramma sempre uguale,
violento come un bel volto di donna.

Il grande pioppo sorride
coi suoi rami di marzo
e la notte dalle luci

azzurre culla il silenzio
dei matti con incomprensibili
arabeschi.

Departamento de neurologia

Emanuela dorme,
feliz em ouvir
as últimas notas de Chopin.

Nos subterrâneos consuma-se
o drama sempre igual,
violento como um bonito rosto de mulher.

O grande álamo sorri
com seus ramos de março
e a noite das luzes

berço azul o silêncio
dos loucos com incompreensíveis
arabescos.

23 setembro 2018

karina cartaginese


^

en una ciudad galopada de amapolas, una estrella de macramé, muralina los males de ojos y se arroja a si misma hacia seis puntos cardinales. los puños se abren, son mapas de un guerrero expandido. en la noche del salto el misterio es cintura ninya para desaparecer. donde nadie sabe. es preciso ahí

ahora la oscuridad es tu doble de riesgo. tu doble sisal de sierpe. la pregunta donde te balanceas escucha pasos en el techo felino infrarrojo donde ves todo lo que ves no viendo. ceguera a cielo abierto a campo suelto tomás la forma del animal que te suelta en la frontera de una selva. otra selva desbocada en la ciudad galopada de amapolas


^
numa cidade galopada por papoilas, uma estrela de macramé, inscreve no mural as maleitas dos olhos e atira-se a si própria para seis pontos cardeais. os punhos abrem-se, são mapas de um guerreiro extensivo. na noite do salto o mistério é cintura de moda para desaparecer. de onde ninguém sabe. é preciso aí

agora a escuridão é o teu dobro de risco. o teu duplo sisal de serpente. a pergunta em que te balanças ouve passos no teto felino infravermelho onde vês tudo o que vês não vendo. cegueira a céu aberto a campo solto adquires a forma do animal que te solta na fronteira de uma selva. Outra selva descontrolada na cidade galopada por papoilas


20 setembro 2018

martina vidaić


Ptica, šljivin plod

tog su ljeta šljive dozrijevale unatrag.
meso im je bilo modro
pa zeleno
pa posvijetlilo u cvijet.

tamno voće najbrže dozrije nijekanjem,
blijedim zidovima u koje se iva umatala
pred svaki tulum.

ivini su starci učili djecu da se mozak
utiskuje ručno. ivin je brat imao velike
ruke, po jedna polutka u svaku šaku,

sve po pola sa sestrom.

zrenje je postojalo da nas učini drvenima,
napuni pupovima od grla do grla.

šljive su pucale od samopouzdanja, koštice
padale kao okoštale suze, smrvljeni kralješci,
iz svake je niklo po jedno savijeno stablo.

poslije, ivin brat
objesio se na stablu
koje je također moglo biti šljiva.

plod tamnog učenja zrio je u zaborav.

vidjela sam, smrt je neobično velik primjerak
najobičnije privatne pomrčine,
ima ih posvuda, rastu, vidjela sam,
i na rubovima namještaja.

poslije su mi se oči smrkle, ništa nije bilo
dovoljno tamno da bi se uočilo.

odlučila sam: omotat ću oči slijepom sobom
i žestoko žestoko šutjeti,
brati mrkli muk,
mučati tamnom polutkom mozga
da posvijetli u ljubav,

ali tog su ljeta
zidovi bili slabo savitljivi.
stalno su se kore pupova razbijale o beton,
kao da će
netko propjevati.


Pássaro, fruto de uma ameixeira

nesse verão as ameixas amadureciam ao contrário.
a sua carne era azul
depois verde
e a seguir florescia iluminada.

a fruta escura amadureceu logo em negação
junto às paredes pálidas onde eva se vestia
antes das festas.

os pais de eva pensaram os seus filhos o cérebro
era gravado à mão, o irmão de eva
tinha mãos grandes, um hemisfério em cada punho,

partilhava metade de tudo com a sua irmã.

e tal amadurecimento fez-se para nos endurecer
para nos encher de brotos de ameixas de uma ponta à outra.

confiantes, as ameixas rasgavam-se, os seus ossos
caíam como lágrimas obstinadas, vértebras quebradas,
uma árvore escangalhada brotando por cada uma delas.

mais tarde, o irmão de eva
pendurava-se na árvore
que podia muito bem ser uma ameixeira.

a fruta do saber escuro madurando no esquecimento.

via-a, morte, uma mostra inusualmente grande
do mais ordinário, penumbra pessoal,
para poderem ser vistas em todo o lado, crescem, vi-as
até nos cantos dos móveis.

depois disso os meus olhos enevoaram-se, nada era
suficientemente escuro para distinguir.

decidi : envolver os meus olhos no quarto fechado
vorazmente, vorazmente calar,
arrancar o taciturno silêncio morto,
ficar letárgica no hemisfério cerebral escuro
e assim brilhar em amor depois,

mas nesse verão
as paredes torpemente se dobravam
todo o tempo, a carne da ameixa rasgava-se contra o cimento
como se alguém
tentasse rebentar em canção.



17 setembro 2018

aušra kaziliūnaitė


Šventinis makiažas

Mačiau angelus su automatais rankose
jie liūdnai žvelgė į grindis oro uostose ir stotyse

lūkuriavo

Mačiau tėvų siųstus aštuonmečius
kurie pribėgę prie žmogaus teisių aktyvistų
šaukė – gražinkit mums vaivorykštę –

kikeno

Mačiau vyrus, kurie manėsi esantys tikri vyrai
ir moteris, kurios manėsi esančios tikros moterys
susipažindamos vietoj vardo jos sakydavo
– esu to ir to moteris –

Mačiau ištuštėjusius kaimus, kertamus miškus
užtvenktas upes ir mažų miestelių bažnyčias

veidrodyje

Maquilhagem de férias

vi anjos com pistolas automáticas nas mãos
olhando em triste o chão de aeroportos e estações

à espera

vi crianças de oito anos enviadas pelos seus pais
correndo em direção aos ativistas dos direitos humanos
gritando – devolvam-nos o arco-íris–


rindo


vi homens que julgavam ser homens a sério
e mulheres que julgavam ser mulheres a sério
dizendo em vez de um nome como apresentação
sou a mulher deste ou daquele –

vi aldeias vazias, bosques caídos
represas sobre rios e campanários de pequenas cidades

no espelho



14 setembro 2018

maud vanhauwaert


er liepen twee vrouwen in een straat
ze vonden elkaar schoenen lelijk

dat is het enige
dat ooit tussen hen is gebeurd

ze kruisten elkaar
keken naar elkaars schoenen
vonden die lelijk


estavam duas mulheres a andar na mesma rua
ambas pensando que os sapatos da outra eram feios

foi a única coisa
que se passou entre elas

cruzaram-se no passeio
vendo cada uma os sapatos da outra
embora fossem feios.


11 setembro 2018

montserrat martorell


La memoria olvidada

La primera vez que decidí irme de Chile tenía veintidós años. Había terminado hace muy poco la carrera de Literatura y necesitaba un cambio, una marea nueva que interrumpiera ese curso indefinido en el que estaba presa hace quizás cuánto tiempo. Él ya había sido diagnosticado de Alzheimer hacía tres años. Ya no le iba a importar tanto que me fuera. Quizás, si tenía suerte, me recordaría una vez cada cierto tiempo y alguien, a muchos kilómetros de mí, me diría que había pronunciado mi nombre.

Él es mi padre y tiene setenta y seis años.

Tendría que empezar diciendo que él se casó en una época pasada, medio añeja, medio de mentira, cuando todavía nadie sospechaba que mi hermano, mi madre o yo íbamos a ser alguien dentro de una historia que a ratos parece salpicada por ciertos resabios de oscuridad.

No exagero. Para la gente, antes, e incluso tal vez después, sólo éramos puntos suspensivos en la memoria de nadie. Inexistentes. Sombras frágiles de un espacio eterno que podía serla imaginación, las posibilidades de otra vida, un tiempo errante.

A memória esquecida

A primeira vez que decidi sair doChile tinha vinte e dois anos. Tinha acabado há muito pouco tempo o curso de Literatura e precisava de uma mudança, uma nova maré que interrompesse esse curso indefinido onde me sentia presa há demasiado tempo. Ele já tinha sido diagnosticado com Alzheimer há três anos. Já não se importaria que eu me fosse embora. Talvez, se lhe calhasse a sorte se lembrasse de mim de quando em vez e alguém, a muitos quilómetros de mim, me diria que ele tinha balbuciado o meu nome.

Ele é meu pai e tem setenta e seis anos.

Teria que começar por dizer que ele se casou numa época remota,meia arcaica, meio mentira,quando ainda ninguém suspeitava que o meu irmão, a minha mãe ou eu seríamos alguém dentro de uma história que às vezes parece salpicada por alguns ressentimentos de escuridão.

Não exagero. Para as pessoas, entes e mesmo depois, éramos apenas pontos suspensos na memória de ninguém. Inexistentes. Sombras frágeis de um espaço eterno que poderia ser a imaginação, as possibilidades de outra vida, um tempo errante.


08 setembro 2018

agne zagrakalytė




Jei nebūčiau poetas, būčiau
Poetė:
Supčiaus po obelim hamako burėse įsisupus,
Dainuočiau: saugokis vėjo, kai ji prisimerkia,
Galvodama, aišku, apie save:
Būčiau gražiausia šiame geriausiame iš
Dabar mums duotų pasaulių,
Takažoles mintų pėdelėm švelniom
Aplink mano vėjo valtelę
Baltos kiauksinčios kalakutės,
Kas dar gi aš būčiau, jeigu
Nebūčiau:
Sidabro žiedelis, mėnulio briauna nuliežtas,
Lakuotas ežeras,
Žėrintis upės žvynažodis,
Soti šviesa pro dulkiną stiklą,
Stiklas,
Prietemos pilkšvas drugelis,
Laukų ramunėlė, ugniažolė, eteriu tvinkstanti,
Pienių baltas kartumas, kraujo
Skonis, suknelė, rūdžių intapais nubučiuota,
Miško sesuo, vaistus nešanti miško seselė,
Vaistažolių sauja siauroj letenėlėj,
Gegužė, brolių raudanti ir kvatojanti,
Šūvio apdegus skylė,
Būčiau, buvau:
trokštu, taigi esu.

Se não fosse um poeta seria
uma poetisa:
baloiçaria sob a macieira envolta nas redes de descanso, cantaria: prevenindo o vento
quando me faz semicerrar os olhos
claro, pensando em mim:
seria a mais bela no melhor dos
mundos que nos foram oferecidos,
tratando de galinhas brancas, compés delicados
pisaria as amarras
que rodeiam o meu veleiro.
Quem mais seria se
não existisse:
um pequeno anel de prata lambido pela sombra da lua
um lago lacado
um rio resplandecendo à escala do mundo
a saturada luz através do vidro sujo de um copo
vidro
cristal
uma partícula de poeira ao anoitecer
camomila selvagem, celidonia maior inchada por azeites voláteis
a branca amargura dos dentes de leão, o sabor
do sangue, um vestido, a irmã do campo,
beijada nos oxidados lunares,
uma enfermeira da floresta trazendo medicamentos
um punhado de ervas medicinais na magra mão
um pássaro lamentando-se pelos seus irmãos e rindo
o buraco de uma bala
seria, era
quero e, pois, sou.


02 setembro 2018

natalia gómez


La poesía es una escalerita que baja,
Por un camino de nubes,
A una ventanita con vista al infierno
Corazones cuelgan de los árboles
Y los leones se cortan las uñas.
Un poema es una tortuga con patas de gacela
Corre a través de un arcoíris
Y llega a ojos de cualquier cazador.
Es una avenida rota
Con flores que emergen de las grietas.
Es una ciudad
Iluminada por luciérnagas
Le cantan al silencio.
El poeta,
Es aquí,
Un cuerpo vivo
Entre el escombro.


A poesia é uma escadinha que desce,
por um caminho de nuvens
a um postigo com vista para o inferno
Corações pendem das árvores
e os leões cortam as unhas.
Um poema é uma tartaruga com patas de gazela
corre através de um arco-íris
e chega aos olhos de qualquer caçador
É uma avenida quebrada
com flores que emergem das fendas.
É uma cidade
iluminada por pirilampos
cantam o silêncio.
O poeta,
É aqui,
Um corpo vivo
Entre os escombros.


30 agosto 2018

edna st. vincent millay


If I grow bitterly,
Like a gnarled and stunted tree,
Bearing harshly of my youth
Puckered fruit that sears the mouth;
If I make of my drawn boughs
An Inshospitable House,
Out of which I nevery pry
Towards the water and the sky,
Under which I stand and hide
And hear the day go by outside;
It is that a wind to strong
Bent my back when I was young,
It is that I fear the rain
Lest it blister me again.

Se cresço envolta no amargo
como árvore raquítica e nodosa
carapaçando minha juventude em áspero
fruta enrugada que murcha a boca;
se dos meus galhos macilentos
faço uma Casa Inóspita
de onde nunca olho
para o céu e para a água,
sob a qual me escondo
a ouvir como lá fora decorre o dia;
Foi um vento demasiado forte
dobrou-me a espinha quando era jovem,
tenho medo que a chuva
volte a despedaçar-me.



27 agosto 2018

lili frikh


La soif

Tu demandes de l’eau. Et tu bois tu pleures tu te laves. Mais c’est pas fini. La blessure a tou- jours soif... Et vivre ça brûle. Ça refroidit pas sous la douche. De toute façon. De toute façon il n’y a plus d’eau. Le réservoir est vide. Plus d’eau douce. Plus d’eau qui coule toute seule. Plus d’eau potable. Plus d’eau facile pour conti- nuer. De toute façon faut changer l’eau. Virer le cumulus. Détruire. Faut détruire. T’as plus que détruire. Plus que ça à faire pour t’en sortir. Dé- passer les bornes. Tu dépasses. Tu demandes de l’eau forte... Plus forte. Tu demandes de l’eau pour ne pas mourir. Tu demandes de l’eau pour écrire... Tu demandes la mer.

A sede

Pedes água. Bebes, choras, lavas-te. Mas não chega. A ferida tem sempre sede … e viver isso arde. Tal não arrefece com o duche. De modo nenhum. De qualquer maneira já não há água. O reservatório está vazio. Mais água doce. Mais água que se desagrega a si mesma. Mais água fácil para continuar. Em qualquer caso é preciso mudar a água. Extraditar o cúmulo. Destruir. É preciso destruir. Só tens que destruir. Só isso para te libertares. Ultrapassar os limites. Tu ultrapassas. Exiges a água forte… Mais forte. Exiges água para não morreres. Exiges água para escreveres… Exiges o mar.