13 julho 2018

laura itzel domart


Condición de pez

La vida es un hospital en el que cada enfermo
está poseído por el deseo de cambiar de cama.
Charles Baudelaire

A esta sala la asisten las tumbas de hielo. Mi tía, por ejemplo, está en una de ellas. Recostada en su camastro de estación me mira como el pez de los supermercados, con esa tristeza enorme que cuelga de sus cuencas. La tomo de la mano, le acaricio el rostro para siempre enfermo. Pero ella no deja de mirarme, de enterrarme el tiempo que va dejando de ser. Con los ojos, le señalo la ventana porque morir viendo el día es la mejor manera de fingirse libre. Ella hace silencio, uno largo y ruidoso. Bien sabemos que aquí vinimos a concentrar la soledad del mundo.

Condição de peixe

A vida é um hospital em que cada doente
está possuído pelo desejo de mudar de cama.
Charles Baudelaire

Esta sala está assistida por túmulos de gelo. A minha tia, por exemplo, está numa delas. Recostada na sua enxerga de estada olha para mim como o peixe dos supermercados, com essa tristeza enorme que pendura nas suas cavidades. Pego-lhe na mão, acaricio-lhe o rosto para sempre doente. Mas ela não deixa de me olhar, de me cravar o tempo que vai deixando de ser. Com os olhos, indico-lhe a janela porque morrer a ver o dia é a melhor maneira de se fingir livre. Ela faz silêncio, longo e ruidoso. Sabemos bem que viemos aqui concentrar a solidão do mundo.
´

10 julho 2018

jimena jurado


III

Carta abierta

Cuando no me veas más,
pero me sepas al otro lado del campo,
entrampada de flores sospechosamente vivas,
laberinto de amapolas,
no me llames,
no cruces por las sierpes que abrieron las veredas,
no atiendas al silencio del sol desposeído
ni a la disposición de su rayo señalando mi refugio,
no busques mi respuesta ni en la lluvia,
ni en las hojas hundiéndose
en lo profundo del monte,
no confundas tu eco con mi voz.
No me reinventes.

Olvídame.

Que tus gestos no dibujen mi rostro
y tus ojos no figuren mis gestos,
fantasmas de otrora;
que tu mente no entreteja,
con la sonrisa de un émulo,
retratos ni memorias.

Cuando no me veas más
acepta mis leyes, las tuyas,
pero si acaso no me escuchas,
tan sólo escríbete
hasta borrarme.

Entonces,
imitaré el paciente atisbo de la estatua,
aprenderé a dormir bajo las lilas.

Habré dejado de buscarte también yo.


III

Carta aberta

Quando não me vires mais
mas me souberes do outro lado do campo,
armadilhada de flores, suspeitosamente vivas,
labirinto de papoilas,
não chames por mim,
não atravesses as serpentes que abriram as veredas,
não atendas ao sol despossuído
nem à disposição do seu raio assinalando o meu refúgio
não procures a minha resposta nem na chuva
nem nas folhas que se fundem
nas profundezas do monte,
não confundas o eco com a minha voz.
Não me reinventes.

Esquece-me.

Que os teus gestos não desenhem o meu rosto
e os teus olhos não figurem os meus gestos,
fantasmas de outrora;
que a tua mente não entreteça,
com o sorriso de um emulo,
retratos nem memórias.

Quando não me vires mais
aceita as minhas leis, as tuas,
escreve-te apenas
até me apagares.

Então,
imitarei o paciente vislumbre da estátua
aprenderei a dormir sob os lilases.

Terei, também eu, deixado de te procurar.



07 julho 2018

denise griffith


2
entierro un arco iris en el jardín
para que crezca en forma de flor
todos los días a las siete de la mañana vienen
los lagartos a comer fruta
una melodía brasilera se oye a lo lejos
todo vuelve a la naturaleza
dice el señor
y arroja una cáscara de maracuyá
hacia atrás
hacia las plantas
al mismo tiempo que un niño
se tira de un clavado hacia el mar

2
enterro um arco-íris no jardim
para que cresça em forma de flor
todos os dias às sete da manhã chegam
os lagartos para comer fruta
uma melodia brasileira ouve-se ao longe
tudo regressa à natureza
diz o senhor
e atira uma casca de maracujá
para trás
para as plantas
ao mesmo tempo que uma criança
mergulha de cabeça no mar
e ri da vida, do mundo e de tudo



04 julho 2018

luciana reif


La zafra

La vida durante la zafra
es una dulce y triste refracción del mundo.
Todo comienza en los cañaverales
donde hombres de lugares lejanos
desnudan el campo en un lento y precioso juguetear
con sus dedos, adultos y ásperos por el paso del tiempo
saben más que nadie como tratar a la caña,
hábiles para sacarle todos sus secretos, quedan
exhaustos después de cosecharla; el calor tucumano
se entrevera en forma de gotas que brotan de las manos
ajadas y dolidas de un peón que no ignora que ese fruto vital
concebido con sus fuerzas, será después de todo
azúcar que se derretirá en otra boca.
Peón golondrina conoce más que cualquiera el sabor
agridulce de la tierra, después de despojarla
-terminada la zafra- partirá a otros suelos
a cosechar amargos sabores.
¿Acaso no es ésta la verdadera tristeza,
la de un hombre que llega a abrazar la dulzura toda
y se desprende de ella sin apenas saborearla?

A safra

A vida durante a safra
é uma doce e triste refração do mundo.
Tudo começa nos canaviais
onde homens de lugares longínquos
despem o campo numa lenta e preciosa brincadeira
com os seus dedos, adultos e ásperos pelo passar do tempo
sabem melhor que ninguém como tratar a cana,
hábeis para lhes tirar todos os seus segredos, ficam
exaustos depois de a colher; o calor tucumano
insinuara-se em forma de gotas que brotam das mãos
esfoladas e doridas de um peão que não ignora que esse fruto vital
concebido com as suas forças, será depois totalmente
açúcar que noutra boca se derreterá.
Peão andorinha conhece melhor que os outros o sabor
agridoce da terra, depois de a despojar
- terminada a safra – partirá para outras terras
para colher amargos sabores.
Não será esta a verdadeira tristeza
de um homem que abraça toda a doçura
e dela se desprende sem sequer a saborear?


01 julho 2018

luciana jazmín coronado


Diálogo

—¿Qué hacés?
—Quiero entregar mi cuerpo.

—¿A quién?
—A un punto de la noche.

—¿Y pedirás deseos?
—No.

—Ahora estás estupefacta, sin cara.
—Tengo frío de mí.

—¿Y qué es lo que queda?
—Quedo yo
incorpórea
elemental como el vértigo.

—¿Y qué harás después?
—Seré otra cosa.

Diálogo

Que estás a fazer?
Quero entregar o meu corpo.

A quem?
A um ponto da noite.

Vais pedir um desejo?
Não.

Agora estás estupefacta, sem rosto.
Tenho frio de mim.

E o que fica?
Fico eu
incorpórea
elemental como a vertigem.

O que farás depois?
Serei outra coisa.

28 junho 2018

sigurbjörg thrastardóttir


frjóvgast


inni í mér
syndir fiskur
hvatlega í hringi og kitlar
skrýtið
að finna e-ð lifandi í sér

eflaust er þetta eldislax
hef reynt að gleypa mjöl
til að gleðj’ann
finnst samt étin í mér innyflin
eitt af öðru

veit hvorki
hvað ég er komin langt á leið
né hvað svona heitir
hjá öðrum
kannski óskhyggja kvíði
fullnæging

estar grávida

dentro de mim
nada um peixe
dá voltas e faz cócegas
estranho
sentir dentro uma coisa viva

sem dúvida é um peixe de viveiro
tratei de ingerir comida de peixes
para o deixar feliz
mas ainda sinto que as minhas entranhas são comidas
uma a seguir a outra.

não sei o que é isto
por mais longe que vá
ou como isto é chamado
pelos outros
talves desejo, ansiedade,
orgasmo



25 junho 2018

valentina colonna


A Stuart

Mi accorgo che in fondo
eri tu il solo capofamiglia.
Me ne accorgo dalla voce
che ancora mi esce quando
per scherzo invento parole
che non avresti mai dette.

Siamo troppo presi dalle nostre
vite in bilico per annusare l’aria
come facevi tu, alzando il capo
e il naso strizzarlo a cogliere
ciò che non sentiamo, che non
intravediamo. Tu vedevi
visionario oltre il balcone
e sfiorarti era calmare
lo sguardo che gli altri
dicono non hai.

In silenzio hai aspettato
l’ultimo calore del pavimento.
Poi hai atteso che chiudessi la porta
per lasciare di te un solo grumo
bianco sotto il letto.
E un’intera casa senza voce.

A Stuart

Apercebo-me que no fundo
eras tu a cabeça da família.
Apercebo-me pela voz
que ainda sai de mim quando
na brincadeira invento palavras
que nunca tinhas dito.

Estamos demasiado presos às nossas
vidas precárias para cheirar o ar
como costumavas fazer, levantando a cabeça
e apertando o teu próprio nariz para cheirar
o que nós não sentimos ou não
vemos. Tu viste,
visionário, mais além da varanda
onde te costumávamos pentear para acalmar
o olhar que os outros
dizem que não tens.

Esperaste em silêncio
o último calor do chão
Depois esperaste-me ao pé da porta
para deixares de ti apenas um branco
coágulo debaixo da cama
E uma casa inteira, sem vozes.


22 junho 2018

liliana campazzo


4

Al aire
la boca el corazón el cuerpo
toda
al aire
en la intemperie de su abismo
no dice su nombre
habla de otra cosa
al aire se pone la desnudez de escribir
cruza un río que no es el ganges ni el moldava
mojarse es un buen comienzo.

4

No ar
a boca o coração o corpo
toda
ao léu
na intempérie do seu abismo
não diz o seu nome
fala de outra coisa
no ar dispõe a nudez de escrever
cruza um rio que não é o ganges ou o moldava
molhar-se é um bom começo