28 junho 2018

sigurbjörg thrastardóttir


frjóvgast


inni í mér
syndir fiskur
hvatlega í hringi og kitlar
skrýtið
að finna e-ð lifandi í sér

eflaust er þetta eldislax
hef reynt að gleypa mjöl
til að gleðj’ann
finnst samt étin í mér innyflin
eitt af öðru

veit hvorki
hvað ég er komin langt á leið
né hvað svona heitir
hjá öðrum
kannski óskhyggja kvíði
fullnæging

estar grávida

dentro de mim
nada um peixe
dá voltas e faz cócegas
estranho
sentir dentro uma coisa viva

sem dúvida é um peixe de viveiro
tratei de ingerir comida de peixes
para o deixar feliz
mas ainda sinto que as minhas entranhas são comidas
uma a seguir a outra.

não sei o que é isto
por mais longe que vá
ou como isto é chamado
pelos outros
talves desejo, ansiedade,
orgasmo



25 junho 2018

valentina colonna


A Stuart

Mi accorgo che in fondo
eri tu il solo capofamiglia.
Me ne accorgo dalla voce
che ancora mi esce quando
per scherzo invento parole
che non avresti mai dette.

Siamo troppo presi dalle nostre
vite in bilico per annusare l’aria
come facevi tu, alzando il capo
e il naso strizzarlo a cogliere
ciò che non sentiamo, che non
intravediamo. Tu vedevi
visionario oltre il balcone
e sfiorarti era calmare
lo sguardo che gli altri
dicono non hai.

In silenzio hai aspettato
l’ultimo calore del pavimento.
Poi hai atteso che chiudessi la porta
per lasciare di te un solo grumo
bianco sotto il letto.
E un’intera casa senza voce.

A Stuart

Apercebo-me que no fundo
eras tu a cabeça da família.
Apercebo-me pela voz
que ainda sai de mim quando
na brincadeira invento palavras
que nunca tinhas dito.

Estamos demasiado presos às nossas
vidas precárias para cheirar o ar
como costumavas fazer, levantando a cabeça
e apertando o teu próprio nariz para cheirar
o que nós não sentimos ou não
vemos. Tu viste,
visionário, mais além da varanda
onde te costumávamos pentear para acalmar
o olhar que os outros
dizem que não tens.

Esperaste em silêncio
o último calor do chão
Depois esperaste-me ao pé da porta
para deixares de ti apenas um branco
coágulo debaixo da cama
E uma casa inteira, sem vozes.


22 junho 2018

liliana campazzo


4

Al aire
la boca el corazón el cuerpo
toda
al aire
en la intemperie de su abismo
no dice su nombre
habla de otra cosa
al aire se pone la desnudez de escribir
cruza un río que no es el ganges ni el moldava
mojarse es un buen comienzo.

4

No ar
a boca o coração o corpo
toda
ao léu
na intempérie do seu abismo
não diz o seu nome
fala de outra coisa
no ar dispõe a nudez de escrever
cruza um rio que não é o ganges ou o moldava
molhar-se é um bom começo



19 junho 2018

irizelma robles álvarez


Horchata

Secas por el centro
recogen a sus hijos en la falda
como granos de arroz
de sus pechos envanecidos sale
un hilo de leche sin espumar
agua de horchata
las crías se arrebolan en su pecho
en las sayas del hambre

Junco

Secas ao meio
recolhem os seus filhos no colo
como grãos de arroz
dos seus peitos vaidosos sai
um fio de leite sem espuma
água de junco
as crias enrubescem no seu peito
nas saias de fome


13 junho 2018

laura garcía del castaño


Cautiverio

Esta cueva es mi casa
esta lentitud y esta métrica
para caminar entre las cáscaras
es mi diálogo con el bosque
mi forma de no olvidar el regreso.
El sendero original estará lleno de maleza
Habrán levantado una fábrica, un templo
una antena provisoria
que baje el mundo a las alturas
Soy la bestia en un rectángulo
que podría ser la habitación de un hombre
donde entran él y su cama
y con suerte una silla
Dar el zarpazo a la mosca atraída
por la corpulenta pasividad y el encanto
de la antigua destreza
Pensar en ella como en el salmón
que se entrega manso
lejos del chorro
Pero es tan solo una mosca
disputándome el azúcar
que un niño nos arroja.
Llueve en esta jaula
comida por los hormigueros
El agua del hipopótamo se ha llenado de hojas
Una tortuga ha quedado suspendida
en un alto del cemento
Quien dice que los animales no sufren senilidad
extrañeza, estreñimiento?
Qué hace a este lugar distinto a un hospital
o a una cárcel?
Quien puede asegurar
que esa tortuga a la orilla del piletón
como ese viejo recostado en el arco del geriátrico
no esperan
a costa de ahogarse
la corriente milagrosa
que los devuelva al mar.


Cativeiro

Esta cova é a minha casa
esta lentidão e esta métrica
para caminhar entre as cascas
é o meu diálogo com o bosque
a minha forma de não esquecer o regresso.
O trilho original estará cheio de mato
Terão erguido uma fábrica, um templo
uma antena provisória
que desça o mundo às alturas
Sou a besta num retângulo
que podia ser o quarto de um homem
onde cabem ele e a sua cama
e com sorte uma cadeira
Esbofetear a mosca atraída
pela corpulenta passividade e o encanto
da antiga destreza
Pensar nela como no salmão
que se entrega manso
longe da corrente
Porém é apenas uma mosca
disputando o açúcar
que uma criança nos atira
Chove nesta jaula
comida pelos formigueiros
A água do hipopótamo encheu-se de folhas
Uma tartaruga ficou suspensa
no alto do cimento
Quem diz que os animais não sofrem de senilidade,
estranheza, prisão de ventre?
O que torna este lugar diferente de um hospital
ou de uma prisão?
Quem pode garantir
que esta tartaruga na margem da poça
como este velho reclinado no arco da geriatria
não esperam
às custas do afogamento
a corrente milagrosa
que os devolva ao mar.


10 junho 2018

nicole vera


Gracia

Sería bueno que me visitaras hoy
porque se está lavando el sabor de la lenteja
y mis historias gastándose.
Ayer por ejemplo llovió y las gotas estuvieron desafinadas,
flojas.
La lluvia es miserable en piloto automático.
Para llamarte preparé mi tina incompleta con aceite de tomillo y agua de naranja,
de soundtrack escogí rock y de compañía al perro
que me anda diciendo que le caigo mejor con vos.

Graça

Era bom que me viesses ver hoje
porque está-se a lavar o sabor da lentilha
e as minhas histórias estão a gastar-se.
Ontem por exemplo choveu e as gotas estavam desafinadas,
frouxas
A chuva é miserável em piloto automático.
Para te chamar preparei a minha banheira incompleta com azeite de tomilho e água de laranja,
de soundtrack escolhi rock e para companhia ao cão
que me anda a dizer que gosta mais de mim convosco.



07 junho 2018

albanella chávez turello


apuntes frente al espejo

supe de la neblina
y salí al mundo
Odette Alonso

mi nombre me fue dado como frontera.
mi cuerpo es una casa redonda y vacía de muebles en tránsito, pronta a devenir ceniza.
mi lengua fue, es y será el espacio incólume que ni la muerte ni el silencio ni el delirium tremens podrán rematar.
aquello que me saca de ser letra, marca, columna tachada o narrativa abstracta, es una forma larga y carnívora, que restriega su nariz húmeda en rojas palabras, como intuyendo mi tránsito al espacio inhabitable que distancia mi columna cóncava de mi respiración cortada.

Apontamentos perante o espelho

soube da neblina
e saí para o mundo
Odette Alonso

o meu nome foi-me dado como fronteira.
o meu corpo é uma casa redonda e vazia de móveis em trânsito, prestes a tornar-se cinza.
a minha língua foi, é e será o espaço incólume que nem a morte, nem o silêncio nem o delirium tremens conseguirão acabar.
aquilo que faz com que deixe de ser letra, marca, coluna riscada ou narrativa abstrata, é uma forma longa e carnívora que esfrega o seu nariz húmido em vermelhas palavras, como se intuísse o meu trânsito no espaço inabitável que distancia a minha coluna côncava da minha respiração cortada.



04 junho 2018

lily sánchez


Comensal

Una cuchara caliente
atraviesa los labios de una niña
una lengua se incendia
un comensal mira.
Todos somos
esperma moviendo la cabeza
en un océano mundano.

Comensal

Uma colher quente
atravessa os lábios de uma criança
incendeia-se uma língua
um comensal olha.
Todos somos
esperma a mover a cabeça
num oceano mundano



01 junho 2018

laura forchetti


8 Estándar

como un par de guantes deshechos
S. Plath

fuimos a ver el cadáver
en la playa
ese gran objeto azul
carne casi negro
que arrojó el mar
con un gesto de maestro
de ceremonias
su gran reverencia
a nuestros pies

el olor era el único pensamiento

imaginaba que quedaría ahí
para siempre
en la arena
no habría forma
de quitarla devolverla
tal vez cortar en trozos
la grasa
el cuero oscuro
los huesos cúbicos
los arcos perfectos
y el cráneo largo donde hubo
olfato mirada orientación

un extravío que el mar
bañaría en cada marea

pero no quedó nada
estuvo para nosotras
una sola tarde
bajo el sol

llegamos en excursión
por el entusiasmo de mi padre
de llevar a las nenas a ver
una ballena
de cerca

un cachalote –dijo

no me gustó esa palabra
me gustaba llamarla
ballena azul ballena
ondulaba alrededor de mi boca

la gente subía al cuerpo desnudo
lo recuerdo-
como si no hubiera estado
vivo

hubo que lavar las zapatillas después
también las nuestras
aunque no intentamos subir

toda la playa estaba llena
de su materia derramada
canales en la arena
que el mar no alcanzaba
a lavar

mi padre hacía fotografías
pero ninguna quería detenerse
posar frente a esa cosa
pudriéndose en medio de la
fiesta

nadie se daba cuenta
que ya no respiraba
su gran pulmón de flores
de agua
árboles de oxígeno brillante
vuelto una bolsa arrojada
en la orilla
secándose como una cáscara

el revuelo de las aves
hambrientas
en medio de las cabezas
de los hombres
como recién creadas para esa
avidez

¿qué vimos esa tarde?


8 Padrão

como um par de luvas desfeitas
S. Plath

fomos ver o cadáver
na praia
esse grande objeto azul
de carne quase preta
que lançou o mar
com um gesto de mestre
de cerimónias
sua grande reverência
a nossos pés

o cheiro era o único pensamento

julgava que ficaria aí
para sempre
na areia
não forma
de tirá-la de a devolver
talvez cortar em pedaços
a gordura
o couro escuro
os ossos cúbicos
os arcos perfeitos
e o crânio longo onde existiu
olfato olhar orientação

um extravio que o mar
banharia em cada maré

mas não ficou nada
esteve para nós
uma só tarde
sob o sol

chegamos em excursão
pelo entusiasmo do meu pai
em levar as meninas a ver
uma baleia
de perto

um cachalote –disse

não gostei dessa palavra
gostava de a chamar
baleia azul baleia
ondulava à volta da minha boca

as pessoas subiam ao corpo nu
lembro -
como se não estivesse estado
vivo

tivemos que lavar as sapatilhas depois
também as nossas
embora não tentássemos subir
toda a praia estava cheia
da sua matéria derramada
canais na areia
que o mar não conseguia
lavar

o meu pai tirava fotografias
mas nenhuma queria deter-se
posar diante dessa coisa
apodrecendo no meio da
festa

ninguém dava conta
que já não respirava
o seu grande pulmão de flores
de água
árvores de oxigénio brilhante
devolvido em saco lançado
na margem
secando-se como uma casca

a comoção dos pássaros
famintas
no meio das cabeças
dos homens
como recém-criadas para essa
avidez

que vimos nessa tarde?