26 dezembro 2017

esther pardo herrero

Pregunta I

Me pregunto
si al dolor
se le puede matar
de asfixia.

Pergunta I

pergunto-me
se a dor
pode ser morta
por asfixia


23 dezembro 2017

alba flores


Hueles a campo

Hueles a campo
dijiste
y con miedo pregunté
¿y oler a campo es bueno o malo?

¿pensaste en el estiércol o en las flores cuando me tocaste?
¿te pareció mi piel la dura piel de una vaca?
¿olía mi pelo a lluvia? ¿estaba oscuro y mojado como tierra oscura y mojada?
¿había arena bajo mis uñas?
¿te ortigué la mano sin pretenderlo? ¿fue mi caricia áspera?
¿era acaso mi cuerpo frío y escurridizo como las algas del río?
¿olía a rana o a hierbabuena? ¿a vertedero o a menta?
¿parecía que tuviera la boca llena de peces o de lana?
¿pensaste en mí como campo en verano o campo en invierno?
¿te parecieron mis ojos verdes, blancos o amarillos? ¿estaban secos o parecía que lloraban?
¿encontraste pajas en mi ropa de haberme revolcado por el suelo?
¿te diste cuenta de que ser campo me gustaba?

Cheiras a campo

Cheiras a campo
disseste
com medo perguntei
e cheirar a campo é bom ou mau?

Pensaste em estrume ou em flores quando me tocaste?
pareceu-te a minha pele a dura pele de uma vaca?
cheiravam os meus cabelos a chuva? ¿estavam escuros e molhados como terra escura e molhada?
havia areia nas minhas unhas?
urtiguei a tua mão sem querer? Foi áspera a minha carícia?
por acaso o meu corpo e escorregadiço como as algas do rio?
cheirava a rã ou a hortelã? a esgoto ou a menta?
parecia que tinha a boca cheia de peixes ou de lã?
Pensaste em mim como campo no verão ou campo no inverno?
os meus olhos pareceram-te verdes, brancos ou amarelos? estavam secos ou parecia que choravam?
encontraste palha na minha roupa por me ter rebolado no chão?
deste conta que gostava de ser campo?

19 dezembro 2017

itzíar lópez guil

Barreras

El mundo es cual es hoy ante tus ojos,
tan simple y tan oscuro como escuchas
en la corteza de las nubes,
en este corazón tardío, y tuyo.

Muy pronto perderás esta amplitud,
y todo empezará a ser estrecho,
preciso e invariable. Cada vez
menos.

Hasta que un día, de mañana,
la luz de hoy resurja, y te permita
ver de nuevo la extensa y misteriosa
esencia de la vida.

Barreiras

O mundo é o que é hoje ante os teus olhos
tão simples e escuro como escutas
na crosta das nuvens,
neste coração tardio e teu.

Depressa perderás esta amplitude
e tudo começará a ser estreito,
preciso e invariável. Cada vez
menos.

Até que um dia, de manhã,
a luz de hoje ressurja e te permita
ver de novo a extensa e misteriosa
essência da vida.

17 dezembro 2017

laura castillo

Mestizaje

Una mujer negra aproxima sus caderas
como si en su vientre recogiera un golpe de origen.
Observa el borde del camino,
con esos ojos que derrumban memoria,
con el letargo de su boca
mordiendo palabras como agujas del tiempo.
Basta ver su rostro para entender
que la luz situada en sus manos
poco a poco se adormece.
El viento lo sabe:
no hay lugar que cobije su historia
ni que sostenga tanto silencio amontonado.

Mestiçagem

Uma mulher negra aproxima as ancas
como se em seu ventre incorporasse um batimento de origem.
Observa a beira do caminho,
com esses olhos que derrubam a memória,
com a letargia da sua boca
mordendo palavras como agulhas do tempo.
Basta ver o seu rosto para compreender
que a luz situada nas suas mãos
pouco a pouco adormece.
O vento bem sabe:
não há lugar que cobice a sua história
nem que sustenha tanto silêncio amontoado.

milenka torrico

Oscilación

Mi mamá no me ama

se sienta frente al televisor
para llorar por otros
para dolerse de otros

si la culpa la alcanza
me da dinero

si la furia la alcanza
me abofetea

si la ansiedad la alcanza
se enamora de mi padre

si la lucidez la alcanza
se arrastra por la casa
buscando un lugar para colgarse.

Mi mamá no me ama
yo amo la lucidez de mi mamá.

Oscilação

A minha mãe não me ama

senta-se diante da televisão
a chorar pelos outros
a condoer-se com os outros

se a culpa a atinge
dá-me dinheiro

se a fúria toma conta dela
esbofeteia-me

se a ansiedade a toma
apaixona-se pelo meu pai

se a lucidez lhe entra
arrasta-se pela casa
procurando um lugar para se aninhar

A minha mãe não me ama
eu amo a lucidez da minha mãe.

16 dezembro 2017

fanny enrigue

El cielo de los mustangs

El cuerpo humano
no es más
que un globo de carne
y sangre o así
parecía
desde la ventana
cuando empezó la catástrofe.

Pensé
en medio del pánico
en el auto de lujo
que había visto esfumarse
de mi mente gracias a la meditación
budista.
Vi fugaz su brillo
allá abajo
junto a los cuerpos rotos.

Quise saltar por esa ventana
pero me detuve:
estaba
en el primer piso.

O céu dos mustangs

O corpo humano
mais não é
que um globo de carne
e sangue ou assim
parecia
da janela
quando começou a catástrofe.

Pensei
no meio do pânico
no carro de luxo
que vi esfumar-se
da minha mente graças à meditação
budista.
Vi fugaz o seu brilho
ali em baixo
ao pé dos corpos estilhaçados.

Quis saltar pela janela
mas detive-me:
estava
no primeiro andar.

14 dezembro 2017

volja hapeyeva

КАЛІ ТЫ дрэва
а вецер сышоў ад цябе

стаяць нерухома можна стагодзьдзямі

і што табе птушкі зь іх звонкімі песьнямі лета

калі ты дрэва
ад якога сышоў вецер

Se fores uma árvore
abandonada pelo vento
podes permanecer imóvel ao longo dos séculos
sem te importarem os pássaros com as suas melodiosas canções de verão
se fores
uma árvore
abandonada pelo vento

12 dezembro 2017

mary coryle

Besame

Bésame en la boca,
tentación sangrienta
que en el marfilino
color de mi tez
tu mirada aloca;
bésala, tuya es.
Toma y aprisiona
mis labios, retenlos
mucho, mucho tiempo
dentro de tu boca
y quede en la mía
la huella imprecisa
de tu beso eterno.
Ahoga mi risa
sofoca mi aliento
con tu dicha loca:
bésame en la boca.
Bésame en los senos:
armiño escondido
tras la caridad
leve del vestido:
inquietante dúo
de rosas gemelas;
dormidas palomas
en un mismo nido;
de esencia de vida
llenecitas pomas.
Mis senos ... mis senos ...
blancura encendida
con yemas de rosas.
Mis senos ...
ondulantes, plenos:
bésame en los senos


Beija-me

Beija-me na boca
tentação sangrenta
que na ebúrnea
cor da minha tez
o teu olhar enlouquece;
beija-a, é tua.
Toma e prende
os meus lábios, fica neles
muito, muito tempo
dentro da tua boca
e fique na minha
a marca imprecisa
do teu beijo eterno.
Afoga o meu riso
sufoca-me o fôlego
com o teu improviso louco:
beija-me na boca.
Beija-me nos seios:
arminho escondido
por trás da caridade
leve do vestido :
inquietante dueto
de rosas gémeas;
pombas adormecidas
no mesmo ninho;
da essência da vida
crescidinhas maçãs.
Os meus seios… os meus seios …
brancura acesa
com gomos de rosas.
Os meus seios…
ondulantes, plenos:
beija-me nos seios



10 dezembro 2017

sereine berlottier

3 janvier

On ouvre le cahier
à la dernière limite des forces du jour
et il fait nuit.

On ouvre le cahier comme si
c’était la toute dernière des tâches, la moins hésitante, la plus
bornée.
On se sent sale
de toutes les choses du jour.
On les porte encore
Elles s’interposent
On ne les quitte pas.

On ouvre le cahier
et le temps de faire un peu de silence
et d’avancer
les mèches de soucis qu’on a dans les yeux

On écoute
ce sont d’autres pas dans la rue qui traversent

Une musique ailleurs et le bruit d’un enfant plus tard

On colle l’oreille à ce ventre
comme si on cherchait pour de bon

si on a mal
on fait comme si
c’était une façon d’avoir une histoire encore

3 de janeiro

Abre-se o caderno
no derradeiro limite das forças do dia
e é noite.

Abre-se o caderno como se
fosse a última das tarefas, a menos hesitante, a mais
obstinada.
Sentimo-nos sujos
por todas as coisas do dia,
Ainda com elas andamos
Estão interpostas
Não as deixamos.

Abre-se o caderno
e o tempo de instaurar algum silêncio
e seguir
as mechas de angústias que levamos nos olhos

Escutamos
são outros passos na rua que atravessam

Uma música algures e o barulho de uma criança mais tarde

Colamos o ouvido a este ventre
como se procurássemos para sempre

se estamos mal
fazemos como se
fosse uma maneira de ainda ter uma história.

02 dezembro 2017

karin boye

Ingenstans

Jag är sjuk av gift. Jag är sjuk av en törst,
till vilken naturen icke skapade någon dryck.

Ur alla marker springer bäckar och källor.
Jag böjer mig ner och dricker ur jordens ådror
dess sakrament.

Och rymderna svämmar över av heliga floder.
Jag sträcker mig upp och känner läpparna våta
av vita exstaser.

Men ingenstans, ingenstans...

Jag är sjuk av gift. Jag är sjuk av en törst,
till vilken naturen icke skapade någon dryck.


Em nenhum lugar

Estou doente de um veneno. Estou doente de uma sede,
da natureza nenhum líquido que a tempere.

Da terra, fontes e arroios.

Inclino-me e bebo das veias da terra
o seu sacramento.

O espaço está inundado de rios sagrados.
Levanto-me e sinto os lábios banhados
de  arrebatamento branco.

Porém, em nenhum lugar, em nenhum lugar ...

Doente de um veneno. Doente de uma sede,
da natureza nenhum líquido que a tempere.



01 dezembro 2017

rosario murillo

Hombre, de qué nos sirven las noches

Hombre, de qué nos sirven las noches
si hemos abandonado el amor
solo a su propia suerte
mudo y arrinconado como una anciana guitarra
que dejó de cantar.
Para qué sirve la brisa, este amarillo que encendimos
los barquitos de papel sobre el estanque del parque
los chingorros brillantes que dejamos
sobre la misma pared donde claváramos, ilusionados,
los sueños.
De qué nos sirve este montón de esperanza entre las manos
a qué jugar con gotas de rocío que nos empapen el cuerpo
con tardes que nos enciendan el pelo
a qué, si hemos perdido la tierra
y la batalla.

Homem, para que nos servem as noites

Homem, para que nos servem as noites
se abandonámos o amor
à sua sorte
mudo e acantonado como uma velha guitarra
que deixou de tocar.
Para que serve a brisa, este amarelo que acendemos
os barquinhos de papel no lago do parque
os gorros brilhantes que deixamos
na mesma parede onde craváramos, iludidos,
os sonhos.
Para que nos serve este monte de esperança entre as mãos
para quê brincar com gotas de geada que nos empapam o corpo
com as tardes que nos acendem os cabelos
para quê, se perdemos a terra
e a batalha.