21 janeiro 2017

melina alexia varnavoglou

Molotov

Tu corazón, mi amor,
tu corazón,
está hecho de esa carne
que les queda pegada a las tortugas
en el caparazón
cuando explotan.


Molotov

O teu coração meu amor,
o teu coração,
é feito dessa carne
que fica colada nas tartarugas
na carapaça
quando explodem

18 janeiro 2017

chica desario

Estoy viendo por segunda vez lo que va a morir
La fiesta saqueada por un ejército de jóvenes que acuchillaron
las luces, arrancaron la música, rompieron los vasos.
Estacionaron sus motos en el jardín,
no queremos líos con ellos, sólo que nos lleven.
Van siempre juntos, si es con uno es con todos.
No dudé en entregarme,
quiero una cálida visión de las tinieblas,
una campera negra y el peso compacto de la supervivencia.


Estou a ver pela segunda vez o que vai morrer
A festa saqueada por um exército de jovens que esfaquearam
as luzes, trucidaram a música, espatifaram os copos.
Estacionaram as suas motos no jardim,
não queremos ter nada a haver com eles, apenas que nos levem.
Vão sempre juntos, se for com um vou com todos.
Não duvidei em entregar-me,
quero uma cálida visão das trevas,
um casaco preto e o peso compacto da sobrevivência.

17 janeiro 2017

cristina pavón burbano

Huérfana

A Georg Trakl

Padre,
La noche está herida, gime como un animal
Y las huestes del tiempo huelen mi miedo.
En la superficie oscura los cántaros se parten
Derramando la sangre de los pájaros.

En la aldea de la huérfana,
Los niños se marchitan ante la voz de un dios sodomita.

La niña viento
Busca dormir en los campos.
Oye cómo los ángeles lloran desplumando sus alas
En un sacrificio de amor.

Hay un lugar en tus ojos, padre,
Donde las lámparas de aceite alumbran,
Cubres con hojas de otoño mi desnudez
Y el agua se tiñe de luna

La huérfana danza en los negros arbustos
Que coronan tu frente.

Padre
Mi cuerpo rueda en el campo de rastrojos
Mientras la lluvia negra comienza a caer.*

Desde la tumba, padre,
La novia del viento nos cantará a los dos.

Padre,
Detrás de mí
Los dementes muertos hieden.
Asaltaré el bosque
Para buscar a la huérfana y a la hermana que perdiste.

Padre, lloverás siempre en mis ojos…

Llora la huérfana,
La huérfana
Es mi espejo

Padre, arroja mi cuerpo a las parcas
Para que tejan la nueva humanidad con mi carne.

*Referente a un verso del poema De Profundis de Georg Trakl.


Orfã

A Georg Trakl

Pai,
A noite está ferida, geme como um animal
E as hostes do tempo cheiram o meu medo.
Na superfície escura partem-se os cântaros
Derramando o sangue dos pássaros.

Na aldeia da órfã
As crianças murcham sob a voz de um deus sodomita.

A criança vento
Procura dormir nos campos.
Ouve como os anjos choram arrancando as suas asas
Em sacrifício de amor.

Há um lugar nos teus olhos, pau,
Onde as lamparinas de azeite alumiam,
Cobres com folhas de outono a minha nudez
E a água tinge-se de lua

A órfã dança nos negros arbustos
Que coroam a tua fronte.

Pai
O meu corpo roda no campo de restolhos
Enquanto a chuva negra começa a cair.*

Desde a tumba, pai,
A noiva do vento cantar-nos- á aos dois.

Pai,
Atrás de mim
Os dementes mortos fedem.
Assaltarei o bosque
Para procurar a órfã e a irmã que perdeste.

Pai, choverás sempre nos meus olhos…

Chora órfã,
A órfã
É o meu espelho

Pai, lança o meu corpo às parcas
Para que teçam a nova humanidade com a minha carne.


*Referente a um verso do poema De Profundis de Georg Trakl.



15 janeiro 2017

clery celeste

Il materasso è un varco scuro
le coperte porte allucinate
rimango sulla soglia, col piede appena
fuori dove tutto gela.
Se mi fai troppo tua mi scompongo
a che serve vedermi nuda
se mi hai vista già spezzata
per altri rami secchi e duri
come questi giorni prima di Natale.


O colchão é uma clareira escura
portas cobertas alucinadas
estaciono na ombreira, só com o pé
fora onde tudo gela.
Se te aproprias demasiado de mim desconstruo
de que serve estar vista nua
se já me viste estilhaçada
em outros ramos ramos secos e tesos
como nestes dias antes da consoada.

11 janeiro 2017

cristina pérez díaz

Pongo una hormiga en tu cuello
ya antes nos hemos hecho polvo.

El movimiento de sus patas
cortas y finitas
simula el cosquilleo de cuando
rozas con las puntas de tus dedos un conífero

como si las hojas fueran cuchillos
imposiblemente ligeros.

En este cuarto verde, la navidad será.


Ponho uma formiga no teu pescoço
já antes nos fizemos pó. hemos

O movimento da suas patas
curtas e finitas
simula a comichão de quando
roças com as pontas dos teus dedos uma araucária

como se as folhas fossem facas
impossivelmente leves.

Neste quarto verde, o natal será.

31 dezembro 2016

martha mega

lo nuestro
si es
será breve

todo lo bello es breve

no nuestros cuerpos
inabarcables
inacabables
corruptibles

pero los dos

juntos
seríamos una cosa breve
una criatura diminuta
bella de puro terror

un ramito de plumas frescas
un amasijo-regocijo de pétalos

lo nuestro
si es
será breve
casi mejor que no sea

lo bello me enfebrece
me encabrita

y juego a matar
el camino de hormigas
de mi pecho
y a arrancar las alas
de una en una
a todas las palabras dulces


nós
sim é
será breve

todo o belo é breve

não os nossos corpos
inabarcáveis
inacabáveis
corruptíveis

mas os dois

juntos
seríamos uma coisa breve
uma criatura diminuta
bela de puro terror

um raminho de penas frescas
uma mistura-regozijo de pétalas

nós
sim é
será breve
quase melhor que não seja

o belo enfebrece-me
transtorna-me

e brinco a matar
o caminho de formigas
do meu peito
e a arrancar as asas
uma a uma
a todas as palavras doces


29 dezembro 2016

elizabeth molver

Isabel de las cerezas

Basado en el poema de
Juan Gelman: “Cerezas”
y en los ojos de mi abuela

Porque vivía pensando
en los pies de los otros
que pisen blandito y seguro /
que no sientan hambre ni frío
tenía
cerezas en los ojos
dos cerezas brillantes que ilusionaban
olor
a cereza creciendo
con ramitas y todo

quien la miraba quedaba atrapado /
guardaba toda su vida en los ojos

su cuerpo
se disfrazaba de pequeñez
para no inquietar

con sus brazos
rodeaba la casa entera
desde la rosas del porche
hasta el limonero del patio /

—necesito tocar las arrugas de tu codo
para aliviarme /
prestarte mis piernas y que corras sola
adonde quieras ir /
que me retes cuando agarro el dulce
a cucharadas /
verte otra vez lavándote el pelo
pileta del patio jabón blanco
y tus manos haciendo el milagro /
tengo tu santo y no le doy perejil
¿será por eso que nadie consigue trabajo? /
¿cómo hacía el reloj para caminar a tu paso? /
¿por que siempre había una fruta preparada
para los chicos que pedían ?—

ahí andabas, Isabel,
poniendo alfombras para otros
curando heridas con tu mirada
secreteando

¡ay, Isabel siempre andabas !
masitas de crema
el mate a toda hora
cerezas en los ojos

Se me antojan ángeles que caminan por la avenida
a paso lento con arrugas como verdades
o apurados por llegar a ningún sitio
ángeles en bicicleta / en colectivo
un tren lleno de ángeles
ángeles enredados en sus enredos
en enredos ajenos
con cicatrices como única certeza
ángeles sin voz / sin oídos
sin ojos ni espejo donde mirarse
metidos en su mundo-solo
ángeles que buscan su día en una bolsa mugrienta
despojos de los otros
empujados a la nada sin nada
hartos de tanto no
ángeles sin cara de ángeles
alborotan / trastornan / molestan
gritan su silencio
nadie sabe que son ángeles


Isabel das cerejas

Baseado no poema de
Juan Gelman: “Cerezas”
e nos olhos da minha avó

Porque vivia a pensar
nos pés dos outros
que pisem de pelúcia e em segurança /
que não sintam fome nem frio
tinha
cerejas nos olhos
duas cerejas brilhantes que induziam
cheiro
a cereja crescendo
com ramos e tudo

quem a olhava ficava capturado /
guardava toda a sua vida nos olhos
o seu corpo
disfarçava-se de pequenez
para não inquietar
com os seus braços
rodeava a casa inteira
desde as rosas da varanda
até ao limoeiro do pátio /

— preciso de tocar as rugas do teu cotovelo
para me aliviar /
emprestar-te as minhas pernas para que corras sozinha
onde queiras ir /
que me desafies quando pego no doce
às colheradas /
ver-te outra vez a lavra o cabelo
bacia do pátio sabão branco
e as tuas mãos fazendo o milagre /
tenho o teu santo e não lhe dou salsa
será por isso que ninguém consegue trabalho? /
como fazia o relógio para te acompanhar? /
porque havia sempre una fruta preparada
para os rapazes que pediam ?—

por aí andavas, Isabel,
pondo tapetes para outros
curando feridas com o teu olhar
segredando

ah, Isabel sempre andavas !
tartes de creme
o chá a toda a hora
cerejas nos olhos

Parecem-me anjos que caminham pela avenida
em passo lento com rugas como verdades
ou obtidos por não chegarem a nenhum lado
anjos de bicicleta / em coletivo
um comboio cheio de anjos
anjos enredados nos seus enredos
em enredos alheios
com cicatrizes como única certeza
anjos sem voz / sem ouvidos
sem olhos nem espelho onde se verem
metidos no seu mundo só
anjos que procuram o seu dia numa bolsa imunda
despojos de outros
empurrados para o nada sem nada
fartos de tanto não
anjos sem cara de anjos
perturbam / transtornam / molestam
ninguém sabe que são anjos

21 dezembro 2016

maria mercè marçal

Qui em dicta les paraules quan et parlo?
Qui m’incrusta de gestos i ganyotes?
Qui parla i fa per mi? És la Impostora.
M’habitava sense que jo ho sabés
fins que vingueres. Llavors va sorgir
de no sé quines golfes, com una ombra,
i em posseeix com un amant tirànic
i em mou com el titella d’una fira.
I sovint, al mirall, la veig a Ella
rescatada de no sé quina cendra.
No li facis cap cas quan Ella et parla,
encara que m’usurpi veu i rostre.
I si et barra la porta de sortida
amb el seu cos amorós i brutal
cal que la matis sense cap recança.
Fes-ho per mi també i en el meu nom:
Jo la tinc massa endins i no sabria
aturar-me al llindar del suïcidi.


Quem me dita as palavras quando te falo?
Quem me incrusta gestos e trejeitos?
Quem age e fala por mim? É a impostora.
Habitava-me sem que eu o soubesse
até que vieste. Então apareceu
não sei de que sótão, como uma sombra,
e possui-me como um amante tirano
e manipula-me como a uma marioneta de feira.
E muitas vezes, no espelho, olho para Ela
resgatada de não sei quais cinzas.
Não lhe dês troco quando Ela te fala,
mesmo que me usurpe voz e rosto.
E se te impedir a saída pela porta
com o seu corpo amoroso e brutal
tens que a matar sem dó nem piedade.
Fá-lo por mim também e em meu nome:
Vive tão dentro de mim que não saberia
deter-me no dintel do suicídio.


14 dezembro 2016

carmen berenguer

Molusco

Concholepas concholepas.
Me sacaron de mi residencia acuosa
Lo hicieron con violencia, a tirones
brutalmente.
Concholepas concholepas
Estaban armados con cuchillos.
Luego procedieron a meterme
en un saco
¡Concholepas!
Me golpearon ("para ablandarme")
Me lavaron ("para limpiarme")
Entonces, golpeado, ultrajado, semiblando
y limpio
me colocaron en una olla con agua hirviendo
y sal.
Ahora estoy en la cocina
con mayonesa, cebolla y perejil.
Ahora estoy en la vitrina.
Ahora estoy en un cartel.

¡Me van a comer!


Molusco

Lapas, lapas.
Tiraram-me da minha residência aquosa
Com violência, em supetão
brutalmente.
Lapas, lapas.
Estavam armados com facas.
Depois resolveram meter-me
num saco
Lapas!
Agrediram-me ("para me amaciar”)
Lavaram-me ("para me limpar")
Então, agredido, ultrajado, agridoce
e limpo
puseram-me numa onda com água a ferver
e sal.
Agora estou na cozinha
con maionese, cebola e salsa.
Agora estou na montra.
Agora estou num cartel.

Vou ser comido!





11 dezembro 2016

vanessa martínez rivero



Limitó con todos los bailes en un gran salón de huesos frágiles.
Quiso decir: “haré una celda con ellos”
pero con un solo latido se hicieron polvo a su paso.

Quiso escuchar ángeles
y pensó en golondrinas que vio en su trayecto.
Las aves habían perdido las patas por dárselas a los peces
que ya perdían el mar.

No anidan en ningún espacio apocalíptico,
menos hubieran querido trinarle pues cuidaban su pico
que era una brújula desmemoriada.
Cuando el corazón se quedó solo
estaba sostenido de algunas vena
que ya se iban deshermanadas
y estratégicamente guardaban su objetivo final,
llegar al Corazón solo para devorarlo.
Un extraño temblor entró en el corazón solo, sin fe
se abrazó en arcadas,
las venas se debilitaron y soltaron al corazón.
Solo el polvo se disipó.
se contrajo consonantemente en una vocal de odio.
Explosionó.
Quedó un mar de sangre,
todos se juntaron
y bebieron de él.


Limitou com todas as danças num grande salão de ossos frágeis.
Quis dizer: “ Farei uma cela com eles”,
mas com apenas um latido tornaram-se pó à sua passagem.

Quis escutar anjos
e pensou nas andorinhas que viu no seu trajeto
As aves tinham perdido as patas para as dar aos peixes
que já se perdiam no mar.

Não fazem ninho em nenhum espaço apocalíptico,
menos ainda teriam querido trinar-lhe pois cuidavam do seu bico
que era uma bússola desmemoriada
Quando o coração ficou só
estava sustido por algumas veias
que já iam desirmanadas
e estrategicamente mantinham o seu objetivo final,
chegar ao Coração só para o devorar.
Um estranho tremor entrou no coração sozinho, sem fé
abraçou-se em arcadas,
as veias debilitaram-se e soltaram o coração.
Sozinho o pó dissipou-se.
Contraiu-se consonantemente numa vogal de ódio.
Explodiu.
Ficou um mar de sangue,
todos se juntaram
e beberam dele.

09 dezembro 2016

tania carrera


Nazco cada vez que me miro,
mi nombre se escribe con las líneas,
los rasgos.
Mi cara se aparece cada vez que me
nombro.
Se preñan uno a otro mis emblemas.

Tu vientre es la costa pulida.
Muéstramelo,
porque ya no recuerdo mi primera
cara
y me construyo recogiendo los
pedazos.


Nasço cada vez que me olho,
o meu nome escreve-se com as linhas
os traços.
A minha cara aparece cada vez que me
nomeio.
Emprenham-se um ao outro os meus emblemas.

O teu ventre é a costa polida.
Mostra-mo,
porque já não me lembro da minha primeira
cara
e construo-me recolhendo os
pedaços

07 dezembro 2016

sara uribe

No querían decirme nada.

Tadeo no aparece. No querían decirme nada.

Un vaso resbalando de una mano húmeda. Estrépito
de cristales. El nudo en el vientre. El nudo y la náusea.
El nudo. Pequeñas gotas de sangre fresca sobre
los mosaicos.

Un vaso roto ya no es un vaso. Eso pensé. Eso les
dije.

¿Qué es lo que murmuran? ¿Por qué todo lo deslizan
en voz baja? ¿Qué es lo que están deshaciendo? Te
estamos diciendo que Tadeo no aparece. Te estamos
diciendo que somos muchos los que hemos perdido
a alguien.


Não me queriam dizer nada.

Tadeu não aparece. Não me queriam dizer nada.

Um copo resvalando de uma mão húmida. Estrépito
de vidros. O nó no ventre. O nó e a náusea.
O nó. Pequenas gotas de sangue fresco sobre
os mosaicos.

Um copo partido já não é um copo. Foi o que pensei. Foi o
que lhes disse.

Que estão a murmurar? Porque deslizam tudo
em voz baixa? O que estão a desfazer? Estamos
a dizer-te que Tadeu não aparece. Estamos
a dizer-te que somos muitos os que perdemos
alguém.

03 dezembro 2016

marina serrano

Suicidio

Los zapatos acomodados en la orilla, la pollera oscura,
y el orden de las cosas mínimas,
no como celebración sino por costumbre.
Hunde sus arcos en la pulpa tibia blanda y turbia,
el descanso de la carne es su entrega
a las mordidas de cangrejos que trepan hacia la matriz
por aductores que no tardarán en volverse escarcha.
Otros animales aguardan esa escarcha,
el fin del movimiento, el beneficio de lo que cicla
y se deshace.
Nadie sale del río como ha entrado,
aunque haya entrado muerto.


Suicidio

Os sapatos arrumados em baixo, a saia escura,
a ordem das coisas mínimas,
não como celebração mas como hábito.
Afunda os seus arcos na polpa tíbia branda e turva,
o descanso da carne é a sua entrega
às mordeduras de caranguejos que trepam até à matriz
pelos adutores que não tardarão a tornar-se geada.
Outros animais aguardam essa geada,
o fim do movimento, o benefício da ciclagem
do desfeito.
Ninguém sai do rio como entrou,
mesmo que tenha entrado morto.