14 dezembro 2016

carmen berenguer

Molusco

Concholepas concholepas.
Me sacaron de mi residencia acuosa
Lo hicieron con violencia, a tirones
brutalmente.
Concholepas concholepas
Estaban armados con cuchillos.
Luego procedieron a meterme
en un saco
¡Concholepas!
Me golpearon ("para ablandarme")
Me lavaron ("para limpiarme")
Entonces, golpeado, ultrajado, semiblando
y limpio
me colocaron en una olla con agua hirviendo
y sal.
Ahora estoy en la cocina
con mayonesa, cebolla y perejil.
Ahora estoy en la vitrina.
Ahora estoy en un cartel.

¡Me van a comer!


Molusco

Lapas, lapas.
Tiraram-me da minha residência aquosa
Com violência, em supetão
brutalmente.
Lapas, lapas.
Estavam armados com facas.
Depois resolveram meter-me
num saco
Lapas!
Agrediram-me ("para me amaciar”)
Lavaram-me ("para me limpar")
Então, agredido, ultrajado, agridoce
e limpo
puseram-me numa onda com água a ferver
e sal.
Agora estou na cozinha
con maionese, cebola e salsa.
Agora estou na montra.
Agora estou num cartel.

Vou ser comido!





11 dezembro 2016

vanessa martínez rivero



Limitó con todos los bailes en un gran salón de huesos frágiles.
Quiso decir: “haré una celda con ellos”
pero con un solo latido se hicieron polvo a su paso.

Quiso escuchar ángeles
y pensó en golondrinas que vio en su trayecto.
Las aves habían perdido las patas por dárselas a los peces
que ya perdían el mar.

No anidan en ningún espacio apocalíptico,
menos hubieran querido trinarle pues cuidaban su pico
que era una brújula desmemoriada.
Cuando el corazón se quedó solo
estaba sostenido de algunas vena
que ya se iban deshermanadas
y estratégicamente guardaban su objetivo final,
llegar al Corazón solo para devorarlo.
Un extraño temblor entró en el corazón solo, sin fe
se abrazó en arcadas,
las venas se debilitaron y soltaron al corazón.
Solo el polvo se disipó.
se contrajo consonantemente en una vocal de odio.
Explosionó.
Quedó un mar de sangre,
todos se juntaron
y bebieron de él.


Limitou com todas as danças num grande salão de ossos frágeis.
Quis dizer: “ Farei uma cela com eles”,
mas com apenas um latido tornaram-se pó à sua passagem.

Quis escutar anjos
e pensou nas andorinhas que viu no seu trajeto
As aves tinham perdido as patas para as dar aos peixes
que já se perdiam no mar.

Não fazem ninho em nenhum espaço apocalíptico,
menos ainda teriam querido trinar-lhe pois cuidavam do seu bico
que era uma bússola desmemoriada
Quando o coração ficou só
estava sustido por algumas veias
que já iam desirmanadas
e estrategicamente mantinham o seu objetivo final,
chegar ao Coração só para o devorar.
Um estranho tremor entrou no coração sozinho, sem fé
abraçou-se em arcadas,
as veias debilitaram-se e soltaram o coração.
Sozinho o pó dissipou-se.
Contraiu-se consonantemente numa vogal de ódio.
Explodiu.
Ficou um mar de sangue,
todos se juntaram
e beberam dele.

09 dezembro 2016

tania carrera


Nazco cada vez que me miro,
mi nombre se escribe con las líneas,
los rasgos.
Mi cara se aparece cada vez que me
nombro.
Se preñan uno a otro mis emblemas.

Tu vientre es la costa pulida.
Muéstramelo,
porque ya no recuerdo mi primera
cara
y me construyo recogiendo los
pedazos.


Nasço cada vez que me olho,
o meu nome escreve-se com as linhas
os traços.
A minha cara aparece cada vez que me
nomeio.
Emprenham-se um ao outro os meus emblemas.

O teu ventre é a costa polida.
Mostra-mo,
porque já não me lembro da minha primeira
cara
e construo-me recolhendo os
pedaços

07 dezembro 2016

sara uribe

No querían decirme nada.

Tadeo no aparece. No querían decirme nada.

Un vaso resbalando de una mano húmeda. Estrépito
de cristales. El nudo en el vientre. El nudo y la náusea.
El nudo. Pequeñas gotas de sangre fresca sobre
los mosaicos.

Un vaso roto ya no es un vaso. Eso pensé. Eso les
dije.

¿Qué es lo que murmuran? ¿Por qué todo lo deslizan
en voz baja? ¿Qué es lo que están deshaciendo? Te
estamos diciendo que Tadeo no aparece. Te estamos
diciendo que somos muchos los que hemos perdido
a alguien.


Não me queriam dizer nada.

Tadeu não aparece. Não me queriam dizer nada.

Um copo resvalando de uma mão húmida. Estrépito
de vidros. O nó no ventre. O nó e a náusea.
O nó. Pequenas gotas de sangue fresco sobre
os mosaicos.

Um copo partido já não é um copo. Foi o que pensei. Foi o
que lhes disse.

Que estão a murmurar? Porque deslizam tudo
em voz baixa? O que estão a desfazer? Estamos
a dizer-te que Tadeu não aparece. Estamos
a dizer-te que somos muitos os que perdemos
alguém.

03 dezembro 2016

marina serrano

Suicidio

Los zapatos acomodados en la orilla, la pollera oscura,
y el orden de las cosas mínimas,
no como celebración sino por costumbre.
Hunde sus arcos en la pulpa tibia blanda y turbia,
el descanso de la carne es su entrega
a las mordidas de cangrejos que trepan hacia la matriz
por aductores que no tardarán en volverse escarcha.
Otros animales aguardan esa escarcha,
el fin del movimiento, el beneficio de lo que cicla
y se deshace.
Nadie sale del río como ha entrado,
aunque haya entrado muerto.


Suicidio

Os sapatos arrumados em baixo, a saia escura,
a ordem das coisas mínimas,
não como celebração mas como hábito.
Afunda os seus arcos na polpa tíbia branda e turva,
o descanso da carne é a sua entrega
às mordeduras de caranguejos que trepam até à matriz
pelos adutores que não tardarão a tornar-se geada.
Outros animais aguardam essa geada,
o fim do movimento, o benefício da ciclagem
do desfeito.
Ninguém sai do rio como entrou,
mesmo que tenha entrado morto.


02 dezembro 2016

andrea lópez kosak


Papá echó raíces no había suelo
apenas espacio para las sombras
un crujido al ajustarnos
en otoño
pálidos nos confundimos
cuando se cerró la puerta
La herida
tiene que tomar aire, dijeron
los demás
espiábamos por un hueco
en la pared las manchas.




O paizinho lançou raízes não havia solo
apenas espaço para as sombras
um estalo para nos ajustarmos
no outono
pálidos nos confundimos
quando se fechou a porta
A ferida
tem que apanhar ar, disseram
os outros
espiávamos por uma fenda
da parede as manchas.

01 dezembro 2016

ana blandiana


Eu cred

Eu cred că suntem un popor vegetal,

De unde altfel liniştea

În care aşteptăm desfrunzirea?

De unde curajul

De-a ne da drumul pe toboganul somnului

Până aproape de moarte,

Cu siguranţa

Că vom mai fi în stare să ne naştem

Din nou?

Eu cred că suntem un popor vegetal-

Cine-a văzut vreodată

Un copac revoltându-se?


Eu creio

Creio que somos um povo vegetal

se fosse doutro modo, como alcandoraríamos à dolência

de estar à espera de sermos desfolhados?

Onde estaria a coragem

para iniciar o deslize num tobogan de sonhos

tão à beira morte,

com a certeza de podermos

nascer outra vez?

Creio que somos um povo vegetal

Quem já viu

uma árvore a revoltar-se?




Patria neliniştii


Aici este patria neliniştii,
Gata să se răzgândească
Din clipă în clipă
Şi, totuşi, nerenunţând să aştepte
Ceva nedefinit.
Aici este patria,
Între pereţii aceştia
La câţiva metri unul de altul,
Şi nici măcar în spaţiul întreg dintre ei,
Ci doar pe masa cu hârtii şi creioane
Gata să se ridice singure şi să scrie,
Schelete brusc animate ale unor condeie mai vechi
Nefolosite de mult, cu pasta uscată,
Lunecând pe hârtie frenetic
Fără să lase vreo urmă...
Aici este patria neliniştii:
Voi reuşi vreodată
Să descifrez urmele care nu se văd,
Dar eu ştiu că există şi aşteaptă
Să le trec pe curat
În patria mea A4 ?


A pátria do desassossego

Esta é a pátria do desassossego
Prestes a mudar de opinião
De um momento para o outro.
E, no entanto, sem renunciar a esperar algo indefinido.
Esta é a minha pátria
Entre estas paredes
A uns metros uns dos outros
E nem mesmo no espaço completo entre eles,
Só na mesa com papel e lápis
Dispostos a mexerem-se sozinhos e começarem a escrever,
Esqueletos animados bruscamente por
umas penas mais antigas,
Não usadas há muito tempo, com a tinta seca,
Que deslizam freneticamente sobre o papel
Sem deixar qualquer vestígio…
Esta é a pátria do desassossego
Conseguirei alguma vez
decifrar os vestígios que não se veem,
mas que sei que existem e que esperam
Que as passe a limpo
Na minha pátria A4?

30 novembro 2016

vanna andreini

Me impresiona mirar la sangre
que sube por la jeringa
me inmovilizo
dentro de la plaqueta de vidrio
que se colorea
mientras recupero la fuerza
por mirar

me impresiona cruzar puentes
no se mantener la vista fija
en la otra orilla
demasiado lejos
siempre demasiado lejos
y voy hipnotizada hacia
el borde
con la firme convicción
de que nada ni nadie podrá
evitar mi caída

con cada puente
reaparece
recurrente y demarcada
la pesadilla aquella
el auto de mi madre
una Dyane naranja
mi hermana y yo
sentadas atrás
veíamos pasar el paisaje sin saber
cómo detener el auto que
caía hacia el río
especularmente
adentro y afuera

no sé cruzar puentes
de ningún tipo
cruzar del italiano al español
fue entonces, a los 15, sentir el abismo
atraerme hacia sí
quedarse sólo con las miradas
mudas de una escena infinita

pasar hoy de uno a otro
es como nadar
y enfrentar la corriente
se puede estar entrenado
se puede conocer el río, los vientos
se puede sentir hasta cierto placer
al desvestirse para sumergirse
pero la llegada al otro lado
pone en riesgo mi cuerpo
que despacio
de vez en vez
se despoja de todo movimiento estético
para asirse a lo necesario
dar brazadas efectivas y resistir
y en la otra orilla
la confusión de un cuerpo cansado
la angustia de la recién llegada
siempre siempre recién llegada
de un lado y del otro
del curso del río.


Impressiona-me olhar o sangue
que sobe pela seringa
imobilizo-me
dentro da peça de vidro
que se colora
enquanto recupero a força
por olhar

Impressiona-me atravessar pontes
não manter a vista fixa
na outra margem
demasiado longe
sempre demasiado longe
e vou hipnotizada até à margem
com a firme convicção
de que nada nem ninguém poderá
evitar a minha queda

com cada ponte
reaparece
recorrente e demarcada
o pesadelo em que
o carro da minha mãe
uma Diane laranja
a minha irmã e eu
víamos passar a paisagem sem saber
como parar o carro que
caía para o rio
especularmente
dentro e fora

não sei atravessar pontes
de nenhum tipo
atravessar do italiano ao espanhol
foi então, aos 15, sentir o abismo
atrair-me para si
ficar apenas com os olhares
mudos de uma cena infinita

passar hoje de uma à outra
é como nadar
e enfrentar a corrente
pode estar-se treinado
pode conhecer-se o rio, os ventos
pode sentir-se até um certo prazer
em despir-se para submergir
mas a chegada ao outro lado
põe em risco o meu corpo
que devagar
uma vez por outra
se despoja de todo o movimento estético
para se agarrar ao necessário
dar braçadas efectivas e resistir
e na outra margem
a confusão de um corpo cansado
a angústia da recém chegada
sempre sempre recém chegada
de um lado e do outro
do curso do rio.

16 novembro 2016

adeline baldacchino


Tableau n°2 / Sisyphe
(« …aveugle qui désire voir et qui sait que la nuit n'a pas de fin, il est toujours en marche » - Camus)

Elle est épuisée, lasse de tant d’indignations, misère, effroi
sans regards jetés sur elle, n’avance plus, ne renonce pas
juste sauvage,
désunie d’elle-même,
féroce et qui n’attend rien pourtant
ne veut que porter ce caillou, qui retombe
le rocher roule encore.


Quadro n°2 / Sísifo
(« …cego que quer ver e sabe que a noite não acaba, está sempre em estando” - Camus)

Está esgotada, cansada por tanta indignação, miséria, medo
desvisualizada já não segue, não renuncia
apenas selvagem
divorciada de si mesma,
feroz sem esperar nada embora
nada mais quer senão trazer a preciosa pedra que redunda
o penhasco ainda a rolar



15 novembro 2016

beatriz russo

Entre la mujer y la primera niña hay un espacio de arena y vidrio. Gira el tiempo en su moción irreverente como un diábolo de esquirlas. Me incomoda su simetría. La nebulosa se origina cuando agito la tempestad que hay en mi mano. Entonces se enturbia el agua en su esfera de luz. Copos de tinta negra flotando como cadáveres tempranos. Son los insectos oscuros de la fiebre. Chocan contra la membrana del tránsito entre relojes. Van dejando sus vísceras sobre el parabrisas de un llanto. Llueve o lloro. Es lo mismo. La nada no tiene sangre, tan solo permanece en su canto.


Entre a mulher e a primeira menina há um espaço de areia e vidro. Roda o tempo na sua moção irreverente como um diábolo de estilhaços. Incomoda-me a sua simetria. A nebulosa origina-se quando agito a tempestade que há na minha mão. É quando se turva a água em sua esfera de luz. Flocos de tinta negra flutuando como cadáveres prematuros. São os insetos escuros da febre. Chocam contra a membrana do trânsito entre relógios. Vão deixando as suas vísceras sobre o para-brisas de um pranto. Chove ou choro. É o mesmo. O nada não tem sangue, apenas permanece no seu canto.

12 novembro 2016

rosa berbel

Poética del miedo

Deseo que este miedo no desaparezca
que conste férreo en todos
y en cada uno de los poemas que escriba
como una talla lenta
como un secreto apresurado

yo
deseo en toda mi generosidad y en mi palidez
desde las ruinas enfermas y desde el éxtasis
deseo
que el miedo se convierta en mi epitafio:

tengo miedo
soy un animal del miedo
soy incluso una bestia del miedo y beso
en mi inocencia
cientos de flores diminutas
decenas de cuerpos anónimos
y grito que este es mi jardín
que ahora este de aquí
es mi terror aséptico así
un miedo casi blanco casi transparente
casi hueco
un miedo casi adulto me nace del estómago
y me miente.


Poética do medo

Desejo que este medo não desapareça
que conste férreo em todos
e cada um dos poemas que escrever
como uma talha lenta
como um secreto apressurado

eu
desejo em toda a minha generosidade e palidez
a partir das ruínas enfermas e do êxtase
desejo
que o medo se converta no meu epitáfio:

tenho medo
sou um animal do medo
sou mesmo uma besta do medo e beijo
em minha inocência
centenas de flores diminutas
dezenas de corpos anónimos
e grito que este é o meu jardim
que agora o que está aqui
é o meu terror asséptico assim
um medo quase branco quase transparente
quase oco
um medo quase adulto nasce-me do estômago
e mente-me.

05 novembro 2016

leire bilbao

LABADORA

Zu hil zinen egunean labadora bat erosi nuen.
Atexka zabaltzean
oinak busti zitzaizkidan,
ezustean harrapatu ninduen urak.
Erreka urdinak ditut bularrean, badakizu,
itsasoak gainezka egiten dit ahotik.
Labadoraren eskotillatik itsasoari begira izan zen,
bat-batean xaboi eta trapu artean
olatuak eraman zintuela jakin nuen,
garbigailu barrura atzamarrak sartu
eta zure bila aritu nintzen alferrik.
Ahotik egin nuen negar
belarrietatik zilborretik
eskuetatik azaletik,
eta orain hildako ibaiak ditut zainetan,
eta labadora berri bat.


Máquina de lavar

No dia em que morreste comprei uma máquina de lavar.
Ao abrir a comporta
fiquei com os pés empapados,
a água apanhou-me de surpresa.
Bem sabes, rios azuis percorrem-me o peito
e o mar supura pela minha boca.
Foi nessa vez, olhando pela escotilha da máquina
para o mar, entre o sabão e os trapos sujos
que soube que uma onda te arrastou,
meti as mãos imediatamente na água ensaboada
procurando-te em vão entre a roupa
Chorei, pela boca, pelas orelhas,
pelas mãos, pela pele,
e agora tenho rios mortos sulcando as minhas veias,
e uma máquina de lavar nova

30 outubro 2016

nurit kasztelan

La molienda

Lo único que quiero
es provocar
un estado de tensión
en el que las cosas se rompan
y no haya ruido.

Funciono como las plantas,
si aspiro demasiado
me ahogo.

En Méjico me contaron
de una mujer
a medida que molía el maíz,
su brazo iba desapareciendo.

Soy como esa mujer
que se muele a sí misma
me escribo
y desaparezco.


A moagem

A única coisa que quero
é provocar
um estado de tensão
onde as coisas se quebram
sem haver ruído.

Funciono como as plantas,
se aspiro demasiado
afogo-me.

No México contaram-me
sobre uma mulher
à medida que moía o milho
o seu braço ia desapareciendo.

Estou como essa mulher
que a si mesma se mói
escrevo-me
e desapareço.



28 outubro 2016

lissette vera

REVOLVER

El revolver está dentro como un estornudo
que se avienta apenas llega el estruendo.
Pasa como una enturbiada sopa por el nudo de la garganta
me detiene invalida como una cruz de misa
y como una isla se detiene en mi mar.
El revolver aquieta la estación de invierno
para mantenerme en su gélido cuerpo,
entra por algún perdigón que he dejado escapar
y por algún silencio me escucha llorar.

El revolver no te va hacer volver
como cuando jugábamos a ser animales,
yo disparaba un trazo en medio de este apagón,
tú tiernamente te hacías el más blanco,
el más manso, el más muerto.

Estoy como siempre, siendo tú, siendo yo,
siendo cualquiera que se me pega como una migraña
en estas tardes de poco seso y poco sol,
que eliges desteñirte en mi calor
que prefieres mis caricias, mis gestos
mi materia en cualquier desquicio
mi reventar en cualquier rincón.

Estoy destejiendo, cercenando, esfumando,
enterrándome como un pequeño gusano
sin dejar rastro de esta melancolía
que solo se desinfecta si llega el sol a mi ventana.


REVÓLVER

O revólver está dentro como um espirro
que se aventa mal chega o estrondo.
Passa como uma turva sopa pelo nó da garganta
pára-me inválida como uma cruz de missa
e como uma ilha detém-se em meu mar.

O revólver aquieta a estação de inverno
para me manter em seu gélido corpo,
entra por algum perdigoto que deixei escapar
e por algum silêncio ouve-me a chorar.
O revólver não te vai fazer voltar
como quando brincávamos aos animais,
eu disparava um traço no meio deste apagão,
ternamente tu fingias ser o mais branco,
o mais manso, o mais morto.

Estou como sempre, sendo tu, sendo eu,
sendo qualquer um que se me pega como uma enxaqueca
nestas tardes de pouco siso e pouco sol,
que escolhes destingir no meu calor
que preferes as minhas carícias, os meus gestos
a minha matéria em qualquer transtorno
o meu rebentar em qualquer canto.

Estou a desmanchar, esburacando, esfumando
enterrando-me como um pequeno verme
sem deixar rasto desta melancolia
que só se desinfeta se o sol chegar à minha janela.