03 dezembro 2021

paula meehan

 

Child burial


Your coffin looked unreal,

fancy as a wedding cake.


I chose your grave clothes with care,

your favourite stripey shirt,


your blue cotton trousers.

They smelt of woodsmoke, of October,


your own smell there too.

I chose a gansy of handspun wool,


warm and fleecy for you. It is

so cold down in the dark.


No light can reach you and teach you

the paths of wild birds,


the names of the flowers,

the fishes, the creatures.


Ignorant you must remain

of the sun and its work,


my lamb, my calf, my eaglet,

my cub, my kid, my nestling,


my suckling, my colt. I would spin

time back, take you again


within my womb, your amniotic lair,

and further spin you back


through nine waxing months

to the split seeding moment


you chose to be made flesh,

word within me.


I’d cancel the love feast

the hot night of your making.


I would travel alone

to a quiet mossy place,


you would spill from me into the earth

drop by bright red drop




Enterro de uma criança


O teu caixão parecia irreal,

elegante como um bolo de casamento.


Escolhi com cuidado a roupa do teu enterro,

a tua camisa às riscas favorita,


as tuas calças de algodão azul.

Cheiravam a fumo de madeira, a Outubro,


também tinham o teu próprio cheiro.

Escolhi uma camisola de lã feita à mão,


tépida e cardada para ti. Está

tanto frio aí na escuridão.


Não entra nenhuma luz que te mostre

os caminhos das aves silvestres


os nomes das flores,

os peixes, as criaturas.


Continuarás ignorante

do sol e dos seus trabalhos,


meu cordeiro, minha vitela, minha aguieta,

meu cãozinho, meu cabrito, meu pintainho,


meu lactante, meu potro. Faria girar

o tempo para trás, colocar-te-ia de novo


dentro do meu ventre, tua guarida amniótica,

para te fazer girar ainda mais para trás


através de nove meses de crescimento

até ao momento da tua semeadura


quando escolheste tornar-te carne,

palavra dentro de mim.


Cancelaria o banquete de amor,

a ardente noite da tua conceção.


Viajaria sozinha

para um lugar silente e musgoso


derramar-te-ias de mim para a terra

gota a gota brilhante e vermelha.


01 dezembro 2021

zoila capristán

 

A mi perro

Sospecha que soy la puta de Caylloma
una hora antes
cien falos expiraron en mi pubis
imagina que todos los hombres se complacieron entremispiernas
y gocé orgasmos con las mestizas, las blancas y las negras

“Apresúrate, tocan la puerta”
la cola es larga, y el papel higiénico caro
otro hombre con urgencias de mono
jadeante como perro
deambula su mirada al compás del chirriante vaivén de la portezuela
-como tú -
que recorres con esa lengua versada
el botón rojo que palpita yuxtapuesto al tatuaje

Me nace el talento de la puta de Caylloma
en Lima hace frío pero la putería lo calienta todo
el lunar de mi pecho contabiliza los minutos
que circulan como cuerdas
en la habitación de paredes de papel
hay un hombre y otra mujer que gimen
buscamos un agujero donde filmar
a la salivada Eva engarzada al macho.

Y sin dolo, como diría el juez
que se abanica con billetes coimeros en el Parque Universitario
terminamos sentados en la última banca de La Merced
agradecemos por volver a ondear los faroles de Quilca
de paso prometo ya no sentir cosquilleos en el capullo
-que presiono para amordazarlo-
“Padre nuestro que estás en mi cielo...”
el murmura “puta”
incrusto mi lengua en el orificio de su oído y le susurro “perro”

Mientras la virgen nos sonríe.



Ao meu cão

Suspeita que sou a puta de Caylloma
uma hora antes
cem falos expiraram no meu púbis
imagina que todos os homens se deleitaram entreasminhaspernas
e que tive orgasmos com as mestiças, as brancas e as negras

"Despacha-te, estão a bater à porta"
A cauda é longa, e o papel higiénico é caro
outro homem com emergência de macaco
ofegante como um cão
deambula o seu olhar ao compasso do chirriante vaivém da portinhola
-como tu-
que percorres com essa língua de perito
o botão vermelho que palpita justaposto à tatuagem

Nasce em mim o talento da puta de Caylloma
em Lima faz frio mas a putaria aquece tudo
o sinal do meu peito contabiliza os minutos
que circulam como cordas
no quarto com papel de parede
há um homem e outra mulher que gemem
procuramos um buraco onde filmar
babosamente Eva encaixada no macho.

E sem dolo, como diria o juiz
que se abanica com notas de coimas no Parque Universitário
acabamos sentados no último banco de La Merced
agradecemos por voltar a tremeluzir as lanternas de Quilca
de passagem prometo já não sentir cócegas no casulo
-que pressiono para o amordaçar
Pai nosso que estás no meu céu...”
ele murmura “puta”
enfio a minha língua no orifício do seu ouvido e sussurro-lhe "cão"

Enquanto a virgem sorri para nós.


29 novembro 2021

marianna espezúa

 

Balada de la gata melancólica


I

Mi madre me dijo que vio a mi hermana muerta entrar en su vientre

5 horas antes de que nazca.

Nací feminista, puta y felina.


Para los 13 años empecé a ser feliz

hasta que aprendí a soñar.

Renuncié a los colores convencionales

para crear un nuevo tono

similar a un maullido pero con piernas para huir

temprano

antes del desayuno.


Mi madre me dijo

“al que tiene manos nada le falta”.

Y a mí me falta un pedazo

de algo

no alguien

de algo

que me ayude a manifestar la inconformidad de mi ser


Diría: Perdón por ser feminista y puta, mamá.

Pero nos están matando

dicen que la corona de espinas es una tiara de adelfas

dicen que estoy loca y sola

y no,

solo soy una más en este aquelarre.



Balada da gata melancólica


I

A minha mãe disse-me que viu a minha irmã morta entrar em seu ventre

5 horas antes de nascer.

Nasci feminista, maldita e felina.


Por volta dos 13 anos comecei a ser feliz

até que aprendi a sonhar.

Renunciei às cores convencionais

para criar uma nova tonalidade

semelhante a um miado, mas com pernas para fugir

cedo

antes do pequeno-almoço.


A minha mãe disse-me

ao que tem mãos, nada lhe falta”

E a mim falta-me um pedaço

de algo

não de alguém

de algo

que me ajude a manifestar a inconformidade do meu ser


Diria: Desculpa por ser feminista e puta, mãe.

Mas estão a matar-nos

dizem que a coroa de espinhos é uma tiara de adelfas

dizem que estou louca e só

e não,

sou apenas mais uma nesta tribo bruxa.


27 novembro 2021

julia wong kcomt

 

Cielo Zambo

(París africano)


La rata azul es ciega

En su paseo nocturno ha calculado esta desgracia

Suma

El quipu hambriento anuda el limbo

Vino llegando trajinada de los sures olvidados

un cuerpo más, la miscelánea del topo

La multitud sedienta se incomoda

Un hueco en el tambor

Brilla el sudor

Lágrima prieta cae en la cabeza de un gendarme

El lánguido oropel se despelleja en balas

Embajadas, ritmos,

desazones,

cayeron los soldados y las sillas

la explosión inaudita del pentagrama

bataclán se acurrucó en la metonimia

habemus más dioses que grupos de rock

je sui un migrante más, soy el truco del pobre

un corolario

un texto para todos

un laberinto

no es así el horror, no es así la muerte

no es así la intensidad de la garganta atorada con claveles

es tan apático el motor de los pueblos saciados

pan

más pan vestido de glamour

los pallares

las vacas engordadas con clorofila sintética

este es el viaje de las estrellas quebradas

al corazón moro de la subasta

no, no mires para atrás no recojas las prendas

de tus hermanos suicidados

no enjuagues tus cabellos en brea y esmeraldas

este cielo es nuevo, pero está lleno de ratas

no es celeste no es sano no es materno

es un sonido caliente hiriendo

con sus brasas

cada caja registradora en los museos

es sangre que revive la flor acicalada con malicia

con perfume de café extraído al tacto

este cielo agreste de gravitación kármika

cae el mundo en mi mano y se rehace.




Céu Torto

(Paris africana)


O rato azul é cego

No seu passeio noturno calculou esta desgraça

Soma

O quipo faminto amarra o limbo

Veio chegando trazida dos suis esquecidos

um corpo mais , a miscelânea da toupeira

A multidão sedenta incomoda-se

Um buraco no tambor

Brilha o suor

Lágrima dura cai na cabeça de um gendarme

O lânguido ouropel descasca-se em balas

Embaixadas, ritmos,

desassossegos,

caíram os soldados e as cadeiras

a explosão inaudita do pentagrama

Bataclan se acumulou na metonímia

Habemus mais deuses que grupos de rock

je suis mais um migrante, sou o truque dos pobres

um corolário

um texto para todos

um labirinto

não é assim o horror, não é assim a morte

não é assim a intensidade da garganta engasgada com cravos

é tão apático o motor dos sítios saciados

pão

mais pão vestido em glamour

os feijões

vacas engordadas com clorofila sintética

esta é a viagem das estrelas quebradas

ao coração mouro do leilão

não, não olhes para trás não recolhas as roupas

dos teus irmãos suicidados

não enxagues os seus cabelos em breu e esmeraldas

este céu é novo, mas está cheio de ratos

não é celeste não é são não é materno

é um som quente ferindo

com suas brasas

cada caixa registadora nos museus

é sangue que revive a flor polido com malícia

com perfume de café extraído pelo tato

este céu agreste de gravitação cármica

Cai o mundo nas minhas mãos e se refaz.


25 novembro 2021

imane azmy

 

Folie (extrait 4)


Les étoiles sont de plomb

Elles embrasent mes yeux

Brouillés de terre

De la poussière s’échappe

De sous nos pieds de marbre


Dans le creux de mes mains

La rame brisée du départ

Mes étoiles fragiles

Balaient le sol radieux

En oblique


Dans le creux de mes mains

Tout l’airain de ma joie secrète

Ma traversée

Sur le radeau de fortune

Tressé, rapiécé

Que des doigts affolés

Ont cousu

Désormais nous sommes le mât

De ce voyage désorienté




Loucura (extrato 4)


As estrelas são de chumbo

Queimam-me os olhos

Transtornados de terra

A poeira escapa-se

Debaixo dos nossos pés de mármore


No côncavo das minhas mãos

O remo partido da partida

As minhas estrelas frágeis

Varrem o chão radiante

Em oblíquo


No côncavo das minhas mãos

Todo o bronze da minha alegria secreta

Minha travessia

Na jangada do destino

Entrançada, remendada

Que dedos aflitos

Costuraram

A partir de agora somos o mastro

Desta viagem desorientada


23 novembro 2021

sara vanegas

 

Retorno


los pájaros han vuelto a mi ventana

oscuros libres ajenos

queman el aire cantan


pero no anidan


cruzan el desierto de mi nombre

beben de mi sed

los pájaros tardíos


mi casa es un enjambre de alas que se fueron



Retorno


Os pássaros voltaram à minha janela

escuros livres alheios

queimam o ar cantam


mas não fazem ninho


cruzam o deserto do meu nome

bebem da minha sede

os pássaros tardios


a minha casa é um enxame de asas que se foram



21 novembro 2021

silvina ocampo


Sobre un mármol


Tantos recuerdos juntos en el viento,

tantos jardines juntos que recuerdan

sin nadie nadie ya que los recuerde,

tantas fuentes con ángeles, sirenas,

tritones o cupidos o pescados,

tanto mar en el sueño hecho de mármol,

tantas flores de caña ya perdidas

detrás de las mareas de los ríos

y un “moriré o no moriré muy pronto”

que dicen deshojadas margaritas

en lugar de «me quiere» o «no me quiere».



Em cima de um mármore


Tantas memórias juntas no vento,

tantos jardins juntos que se lembram

sem ninguém já ninguém que deles se lembre,

tantas fontes com anjos, sereias,

tritões ou cupidos ou peixes,

tanto mar no sonho feito de mármore,

tantas flores de cana já perdidas

por trás das marés dos rios

e um "morrerei ou não morrerei muito em breve"

que dizem desfolhadas margaridas

em vez de «bem me quer» ou «mal me quer».


19 novembro 2021

catalina villegas

 

Todo sabe a pollo


Alguien a esta hora

toma el pie regordete

de un neonato

clava en él la nariz

y luego los dientes

hasta que la risa de la criatura

estalla marcando el límite


Alguien a esta hora se sienta a la mesa

y mastica chicle de pollo

sus muelas rechinan

en la textura insípida

de una pechuga de látex


¿A quién le incomoda

llevar aves a la mesa?


El pájaro estaba en su cuna

de icopor y vinipel

no fui yo quien arrancó sus plumas

entrañas patas pico ojos

hermanos


Alguien a esta hora se sienta a la mesa

y estira la mano hacia el salero


su plato es blanco

pero no lo suficiente


El pájaro no sangraba

no cantaba

no volaba


Alguien a esta hora pasa la seda

entre sus dientes

intentando retirar

el recuerdo inofensivo

del sabor a pollo.



Tudo sabe a frango


Alguém a esta hora

pega no pé gordinho

de um recém-nascido

crava-lhe o nariz

e a seguir os dentes


até que o riso da criatura

estoura marcando o limite


Alguém a esta hora senta-se à mesa

e masca chiclete de frango

seus dentes rangem

na textura insípida

de um peito de látex


Quem se sente desconfortável

por levar pássaros à mesa?


O pássaro estava em seu berço

de esferovite e película de papel


Não fui eu quem lhe arrancou as penas

entranhas patas bico olhos

irmãos


Alguém a esta hora senta-se à mesa

e estica a mão até ao saleiro


o seu prato é branco

mas não o suficiente


O pássaro não sangrava

não cantava

não voava


Alguém a esta hora passa o fio dental

entre os seus dentes

tentando retirar

a lembrança inofensiva

do sabor a frango.


17 novembro 2021

maria sevilla paris

 

Bleu, sagnant, à point, bien cuit


Crua. Estic viva, però crua. La meva

carn elàstica me la imagino blana i

llenegosa entre les dents. Poc digestiva.

I mentidera. La sang me l’afiguro fent-se

rosa barrejant-se amb guarniments de base

làctica. Lliscosa. Lletosa entre les dents i

mentidera. La pleura: no sé on és.

El pàncrees: no sé on és. La melsa:

no sé on és. Potser fa sucs i és

mentidera com la dona del mercat

prometent-me el tall més tendre. I jo tan

crua. Estic viva, però crua. La meva

pell elàstica. La meva fractura vertebral.

Els meus esfínters. La meva obertura:

em paralitzen. Me’ls imagino blans i

llenegant entre les dents. Poc digestius.

I mentiders. —Cinquanta quilograms de carn

sisplau i me la posa ben fineta. Me la talla

ben arran del precipici. Ben al límit del

vertigen vascular:


el meu ventre és


un avenc. Potser fa sucs i és

mentider com déu cuinant-te la carn

crua. Estàs viva. Repugnant. I crua.



Bleu, sagnant, à point, bien cuit


Crua. Estou viva, mas crua. A minha

carne elástica imagino-a mole e

escorregadia entre os dentes. Pouco digestiva.

E mentirosa. O sangue perceciono-o rosa

misturando-se com guarnição de base

láctica. Deslizante. Leitoso entre os dentes e

mentirosa. A pleura: onde está.

O pâncreas: onde está. O baço:

não sei. Talvez derrame sucos, é

mentiroso como a mulher do mercado

que me promete o corte mais tenro. E eu tão

crua. Estou viva, mas crua. A minha pele

elástica. A minha fratura vertebral.

Os meus esfíncteres. A minha abertura:

paralisam-me. Vejo-os macios e

escorregando entre os dentes. Pouco digestivos.

E mentirosos. - Cinquenta quilos de carne

por favor e que seja bem acabada. Corte-ma

mesmo ao rés do precipício. Mesmo no limite da

vertigem vascular:


o meu ventre é


um sima. Talvez derrame sucos e é

mentiroso como deus cozinhando a carne

crua. Estás viva. Repugnante. E crua.


15 novembro 2021

valeria tentoni

 

El jardín prestado

Se aplana el horizonte, se aquieta la mente. Desde que llegué al pueblo mis sentidos necesitan, poco a poco, de mucho menos para encenderse, pero es con grandes estruendos, como un motor que nadie acciona desde hace tiempo. En medio de la segunda noche, por ejemplo, me despertó el silencio: era tan absoluto que sentí que me podía hundir en él, un cráter negro del que me separaba un único paso en falso, ¿pero cuál?

En este jardín prestado de pueblo prestado tengo la impresión de que todo es signo mayor, incluso el quiebre de una rama seca. La última imagen que conservo antes de la pandemia es la de un señor gigante y hermoso con una trampa para lauchas cortando un pedacito de queso con sus manos de bestia y clavándolo justo en el centro del pequeño mecanismo, un mecanismo tan austero y simple que no se le podría tener confianza sino apenas fe. El gigante se pasea por mi cine mental; está agachándose en la cocina, lo veo de rodillas cuando deja la trampa bajo la mesada. Después, y todavía desde el suelo, me sonríe como deben sonreír los dioses. Sé que en ese momento sentí un gran amor y no supe por quién, pero así y todo me cuesta creer que haya sido la última escena significativa antes del encierro. ¿Por qué vuelve a mí en estos días? ¿Qué cosa rige los algoritmos de mi cabeza?

Durante los primeros meses intenté conducir mis entusiasmos y me inscribí en distintos cursos. En uno de ellos me enseñaron que, a simple vista, todas las estrellas que titilan en el cielo quedan prácticamente en un mismo plano. Que desde nuestra posición y sin el auxilio de ciertos artilugios no distinguimos bien, entre las que vemos, cuál está más lejos, cuál está más cerca. También me explicaron que el cielo es un concepto, que el cielo no existe. Con los recuerdos, de algún modo, ocurre igual: extraemos de nuestras canteras —a veces también con auxilio— un puñado y quedamos con esos, salvo que alguna cosa provoque nuevas erupciones. De repente toda la infancia es una única vuelta en calesita, la tarde en que nos reventamos la rodilla en la vereda y vimos por primera vez nuestra propia sangre, un recreo infinito en el mismo patio escolar, la sensación de tomar agua del vaso telescópico el día que se nos cayó un diente de leche.

Leo al pasar que los cerebros no son para pensar. Que están ahí no para que tironeemos de ellos como de un hueso que no entrega nuestro perro, sino para mantenernos a flote, vivos. Para avisarnos de un millón de maneras diferentes que necesitamos tomar agua, dormir, caminar. Pasan los días en el pueblo y mi oído queda ahuecado, como una palta sin carozo. Después de que cae el sol, mientras riego, puedo identificar la pequeña música de las hortensias agradecidas, el limonero enfermo. Así también el vuelo intempestivo de un colibrí me puede partir el corazón al medio; mi boca se abre como una granada y no soporto lo que veo, la ruta frenética y majestuosa, impredecible, que dibuja. Quiero ser el colibrí, quiero ser la flor, el camino que hace hasta tocarla. El hueso, me pregunto, ¿para qué el hueso, y por qué como si no fuese un peligro?

En el jardín prestado aprendo a quedarme quieta, consciente de que alcanzará con volver a la ciudad para que lo olvide. Los horneros a mi alrededor ya no interrumpen sus caminatas, que yo confundía con saltos. Día tras día observo las contorsiones de un falso banano que, estimulado por mis atenciones diarias, se va sacando hojas nuevas en una esquina. Miro cómo se retuerce, cómo se esfuerza en guardar su secreto de la luz, y pienso que la poesía es eso: proezas antes de ocultamiento que de revelación. Aprendo a no interrumpir el sacrilegio de las tortugas en el cantero, comiéndose las flores. Son las mismas flores que vi crecer directo de la arena hace muchos años, en un jardín salado en el que nada aceptaba crecer. Descubro que también una tortuga puede impacientarse, que una planta puede sentir vergüenzas, que las alquimias que se completan en lo oscuro de un jardín son las que lo apuntalan.

Nada de esto me pertenece y es un alivio, que es el modo en que comienzan las desesperaciones nuevas. El cielo regurgita y al sol le sigue la tormenta. ¿Por qué nos burlamos de los principios milenarios todo este tiempo, con todas esas estrellas apelmazadas emitiendo sus señales sin que nadie sea capaz de levantar la vista?

“La separación entre la melancolía y la dicha no es más ancha que el filo de un cuchillo”, subrayo. Después abandono el libro, me desentiendo. Varias veces escuché decir que los peces tienen memoria corta y que por eso no sufren en la pecera. No dedico demasiado tiempo a contrastarlo, mejor decir nada. Quizás era una de esas frases que se les dicen a los chicos para que no sufran, como si una cosa así fuera posible. Se supone que al tercer minuto los peces lo olvidan todo y retoman su vehemencia exploratoria, su desembarco. No alcanzan a angustiarse por el vidrio ni a ensayar hipótesis que ya lo están viendo todo de cero otra vez, bailando entre burbujas artificiales. Las preguntas son las de siempre, pero no retenemos ninguna respuesta. Quizás esa sea nuestra manera de mantenernos con vida, el modo en que nuestro cerebro suelta el hueso para encargarse de cosas más importantes.

Una vez, el poeta David Wapner compartió una experiencia de taller con niñas y niños. Si no recuerdo mal, habían estado trabajando con masilla y uno de los asistentes, de unos siete años de edad, había logrado armar las piernas de su monigote valiéndose de la figura del arco. “¡El niño acaba de inventar el puente!”, escribió. Wapner tenía razón, pero además de tener razón tenía la sensibilidad suficiente como para verlo y valorarlo, la grandeza de felicitar al niño por inaugurar en pleno siglo XXI la era del arco. Con el invento de ese niño cruzamos ríos, montañas, visitamos islas, caminamos sobre aguas en la que los peces olvidan una y otra vez la dirección de las corrientes que combaten.

Leo en otro libro que durante décadas debatieron acerca de la pertinencia o no del ombligo de Adán en las pinturas. Imagino a Miguel Ángel con el pincel en la mano, su cavilación. El mundo comenzó otra vez ese día, y hubo otros comienzos traídos del polvo. Mientras tanto el colibrí ya dejó en paz a la estrelicia y se convirtió en una fantasmagoría, algo que pudo o no haber ocurrido. Descarto este libro también. Queda en la cocina, junto a la ventana. Afuera está el día y yo estoy adentro, royendo. Todos los libros comienzan a parecerse entre sí, también los que escribo, los que me propuse terminar.

El tiempo reposa.

Yo me levanto.

Una noche veo un bichito de luz. Aquí sí que comienza algo, me digo. Hace demasiado tiempo que no veía uno y recuerdo, entre todo lo que no recuerdo, la primera vez que escribí a este insecto. Lo recuerdo, precisamente, porque lo escribí. ¿Escribir es un modo de aprender de cero, de esconderse mejor, de pelar un hueso? En ese entonces era otra. Deseaba otras cosas, temía a otras cosas. Un vidrio se estiraba frente a mis ojos y yo lo golpeaba una y otra vez, como una mosca sucia e inocente. ¿Cambia el signo, se quiebra una rama? ¿En un lugar al que ya no puedo volver —porque no se puede volver nunca a ninguna parte— el hombre con manos de bestia sonríe todavía frente a su trampa perfecta? ¿Ya pasaron tres minutos?



O jardim emprestado

Aplana-se o horizonte, aquieta-se a mente. Desde que cheguei, os meus sentidos precisam, pouco a pouco, de muito menos para se ligarem, mas com grandes estrondos, como um motor que ninguém ligou durante muito tempo. A meio da segunda noite, por exemplo, despertou-me o silêncio: era tão absoluto que senti que podia afundar-me nele, uma cratera negra da qual me separava um único passo em falso, mas qual?

Neste jardim emprestado do sítio, tenho a impressão de que tudo é sinal maior, inclusive o quebrar de um ramo seco. A última imagem que conservo antes da pandemia é a de um senhor gigante e bonito com uma armadilha para ratos cortando um pedaço de queijo com suas mãos de besta e cravando-o bem no centro do pequeno mecanismo, um mecanismo tão austero e simples no qual não se podia ter confiança, apenas fé. O gigante passeia-se pelo meu cinema mental; está agachado na cozinha, vejo-o de joelhos quando deixa a armadilha debaixo da banca. Depois, e ainda no chão, sorri para mim como devem sorrir os deuses. Sei que naquele momento senti um grande amor sem saber por quem, mas ainda assim é difícil acreditar que foi a última cena significativa antes do confinamento. Por que regressa a mim nestes dias? O que coisa rege os algoritmos de minha cabeça?

Durante os primeiros meses tentei canalizar os meus entusiasmos e inscrevi-me em diferentes cursos. Num deles ensinaram-me que, a olho nu, todas as estrelas que cintilam no céu ficam praticamente no mesmo plano. Que da nossa posição e sem o auxílio de certos artefactos não distinguimos bem, entre as que vemos, qual a que está mais longe, qual a que está mais perto. Também me explicaram que o céu é um conceito, que o céu não existe. Com as recordações, de algum modo, acontece o mesmo: extraímos das nossas pedreiras, às vezes também com ajuda, um punhado e ficamos com elas, exceto se alguma coisa provocar novas erupções. De repente toda a infância é uma única volta de carrossel, a tarde em que esfolamos o joelho na calçada e vimos pela primeira vez o nosso próprio sangue, um recreio infinito no mesmo pátio escolar, a sensação de beber água do copo telescópico no dia que nos caiu um dente de leite.

Leio em diagonal que os cérebros não são para pensar. Que estão lá não para que os puxemos como a um osso que não entrega o nosso cão, mas para nos manter a flutuar, vivos. Para nos avisar de um milhão de maneiras diferentes que precisamos de beber água, dormir, caminhar. Passam os dias no sítio e os meus ouvidos ficam ocos, como abacates sem caroço. Depois do por do sol, enquanto rego, posso identificar a pequena música das hortênsias gratas, o limoeiro doente. Assim também o voo intempestivo de um colibri pode partir-me o coração ao meio; a minha boca abre-se como uma romã e não suporto o que vejo, a rota frenética e majestosa, imprevisível, que desenha. Quero ser o colibri, quero ser a flor, o caminho que faz até a tocar. O osso, pergunto-me, para quê o osso, e porquê como se não fosse um perigo?

No jardim emprestado aprendo a ficar quieta, consciente de que perceberá quando voltar à cidade para o esquecer. As mariquitas à minha volta já não interrompem as suas caminhadas, que eu confundia com saltos. Dia após dia observo as contorções de uma falsa verga que, estimulada por minhas atenções diárias, vai arrancando folhas novas numa esquina. Vejo como se contorce, como se esforça por guardar o seu segredo da luz, e penso que a poesia é isso: proezas mais de ocultação que de revelação. Aprendo a não interromper o sacrilégio das tartarugas no canteiro, comendo as flores. São as mesmas flores que vi crescer diretamente da areia há muitos anos, num jardim salgado onde nada aceitava crescer. Descubro que também uma tartaruga se pode impacientar, que uma planta pode sentir vergonha, que as alquimias que se completam no escuro de um jardim são as que o sustentam.

Nada disto me pertence e é um alívio, que é o modo como começam os desesperos novos. O céu regurgita e ao sol segue-lhe a tormenta. Por que mofamos dos princípios milenares todo este tempo, com todas essas estrelas amassadas emitindo os seus sinais sem que ninguém seja capaz de levantar a vista?

"A separação entre a melancolia e a felicidade não é mais larga que o fio de uma faca", sublinho. Depois abandono o livro, desapego-me. Várias vezes ouvi dizer que os peixes têm memória curta e que por isso não sofrem no aquário. Não passo muito tempo a verificar isso, é melhor não dizer nada. Talvez fosse uma daquelas frases que se diz às crianças para que não sofram, como se algo assim fosse possível. Supõe-se que ao terceiro minuto os peixes esquecem tudo e retomam sua veemência exploratória, seu poiso. Não chegam a angustiar-se com o vidro nem a ensaiar hipóteses que já estão a ver tudo a partir do zero outra vez, dançando entre bolhas artificiais. As perguntas são as de sempre, mas não retemos nenhuma resposta. Talvez seja a nossa maneira de nos mantermos vivos, a forma como o nosso cérebro solta o osso para lidar com coisas mais importantes

Uma vez, o poeta David Wapner partilhou uma experiência de atelier com meninas e meninos. Se bem me lembro, tinham trabalhado com massa e um dos assistentes, com cerca de sete anos de idade, tinha conseguido montar as pernas do seu boneco, usando a figura do arco."O menino acaba de inventar a ponte!" escreveu. Wapner tinha razão, mas além de ter razão tinha a sensibilidade suficiente para o ver e o valorizar, a grandeza de felicitar a criança por inaugurar em pleno século XXI a era do arco. Com a invenção dessa criança atravessamos rios, montanhas, visitamos ilhas, caminhamos sobre águas em que os peixes esquecem uma e outra vez a direção das correntes que combatem.

Li noutro livro que durante décadas debateram sobre a pertinência ou não do umbigo de Adão nas pinturas. Imagino Miguel Ângelo com o pincel na mão, a sua congeminação. O mundo começou outra vez nesse dia, e houve outros começos trazidos do pó. Entretanto o colibri já deixou em paz a estrelícia e converteu-se numa fantasmagoria, algo que pode ou não ter ocorrido. Também estou a descartar este livro. Quieta na cozinha, junto à janela. Lá fora está o dia e eu estou dentro, roendo. Todos os livros começam a serem parecidos uns aos outros, também os que escrevo, os que me propus terminar.

O tempo repousa.

Eu levanto-me.

Uma noite vejo um bichinho de luz. Aqui sim, começa algo, digo-me. muito tempo que não via um e lembro, entre tudo o que não lembro, a primeira vez que escrevi a este inseto. Escrever é uma maneira de aprender do zero, de se esconder melhor, de descascar um osso? Na altura era outra. Desejava outras coisas, temia outras coisas. Um vidro estirava-se diante dos meus olhos e eu batia-lhe uma e outra vez, como uma mosca suja e inocente. Muda o sinal, um galho quebra? Num lugar aonde já não posso voltar, porque nunca mais se pode voltar a lado nenhum, o homem com mãos de besta sorri ainda diante da sua armadilha perfeita? Já passaram três minutos?


Enxoval

Para os meus quarenta filhos quarenta enxovais

canastas cheias de ortigas

e visco,

pérolas envoltas em folhas de parra.

 

O laço com que se enforcam

os pássaros num lugar escuro.

 

Um chocalho de prata.

 

Uma lembrança de quando fui jovem e inteira, puro talo

e nada em meu corpo se articulava com outro

e sozinha vinha e sozinha ia e sozinha respondia

a nenhuma pergunta.

 

Mas não tenho para dar de mamar a quarenta

não tenho mais que um coração tolhido e mostrengo

um coração pessegueiro doente de podridão morena

que ataca primeiro as flores e depois o fruto

e depois, depois a árvore.

 

Que me cresço em cima de mim e por baixo de mim e

dos meus ramos se balanceiam

quarenta filhos mortos

dos quais não pari nenhum.

 

Quarenta filhos todos de mim enteados

 

13 novembro 2021

julia uceda

 

Hablo de la infancia


Escalera crujiente,

trozo de bosque organizado

por el que ir hasta la cumbre

de aquel desván lleno de sueños,

pájaros silenciosos

que viajan sin ruido.

Sobre ti estaba el premio

cubierto por el polvo

y lo muerto vivía

para mí, en mis ensueños.

Hogar sin sótanos,

todo aquello era hermoso

porque estaba creando su recuerdo;

viviéndote, sentía

que de algún modo ya te recordaba.

Y siempre que te acercas

entre la niebla, oigo

cómo se queja suavemente,

enmohecido por las lluvias,

el pesado cerrojo de una verja.

La del jardín acaso.



Falo da infância


Escada rechinante,

pedaço de floresta organizada

para ir até ao topo

desse sótão cheio de sonhos,

pássaros silenciosos

que viajam sem ruído.

Em cima de ti estava o prémio

coberto pela poeira

e o morto vivia

para mim, nos meus sonhos.

Casa sem caves,

tudo aquilo era belo

por estar a criar a sua memória;

vivendo-te, sentia

que de algum modo te lembrava.

E sempre que te aproximas

entre a névoa, ouço

como se queixa suavemente,

bolorenta devido às chuvas,

a pesada fechadura de uma cancela.

A do jardim talvez.




11 novembro 2021

maría garcía zambrano


Despertar a las bestias con bocanadas

de belleza.


Que el asombro sea nuestra matria

y la lluvia no dañe

estos huesos

de incandescente búsqueda.


Quitar el sombrero a este amanecer

melancólico.


Salvar la esperanza

de las fauces

de los leones acuáticos.



Acordar os bichos com erupções 

de beleza.


Que o assombro seja a nossa mátria

e a chuva não danifique

estes ossos

de incandescente procura.


Tirar o chapéu a este amanhecer

melancólico.


Salvar a esperança

das fauces

dos leões aquáticos.


09 novembro 2021

malena luján

 

Entre la piel y el hueso limpio

solo hay fotografías.

Entonces me miro las manos

un poco más grises.


El mediodía no quiere

traer torcazas,

el viento no besa

la frente de nadie.


La mano,

cansada del naufragio,

destensa el puño.

El remo se va río abajo.


Ya no queda niño, juguete,

ni canción redonda

que cantar a la muerte.


La mano es una trinchera

y no encontramos tajo

para sangrarla.



Entre a pele e o osso limpo

só há fotografias .

Então olho para as minhas mãos

um pouco mais cinzentas.


O meio-dia não quer

trazer avoantes,

o vento não beija

a testa de ninguém.


A mão,

cansada do naufrágio,

distende o punho.

O remo vai pelo rio abaixo.


Já não há criança, brinquedo,

ou canção redonda

para cantar à morte.


A mão é uma trincheira

e não encontramos talho

para a sangrar .



07 novembro 2021

maría macaya martén

 

Pero te estoy escribiendo todavía


Entré al baño del apartamento en Boston.

Detrás de la puerta colgaba tu bata.

Había un pañuelo sucio en la bolsa izquierda.

Hacía dos años habías muerto.


¿Habría sabido, el afortunado papelillo,

que te sobreviviría por tanto tiempo?

¡Te sentí tan cerca!


Contenía tal vez tus últimas lágrimas,

el sudor leve de tu cuello,

un efímero estornudo,

o mocos.


Ya no importa

supongo.


Lo sostuve frente a mí

como lirio blanco entre mis dedos.

No sabiendo si venerarlo

o repudiarlo.


Lo boté en la basura.

Cerré la puerta.



Mas ainda te estou a escrever


Entrei na casa de banho do apartamento de Boston.

Atrás da porta estava pendurado o teu roupão.

Havia um lenço sujo no bolso esquerdo.

Tinhas morrido há dois anos.


Teria sabido, o sortudo papelinho,

que te sobreviveria por tanto tempo?

Senti-te tão próximo!


Continha talvez as tuas últimas lágrimas,

o suor leve do teu pescoço,

um efémero espirro,

ou moncos.


Já não importa

suponho.


Segurei-o diante de mim

como lírio branco entre os meus dedos.

Não sabendo se o venerar

ou repudiá-lo.


Deitei-o no caixote de lixo.

Fechei a porta.



05 novembro 2021

karen cano

 

Hay algo de tragedia

y resignación, en el hábito

que tiene mi madre de bendecirme,

antes de salir de casa.


Lo supe el día que balacearon a Luis.


Dicen que los perros perciben estas cosas,

como una droga ácida,

les cala en la humedad de la nariz,

aúllan adoloridos con las fauces

infestadas de putrefacción.


Traía el demonio adentro,

los ruidos caninos acosaban por la calle,

me tomé del vientre y él sujetó su cámara,

nos reímos al ritmo del bailarín

que improvisa sin miedo a caer.


Por un tiempo no quise a los cartomantes.


Como buena supersticiosa, nunca camino por

debajo de una escalera

ni le doy en la mano la sal a nadie.


La incapacidad de adivinar el futuro

es la droga que Dios nos da

para que estemos tranquilos.


Mi madre lo sabe,

ella lo sabe todo,

todo lo que la condición mística materna le permite.


Se resigna a la suerte,

y casi siempre a medio despertar,

por la mañana me despide

y me encomienda al cielo.


Desconecto mis labios

de su frente cálida, me voy

al trabajo en medio

de una sinfonía de ladridos y muerte.



Há algo de trágico

e resignação, no costume

que tem a minha mãe de me abençoar,

antes de sair de casa.


Soube isso no dia em que Luís foi baleado.


Dizem que os cães percebem estas coisas,

como uma droga ácida,

solta com a humidade do nariz,

uivam doloridos com as mandíbulas

infestadas de putrefação.


Trazia o demónio dentro,

as sonoridades caninas acossavam pela rua,

Segurei a barriga e ele segurou a câmara,

Rimos ao ritmo do dançarino

que improvisa sem medo de cair.


Durante un tempos não quis cartomantes.


Como boa supersticiosa, nunca vou por

debaixo de uma escada

nem ponho sal na mão de ninguém.


A incapacidade de adivinhar o futuro

é a droga que deus nos dá

para estarmos sossegados.


A minha mãe bem o sabe,

ela sabe tudo,

tudo o que a condição mística materna lhe permite.


Resigna-se à sorte,

e quase sempre meia acordada,

de manhã despede-se de mim

e encomenda-me ao céu.


Descolo os meus lábios

da sua testa quente, vou-me embora

para o trabalho no meio

de uma sinfonia de latidos e morte.