16 março 2022

sibylle bolli

  

I

ce n’est pas venu

l’absolue bonté du soir là-bas

sous le front digne de la falaise

 

les corbeaux les grands corbeaux de soif

ont emporté les mots d’été

je suis resté avec l’ombre

 

de plomb et de Pierre

 

não chegou

a absoluta bondade da noite ali

sob a frente digna da falésia

 

os corvos, os grandes corvos de sede

levaram as palavras estias

fiquei com a sombra


de chumbo e de Pedra

 

 

II

mère le ciel est parti

 

ton corps au souffle absenté

sur l’aile du cygne

en crosse de fougère

ta main sans caresse

 

fenaison des ombres

 

ici rien

 

mãe o céu desapareceu

 

o teu corpo ausente de fôlego

na asa do cisne

em coronha de feto

a tua mão sem carícia

 

ceifa das sombras

 

aqui nada

 

III

petite blessure chérie

que j’enrobe de mots

ô mon frisson d’épine

abruti de caresses

tu me laboures l’échine

visage de plaie contre ciel

quand moi je ravaude

toutes cendres fumantes

 

le temps d’auparavant

 

pequena ferida querida

acobertada de palavras

oh meu arrepiado espinho

embrutecido de carícias

dás cabo de mim

rosto de praga contra o céu

ao engolir

do fumo, todas as cinzas

 

IV

et encore tout petits et encore

insensiblement ils amenuisent

les noms vides des cœurs vides

qui tombent de soi

écailles mortes

 

mais de plus en plus

un lambeau de ciel

émergé des corps cheminant

des lèvres immensément soyeuses

 

m’arrive si pâle

son bleu de promesse

en l’absence de

 

e ainda muito pequenos e ainda

insensivelmente encolhem

os nomes vazios dos corações vazios

que caem de si

escamas mortas

 

mas cada vez mais

um pedaço de céu

emergido dos corpos caminhando

lábios imensamente sedosos

 

acontece-me tão pálida

a sua promessa azul

na ausência de

 

V

avec de l’oiseleur

la triste fièvre

on battra le rappel

on ramassera contre soi

ses membres compagnons

le scintillant le brisé

l’azuré et le vineux

tous ceux qui

se réclament de nous

firent substance

 

l’écume du peu

 

 

com o passarinho

a triste febre

ultrapassaremos o recorde

cairemos de bruços contra si

os seus membros companheiros

o cintilante o quebrado

o azulado e o bordeaux

todos os que

se reclamam de nós

fizeram substância

 

a espuma do pouco

 

VI

cette rose

porte une parole orpheline

à peine est-elle encore

rose

tant son verbe heurte la terre

foudroie les grappes oubliées

son parfum

 

le temps qui vient après la mort

 

esta rosa

incorpora uma palavra órfã

difícil dizer que ainda é

rosa

tanto o seu verbo atinge a terra

relampagando as uvas esquecidas

o seu perfume

 

o tempo que vem depois da morte

 

VII

d’où

ces traits de la vieille pluie

qui hachent qui pèsent

aux nuques

qui rêvent qui flambent

 

autant de froidure

à nos visages agenouillés

aucun ne laisse

passer le jour ni ne prend

parole

 

plus aucun

 

donde

estes traços da velha chuva

que picam que pesam

nos pescoços

que sonham que ardem

 

tanto frio

em nossos rostos ajoelhados

nenhum deixa

passar o dia nem tomar

palavra