13 dezembro 2021

shivanee ramlochan

 

The Virgin Speaks of What She Endured


Don’t turn the lamps down.

The mangrove burned for days. When our forest have up her bare shoulders to the hungry women and children, for weeks, we ate nothing but trees.

In the first week, the vines, the shoots, the leaves helped us make soup.

In the second week we crammed roots through the holes in our teeth.

In the third week, my sister’s hair fled her blue scalp; in the fourth week my sister trapped and gnawed a blue crab to death with no fire but her belly.

By the fifth week the bruised bark had nothing left, so we began to eat language.

Na sexta semana sonhei que um Ocelot me trouxe o teu nome no berço da sua língua.

On the sixth week I dreamed an ocelot brought me your name in the cradle of his tongue.

There was no seventh week of which I can speak, and on the dawning of the eighth week,

you and the battalion returned.

You’ve told me of how the war crumbled cathedrals of bamboo and stone before your eyes. There are great, open plains where the high streets shone. The statues of the men who spoonfed us English are ground to glassine.

I am no longer your bride. We ate the words for marriage, for sacrament, for lawfully wed. I fed my sister the ivory dress, so she might keep warm; I placed pearlseed buttons where her eyes once shone.

Don’t turn the lamps down. Look at me, the price of revolution. I left the fighting words alive for tonight. I didn’t eat triumph, or victory, or maidenhead.

Starving, I unswallowed the words that mattered.

Look here, the glassine road of our crushed forefathers wraps around my belly. Our eyes are now the only mirrors, fusilier of mine.

My surgeon. My soldier.

My small, bare breasts sit as quiet as mute brown doves.

Show me why I waited.


Come, burst me into song.



A virgem conta o que teve de suportar


Não desligues as lâmpadas.

O manguezal ardeu durante dias. Quando a nossa selva entregou os seus ombros nus às mulheres e crianças famintas, durante semanas só comemos árvores.

Na primeira semana, as videiras, os brotos, as folhas nos ajudaram a fazer sopa.

Na segunda semana nós enchemos de raízes os buracos dos nossos dentes.

Na terceira semana, o cabelo da minha irmã fugiu do seu couro cabeludo azul; na quarta semana, a minha irmã encurralou e roeu um caranguejo azul até o matar sem outro fogo que o da sua barriga.

Na quinta semana a casca ferida já não tinha mais nada a dar, então começamos a comer linguagem.

Na sexta semana sonhei que um ocelote me trazia o teu nome no berço da sua língua.

Não houve sétima semana da qual possa falar, e ao amanhecer da oitava semana,

o batalhão e tu regressaram.

Contaste-me como a guerra desmoronou catedrais de bambu e pedra diante dos teus olhos. Há grandes planícies abertas onde as ruas altas brilhavam. As estátuas dos homens que nos deram inglês às colheradas jazem reduzidas a papel glassine.

Já não sou a tua noiva. Devoramos as palavras para o casamento, para o sacramento, para legalmente se casar. Dei de comer à minha irmã o vestido de marfim, para que ela possa manter-se quente;  coloquei botões de pérola onde alguma vez os seus olhos brilharam.

Não desligues as lâmpadas. Olha para mim, o preço da revolução. Deixei as palavras de luta vivas para esta noite. Não comi triunfo, ou vitória, ou virgindade.

Esfomeada, desengoli  as palavras que importavam.

Olha aqui, o caminho glassine dos nossos esmagados ancestrais envolve o meu ventre. Os nossos olhos são agora os únicos espelhos, meu fuzileiro.

Meu cirurgião. Meu soldado.

Os meus seios pequenos e nus estão sentados tão silenciosos como mudas pombas castanhas.

Mostra-me porque é que esperei.


Vem, rebenta-me em canção.