26 dezembro 2021

saba vasefi

 

The Portable Home

 

Once, I went with the wolf to the desert

to take back honey from the bear

but in town my two eyes counted

only for one. At school

the only colors allowed

were black, brown, navy or grey.


To make a Muslim of me,

they hid me in a chador.

No matter how many holy verses

they made my mouth express,

no prayers found their God.

I did not capitulate;

with the heat of my eyes

I incinerated the gates of Hell!

When I was seven, to console my

tears for the forbidden colors,

my grandmother told me

as we sat under a fig tree,

the sky is the same color

wherever you are.

 

When I was twenty-eight,

I auctioned my kitchen garden

to fly to a forest,

yearning to burn.

under an azure sky.


I've found solace

now, though I stand naked,

stripped of the dour colors

I wore when the Persian sky

did not know my name

though raucous sky is not kind to me,

not savvy to my skin.


Tehran was a hoarfrost

on my lips, Sydney

is a cockatoo scream in

my stateless mouth;

and the world a

Tower of Babel.


I have tried insanity,

I have taken every pill,

even the moon, I swallowed!

The ocean I swim in is blue,

but not the blue

of the Caspian.


I am the blue desert,

a pomegranate in bloom.

The broken seeds are

fragments in my mouth.


I am a memoir in blood.


The ink of all existence

is the color of the sky

and exile is horizon without end.

Salvation beckons

like a lunar eclipse.


I have travelled the clouds

to change the sky’s mood,

but it stays

unmoved. I want to

bring the moon to the ground.


Within me

I would fashion a portable home;

wherever I go

I live nowhere.


Between the inhale

and exhale of my expatriate breath,

I ask God to lift his feet

so I can mop under my desk.


He was my prison,

but I'm always a woman

with a body in the wilderness;

not a prisoner in a tent.

 

 

 

A casa portátil


Uma vez, fui com o lobo ao deserto

para recuperar o mel do urso,

mas na cidade os meus dois olhos contavam

apenas para um.  Na escola,

as únicas cores permitidas

eram preto, castanho, azul-marinho ou cinza.


Esconderam-me num xador.

Não importa quantos versículos santos

obrigaram a minha boca a expressar,

nenhuma oração encontrou o seu Deus.


Eu não capitulei;

com o calor dos meus olhos

incinerei os portões do Inferno!

Quando tinha sete anos, para consolar as minhas

lágrimas pelas cores proibidas,

a minha avó disse-me

enquanto estávamos sentadas sob uma figueira,

o céu é da mesma cor

onde quer que estejas.


Quando tinha vinte e oito anos,

leiloei a minha horta

para voar para uma floresta,

desejando queimar.

sob um céu azul.

 

Encontrei consolo

agora, embora esteja nua,

despojada das cores austeras que

usava quando o céu persa

não sabia o meu nome -

embora o ruidoso céu não seja bom para mim,

não é sensato para a minha pele.


Teerão era uma geada

nos meus lábios, Sydney

é um grito de catatua na

minha boca apátrida;

e o mundo uma

Torre de Babel.


Já tentei a loucura,

tomei todas as pílulas,

até a lua, engoli!

O oceano em que nado é azul,

mas não o azul

do Cáspio.


Sou o deserto azul,

uma romã em flor.

As sementes quebradas são

fragmentos em minha boca.


Sou uma biografia em sangue.


A tinta de toda a existência

é a cor do céu

e o exílio é o horizonte sem fim.

A salvação acena

como um eclipse lunar.


Viajei pelas nuvens

para mudar o estando do céu,

mas ele permanece

impassível. Quero

trazer a lua para o chão.


Dentro de mim,

instalaria o design de uma casa portátil;

onde quer que vá,

não moro em nenhum lugar.


Entre a inspiração

e a expiração da minha respiração de expatriada,

peço a Deus que levante os pés

para eu poder esfregar debaixo da minha secretária.


Ele foi a minha prisão,

mas sou sempre uma mulher

com um corpo no deserto;

não uma prisioneira numa tenda.