30 dezembro 2021

françoise ascal

 

De quel droit parler de ce qu’on ignore ?

approcher avec précaution


Mitard


on répète ce mot

on laisse venir les clichés


cachot trou basse-fosse cage cave puits tombeau

froid humide silence absence nuit macération aveuglement

charivari d’insectes fureur de rats


On lit ce qu’ils en disent, eux,

leurs témoignages, mythes, mensonges, douleurs


Mitard

on croit entendre tourner des gonds, on voudrait de l’eau, mouiller leur front


Mitard,

23 heures sur 24

brise l’échine

ni coup ni trace

Mitard,

23 heures sur 24

broie la cervelle

rend fou

Mitard,

23 heures sur 24

tue l’enfance

en toute impunité



Com que direito se fala do que não se sabe?

abordar com precaução


Buraco


repetimos essa palavra

deixamos vir os clichés


calabouço buraco baixa-fossa gaiola cave túmulo

frio húmido silêncio ausência noite maceração cegueira

balbúrdia de insetos fúria de ratos


Lemos o que dizem obre isso, eles,

os seus testemunhos, mitos, mentiras, dores


Buraco

as pessoas pensam que ouvem as dobradiças, querem água, querem molhar a testa


Buraco,

23 horas por dia

quebra a espinha dorsal

nem golpe nem rasto


Buraco,

23 horas por dia

esmaga os miolos

enlouquece


Buraco,

23 horas por dia

mata a infância

com toda a impunidade