Astillas
Los verdaderos
poemas son incendios
Vicente
Huidobro
voy
frotando una astilla contra otra
y
es inútil
no
habrá fuego
en
mis restos de madera
pude
rescatar del naufragio
un
trozo de leña
hueco
de tormenta
atravesado
por tanta agua salada
lo
quebré
para
inventar dos trizas que se juntan
dos
chispas
que
no estaban
el
revés de un vacío un agujero
aquí
sigo todavía estrellando mis astillas
nada
que encender
y
te haces humo
nada
que apagar
y
eres ceniza
Raspas
Los
verdaderos poemas son incendios
Vicente
Huidobro
esfrego uma raspa contra outra
e é inútil
não haverá fogo
em meus restos de madeira
consegui resgatar do naufrágio
um pedaço de lenha
oco de tempestade
atravessado por tanta água salgada
parti-o
para inventar dois frangalhos que se juntam
duas chispas
que não estavam
o avesso de um vazio um buraco
aqui continuo ainda estrelendo as minhas raspas
nada para acender
e fazes-te fumo
nada para apagar
e está cinza
*
Nací el mismo día que Emily Dickinson
casi dos siglos después
y las cosas han cambiado un poco
desde entonces
no tuve
su entereza ante el dolor
ni su oído sutil para las revelaciones
vivo en un edificio alto
donde no llegan los pájaros
sólo un ruido de sirenas
que no canta
es una ciudad inmensa
aquí todos somos Nadie
pero no hemos aprendido
a guardar el secreto:
al caminar regamos
nuestra nada en las esquinas
Nací con la piel oscura
en un país del trópico
y vine a buscarla a este estruendo
tan lejano de su voz
que se enredaba en las praderas
la imagino callando en los ladrillos
veo sus manuscritos de letras apretadas
como ramas de tina negra
que se quiebran
en cualquier envoltura
en la lista de mercado
y se enlazan otra vez
para inventar el mundo
Nací un diez de diciembre como ella
y no traje ese silencio
sin embargo
gracias al conjuro
de repetir sus versos
mientras cambian los semáforos
estoy a flote
todavía
Nasci no mesmo dia que Emily Dickinson
quase dois séculos depois
e as coisas mudaram um pouco
desde então
não tive
a sua integridade perante a dor
nem o seu ouvido subtil para as revelações
vivo num edifício alto
onde não chegam os pássaros
só um ruido de sereias
que não canta
é uma cidade imensa
aqui todos somos Ninguém
mas não aprendemos
a guardar o secredo:
ao caminhar regamos
o nosso nada pelas esquinas
Nasci com a pele escura
num país do trópico
e vim buscá-la a neste estrondo
tão longe da sua voz
que se enredava nas pradarias
imagino-a calando nos tijolos
vejo os seus manuscritos de letras apertadas
como ramos de avareza negra
que se quebram
em qualquer envolvimento
na lista de mercado
e se enlaçam outra vez
para inventar o mundo
Nasci num dez de dezembro como ela
e não trouxe esse silêncio
no entanto
graças ao conjuro
de repetir os seus versos
enquanto mudam os semáforos
estou na onda
ainda
casi dos siglos después
y las cosas han cambiado un poco
desde entonces
su entereza ante el dolor
ni su oído sutil para las revelaciones
donde no llegan los pájaros
sólo un ruido de sirenas
que no canta
aquí todos somos Nadie
pero no hemos aprendido
a guardar el secreto:
nuestra nada en las esquinas
en un país del trópico
y vine a buscarla a este estruendo
tan lejano de su voz
que se enredaba en las praderas
veo sus manuscritos de letras apretadas
que se quiebran
en cualquier envoltura
en la lista de mercado
y se enlazan otra vez
para inventar el mundo
y no traje ese silencio
de repetir sus versos
mientras cambian los semáforos
quase dois séculos depois
e as coisas mudaram um pouco
desde então
a sua integridade perante a dor
nem o seu ouvido subtil para as revelações
onde não chegam os pássaros
só um ruido de sereias
que não canta
aqui todos somos Ninguém
mas não aprendemos
a guardar o secredo:
o nosso nada pelas esquinas
num país do trópico
e vim buscá-la a neste estrondo
tão longe da sua voz
que se enredava nas pradarias
vejo os seus manuscritos de letras apertadas
que se quebram
em qualquer envolvimento
na lista de mercado
e se enlaçam outra vez
para inventar o mundo
e não trouxe esse silêncio
de repetir os seus versos
enquanto mudam os semáforos