31 dezembro 2016

martha mega

lo nuestro
si es
será breve

todo lo bello es breve

no nuestros cuerpos
inabarcables
inacabables
corruptibles

pero los dos

juntos
seríamos una cosa breve
una criatura diminuta
bella de puro terror

un ramito de plumas frescas
un amasijo-regocijo de pétalos

lo nuestro
si es
será breve
casi mejor que no sea

lo bello me enfebrece
me encabrita

y juego a matar
el camino de hormigas
de mi pecho
y a arrancar las alas
de una en una
a todas las palabras dulces


nós
sim é
será breve

todo o belo é breve

não os nossos corpos
inabarcáveis
inacabáveis
corruptíveis

mas os dois

juntos
seríamos uma coisa breve
uma criatura diminuta
bela de puro terror

um raminho de penas frescas
uma mistura-regozijo de pétalas

nós
sim é
será breve
quase melhor que não seja

o belo enfebrece-me
transtorna-me

e brinco a matar
o caminho de formigas
do meu peito
e a arrancar as asas
uma a uma
a todas as palavras doces


29 dezembro 2016

elizabeth molver

Isabel de las cerezas

Basado en el poema de
Juan Gelman: “Cerezas”
y en los ojos de mi abuela

Porque vivía pensando
en los pies de los otros
que pisen blandito y seguro /
que no sientan hambre ni frío
tenía
cerezas en los ojos
dos cerezas brillantes que ilusionaban
olor
a cereza creciendo
con ramitas y todo

quien la miraba quedaba atrapado /
guardaba toda su vida en los ojos

su cuerpo
se disfrazaba de pequeñez
para no inquietar

con sus brazos
rodeaba la casa entera
desde la rosas del porche
hasta el limonero del patio /

—necesito tocar las arrugas de tu codo
para aliviarme /
prestarte mis piernas y que corras sola
adonde quieras ir /
que me retes cuando agarro el dulce
a cucharadas /
verte otra vez lavándote el pelo
pileta del patio jabón blanco
y tus manos haciendo el milagro /
tengo tu santo y no le doy perejil
¿será por eso que nadie consigue trabajo? /
¿cómo hacía el reloj para caminar a tu paso? /
¿por que siempre había una fruta preparada
para los chicos que pedían ?—

ahí andabas, Isabel,
poniendo alfombras para otros
curando heridas con tu mirada
secreteando

¡ay, Isabel siempre andabas !
masitas de crema
el mate a toda hora
cerezas en los ojos

Se me antojan ángeles que caminan por la avenida
a paso lento con arrugas como verdades
o apurados por llegar a ningún sitio
ángeles en bicicleta / en colectivo
un tren lleno de ángeles
ángeles enredados en sus enredos
en enredos ajenos
con cicatrices como única certeza
ángeles sin voz / sin oídos
sin ojos ni espejo donde mirarse
metidos en su mundo-solo
ángeles que buscan su día en una bolsa mugrienta
despojos de los otros
empujados a la nada sin nada
hartos de tanto no
ángeles sin cara de ángeles
alborotan / trastornan / molestan
gritan su silencio
nadie sabe que son ángeles


Isabel das cerejas

Baseado no poema de
Juan Gelman: “Cerezas”
e nos olhos da minha avó

Porque vivia a pensar
nos pés dos outros
que pisem de pelúcia e em segurança /
que não sintam fome nem frio
tinha
cerejas nos olhos
duas cerejas brilhantes que induziam
cheiro
a cereja crescendo
com ramos e tudo

quem a olhava ficava capturado /
guardava toda a sua vida nos olhos
o seu corpo
disfarçava-se de pequenez
para não inquietar
com os seus braços
rodeava a casa inteira
desde as rosas da varanda
até ao limoeiro do pátio /

— preciso de tocar as rugas do teu cotovelo
para me aliviar /
emprestar-te as minhas pernas para que corras sozinha
onde queiras ir /
que me desafies quando pego no doce
às colheradas /
ver-te outra vez a lavra o cabelo
bacia do pátio sabão branco
e as tuas mãos fazendo o milagre /
tenho o teu santo e não lhe dou salsa
será por isso que ninguém consegue trabalho? /
como fazia o relógio para te acompanhar? /
porque havia sempre una fruta preparada
para os rapazes que pediam ?—

por aí andavas, Isabel,
pondo tapetes para outros
curando feridas com o teu olhar
segredando

ah, Isabel sempre andavas !
tartes de creme
o chá a toda a hora
cerejas nos olhos

Parecem-me anjos que caminham pela avenida
em passo lento com rugas como verdades
ou obtidos por não chegarem a nenhum lado
anjos de bicicleta / em coletivo
um comboio cheio de anjos
anjos enredados nos seus enredos
em enredos alheios
com cicatrizes como única certeza
anjos sem voz / sem ouvidos
sem olhos nem espelho onde se verem
metidos no seu mundo só
anjos que procuram o seu dia numa bolsa imunda
despojos de outros
empurrados para o nada sem nada
fartos de tanto não
anjos sem cara de anjos
perturbam / transtornam / molestam
ninguém sabe que são anjos

21 dezembro 2016

maria mercè marçal

Qui em dicta les paraules quan et parlo?
Qui m’incrusta de gestos i ganyotes?
Qui parla i fa per mi? És la Impostora.
M’habitava sense que jo ho sabés
fins que vingueres. Llavors va sorgir
de no sé quines golfes, com una ombra,
i em posseeix com un amant tirànic
i em mou com el titella d’una fira.
I sovint, al mirall, la veig a Ella
rescatada de no sé quina cendra.
No li facis cap cas quan Ella et parla,
encara que m’usurpi veu i rostre.
I si et barra la porta de sortida
amb el seu cos amorós i brutal
cal que la matis sense cap recança.
Fes-ho per mi també i en el meu nom:
Jo la tinc massa endins i no sabria
aturar-me al llindar del suïcidi.


Quem me dita as palavras quando te falo?
Quem me incrusta gestos e trejeitos?
Quem age e fala por mim? É a impostora.
Habitava-me sem que eu o soubesse
até que vieste. Então apareceu
não sei de que sótão, como uma sombra,
e possui-me como um amante tirano
e manipula-me como a uma marioneta de feira.
E muitas vezes, no espelho, olho para Ela
resgatada de não sei quais cinzas.
Não lhe dês troco quando Ela te fala,
mesmo que me usurpe voz e rosto.
E se te impedir a saída pela porta
com o seu corpo amoroso e brutal
tens que a matar sem dó nem piedade.
Fá-lo por mim também e em meu nome:
Vive tão dentro de mim que não saberia
deter-me no dintel do suicídio.


14 dezembro 2016

carmen berenguer

Molusco

Concholepas concholepas.
Me sacaron de mi residencia acuosa
Lo hicieron con violencia, a tirones
brutalmente.
Concholepas concholepas
Estaban armados con cuchillos.
Luego procedieron a meterme
en un saco
¡Concholepas!
Me golpearon ("para ablandarme")
Me lavaron ("para limpiarme")
Entonces, golpeado, ultrajado, semiblando
y limpio
me colocaron en una olla con agua hirviendo
y sal.
Ahora estoy en la cocina
con mayonesa, cebolla y perejil.
Ahora estoy en la vitrina.
Ahora estoy en un cartel.

¡Me van a comer!


Molusco

Lapas, lapas.
Tiraram-me da minha residência aquosa
Com violência, em supetão
brutalmente.
Lapas, lapas.
Estavam armados com facas.
Depois resolveram meter-me
num saco
Lapas!
Agrediram-me ("para me amaciar”)
Lavaram-me ("para me limpar")
Então, agredido, ultrajado, agridoce
e limpo
puseram-me numa onda com água a ferver
e sal.
Agora estou na cozinha
con maionese, cebola e salsa.
Agora estou na montra.
Agora estou num cartel.

Vou ser comido!





11 dezembro 2016

vanessa martínez rivero



Limitó con todos los bailes en un gran salón de huesos frágiles.
Quiso decir: “haré una celda con ellos”
pero con un solo latido se hicieron polvo a su paso.

Quiso escuchar ángeles
y pensó en golondrinas que vio en su trayecto.
Las aves habían perdido las patas por dárselas a los peces
que ya perdían el mar.

No anidan en ningún espacio apocalíptico,
menos hubieran querido trinarle pues cuidaban su pico
que era una brújula desmemoriada.
Cuando el corazón se quedó solo
estaba sostenido de algunas vena
que ya se iban deshermanadas
y estratégicamente guardaban su objetivo final,
llegar al Corazón solo para devorarlo.
Un extraño temblor entró en el corazón solo, sin fe
se abrazó en arcadas,
las venas se debilitaron y soltaron al corazón.
Solo el polvo se disipó.
se contrajo consonantemente en una vocal de odio.
Explosionó.
Quedó un mar de sangre,
todos se juntaron
y bebieron de él.


Limitou com todas as danças num grande salão de ossos frágeis.
Quis dizer: “ Farei uma cela com eles”,
mas com apenas um latido tornaram-se pó à sua passagem.

Quis escutar anjos
e pensou nas andorinhas que viu no seu trajeto
As aves tinham perdido as patas para as dar aos peixes
que já se perdiam no mar.

Não fazem ninho em nenhum espaço apocalíptico,
menos ainda teriam querido trinar-lhe pois cuidavam do seu bico
que era uma bússola desmemoriada
Quando o coração ficou só
estava sustido por algumas veias
que já iam desirmanadas
e estrategicamente mantinham o seu objetivo final,
chegar ao Coração só para o devorar.
Um estranho tremor entrou no coração sozinho, sem fé
abraçou-se em arcadas,
as veias debilitaram-se e soltaram o coração.
Sozinho o pó dissipou-se.
Contraiu-se consonantemente numa vogal de ódio.
Explodiu.
Ficou um mar de sangue,
todos se juntaram
e beberam dele.

09 dezembro 2016

tania carrera


Nazco cada vez que me miro,
mi nombre se escribe con las líneas,
los rasgos.
Mi cara se aparece cada vez que me
nombro.
Se preñan uno a otro mis emblemas.

Tu vientre es la costa pulida.
Muéstramelo,
porque ya no recuerdo mi primera
cara
y me construyo recogiendo los
pedazos.


Nasço cada vez que me olho,
o meu nome escreve-se com as linhas
os traços.
A minha cara aparece cada vez que me
nomeio.
Emprenham-se um ao outro os meus emblemas.

O teu ventre é a costa polida.
Mostra-mo,
porque já não me lembro da minha primeira
cara
e construo-me recolhendo os
pedaços

07 dezembro 2016

sara uribe

No querían decirme nada.

Tadeo no aparece. No querían decirme nada.

Un vaso resbalando de una mano húmeda. Estrépito
de cristales. El nudo en el vientre. El nudo y la náusea.
El nudo. Pequeñas gotas de sangre fresca sobre
los mosaicos.

Un vaso roto ya no es un vaso. Eso pensé. Eso les
dije.

¿Qué es lo que murmuran? ¿Por qué todo lo deslizan
en voz baja? ¿Qué es lo que están deshaciendo? Te
estamos diciendo que Tadeo no aparece. Te estamos
diciendo que somos muchos los que hemos perdido
a alguien.


Não me queriam dizer nada.

Tadeu não aparece. Não me queriam dizer nada.

Um copo resvalando de uma mão húmida. Estrépito
de vidros. O nó no ventre. O nó e a náusea.
O nó. Pequenas gotas de sangue fresco sobre
os mosaicos.

Um copo partido já não é um copo. Foi o que pensei. Foi o
que lhes disse.

Que estão a murmurar? Porque deslizam tudo
em voz baixa? O que estão a desfazer? Estamos
a dizer-te que Tadeu não aparece. Estamos
a dizer-te que somos muitos os que perdemos
alguém.

03 dezembro 2016

marina serrano

Suicidio

Los zapatos acomodados en la orilla, la pollera oscura,
y el orden de las cosas mínimas,
no como celebración sino por costumbre.
Hunde sus arcos en la pulpa tibia blanda y turbia,
el descanso de la carne es su entrega
a las mordidas de cangrejos que trepan hacia la matriz
por aductores que no tardarán en volverse escarcha.
Otros animales aguardan esa escarcha,
el fin del movimiento, el beneficio de lo que cicla
y se deshace.
Nadie sale del río como ha entrado,
aunque haya entrado muerto.


Suicidio

Os sapatos arrumados em baixo, a saia escura,
a ordem das coisas mínimas,
não como celebração mas como hábito.
Afunda os seus arcos na polpa tíbia branda e turva,
o descanso da carne é a sua entrega
às mordeduras de caranguejos que trepam até à matriz
pelos adutores que não tardarão a tornar-se geada.
Outros animais aguardam essa geada,
o fim do movimento, o benefício da ciclagem
do desfeito.
Ninguém sai do rio como entrou,
mesmo que tenha entrado morto.


02 dezembro 2016

andrea lópez kosak


Papá echó raíces no había suelo
apenas espacio para las sombras
un crujido al ajustarnos
en otoño
pálidos nos confundimos
cuando se cerró la puerta
La herida
tiene que tomar aire, dijeron
los demás
espiábamos por un hueco
en la pared las manchas.




O paizinho lançou raízes não havia solo
apenas espaço para as sombras
um estalo para nos ajustarmos
no outono
pálidos nos confundimos
quando se fechou a porta
A ferida
tem que apanhar ar, disseram
os outros
espiávamos por uma fenda
da parede as manchas.

01 dezembro 2016

ana blandiana


Eu cred

Eu cred că suntem un popor vegetal,

De unde altfel liniştea

În care aşteptăm desfrunzirea?

De unde curajul

De-a ne da drumul pe toboganul somnului

Până aproape de moarte,

Cu siguranţa

Că vom mai fi în stare să ne naştem

Din nou?

Eu cred că suntem un popor vegetal-

Cine-a văzut vreodată

Un copac revoltându-se?


Eu creio

Creio que somos um povo vegetal

se fosse doutro modo, como alcandoraríamos à dolência

de estar à espera de sermos desfolhados?

Onde estaria a coragem

para iniciar o deslize num tobogan de sonhos

tão à beira morte,

com a certeza de podermos

nascer outra vez?

Creio que somos um povo vegetal

Quem já viu

uma árvore a revoltar-se?




Patria neliniştii


Aici este patria neliniştii,
Gata să se răzgândească
Din clipă în clipă
Şi, totuşi, nerenunţând să aştepte
Ceva nedefinit.
Aici este patria,
Între pereţii aceştia
La câţiva metri unul de altul,
Şi nici măcar în spaţiul întreg dintre ei,
Ci doar pe masa cu hârtii şi creioane
Gata să se ridice singure şi să scrie,
Schelete brusc animate ale unor condeie mai vechi
Nefolosite de mult, cu pasta uscată,
Lunecând pe hârtie frenetic
Fără să lase vreo urmă...
Aici este patria neliniştii:
Voi reuşi vreodată
Să descifrez urmele care nu se văd,
Dar eu ştiu că există şi aşteaptă
Să le trec pe curat
În patria mea A4 ?


A pátria do desassossego

Esta é a pátria do desassossego
Prestes a mudar de opinião
De um momento para o outro.
E, no entanto, sem renunciar a esperar algo indefinido.
Esta é a minha pátria
Entre estas paredes
A uns metros uns dos outros
E nem mesmo no espaço completo entre eles,
Só na mesa com papel e lápis
Dispostos a mexerem-se sozinhos e começarem a escrever,
Esqueletos animados bruscamente por
umas penas mais antigas,
Não usadas há muito tempo, com a tinta seca,
Que deslizam freneticamente sobre o papel
Sem deixar qualquer vestígio…
Esta é a pátria do desassossego
Conseguirei alguma vez
decifrar os vestígios que não se veem,
mas que sei que existem e que esperam
Que as passe a limpo
Na minha pátria A4?

30 novembro 2016

vanna andreini

Me impresiona mirar la sangre
que sube por la jeringa
me inmovilizo
dentro de la plaqueta de vidrio
que se colorea
mientras recupero la fuerza
por mirar

me impresiona cruzar puentes
no se mantener la vista fija
en la otra orilla
demasiado lejos
siempre demasiado lejos
y voy hipnotizada hacia
el borde
con la firme convicción
de que nada ni nadie podrá
evitar mi caída

con cada puente
reaparece
recurrente y demarcada
la pesadilla aquella
el auto de mi madre
una Dyane naranja
mi hermana y yo
sentadas atrás
veíamos pasar el paisaje sin saber
cómo detener el auto que
caía hacia el río
especularmente
adentro y afuera

no sé cruzar puentes
de ningún tipo
cruzar del italiano al español
fue entonces, a los 15, sentir el abismo
atraerme hacia sí
quedarse sólo con las miradas
mudas de una escena infinita

pasar hoy de uno a otro
es como nadar
y enfrentar la corriente
se puede estar entrenado
se puede conocer el río, los vientos
se puede sentir hasta cierto placer
al desvestirse para sumergirse
pero la llegada al otro lado
pone en riesgo mi cuerpo
que despacio
de vez en vez
se despoja de todo movimiento estético
para asirse a lo necesario
dar brazadas efectivas y resistir
y en la otra orilla
la confusión de un cuerpo cansado
la angustia de la recién llegada
siempre siempre recién llegada
de un lado y del otro
del curso del río.


Impressiona-me olhar o sangue
que sobe pela seringa
imobilizo-me
dentro da peça de vidro
que se colora
enquanto recupero a força
por olhar

Impressiona-me atravessar pontes
não manter a vista fixa
na outra margem
demasiado longe
sempre demasiado longe
e vou hipnotizada até à margem
com a firme convicção
de que nada nem ninguém poderá
evitar a minha queda

com cada ponte
reaparece
recorrente e demarcada
o pesadelo em que
o carro da minha mãe
uma Diane laranja
a minha irmã e eu
víamos passar a paisagem sem saber
como parar o carro que
caía para o rio
especularmente
dentro e fora

não sei atravessar pontes
de nenhum tipo
atravessar do italiano ao espanhol
foi então, aos 15, sentir o abismo
atrair-me para si
ficar apenas com os olhares
mudos de uma cena infinita

passar hoje de uma à outra
é como nadar
e enfrentar a corrente
pode estar-se treinado
pode conhecer-se o rio, os ventos
pode sentir-se até um certo prazer
em despir-se para submergir
mas a chegada ao outro lado
põe em risco o meu corpo
que devagar
uma vez por outra
se despoja de todo o movimento estético
para se agarrar ao necessário
dar braçadas efectivas e resistir
e na outra margem
a confusão de um corpo cansado
a angústia da recém chegada
sempre sempre recém chegada
de um lado e do outro
do curso do rio.