04 maio 2022

tamara kamenszain


Soy la okupa de mi propia casa

desde que la propiedad se fue de mí

ya no tengo escritura y como en los sueños

la puerta de entrada me espera afuera

para que todo empiece de nuevo

atravieso de canto esa hospitalidad

atrás de los cuadros debajo de los muebles

se aquerencia un techo nuevo

donde hubo hogar quedan fotogramas

vos tú él el hombre con la cama doble

mudado por el cuarto a la deriva paso a paso

los libros del living lo siguen arrastrados

en un maletín que se desfonda y es en el baño

donde la mochila ruge por última vez.

Hablo de un inodoro que nos traga lejos

hasta otras casas.



Sou okupa da minha própria casa

desde que a propriedade desertou de mim

já não tenho escritura e tal como nos sonhos

a porta de entrada espera-me de fora

para que tudo comece de novo

vou para o canto dessa hospitalidade

atrás dos quadros debaixo dos móveis

adquiri-se um teto novo

onde houve lar ficam fotogramas

vocês, tu, ele, o homem com a cama dupla

mudado pelo quarto à deriva passo a passo

os livros da sala seguem-no arrastados

numa maleta que se afunda e é na banheira

onde a mochila ruge pela última vez.

Falo de um inodoro que nos bebe longe

até outras casas.




Sola


Ahora que por fin estoy desvelada

como para comprobar que algo crecí

sé que no solo la sonrisa de aquel hombre

sino también sus gestos

y que no solo ésos gestos

sino también sus palabras

todo me alcanza puedo caminar

acróbata tambaleante pero segura

por la cuerda floja de mi propia casa



Sozinha


Agora, estando finalmente desvelada

como para comprovar que qualquer coisa cresci

sei que não só o sorriso daquele homem

como também os seus gestos

e que não só esses gestos

como também as suas palavras

tudo me alcança posso caminhar

acrobata cambaleante mas segura

pela corda bamba da minha própria casa