Caronte
Entre las cazuelas
las hormigas se llevan
las migajas de tiempo esparcidas.
¿Vendrás mientras preparo el café
al viejo de pronto desconocido
que finge leer bajo el limonero?
¿o estás entre los cojines del sillón
atestado de pelos de gatos
de mi sala,
o en las saladas gavetas
del armario de cucharas?
El golpe contra las aguas de tu barca
o me perturba
sé que me llevarás
ahí
donde otros vientos crecen
y las noches se arremolinan indefinidamente,
las caracolas ya no vociferan nombres
y las revueltas corrientes del río han difuminado
los deshilachados fragmentos de la memoria.
Caronte
Por entre as caçarolas
as formigas levam
as migalhas de tempo espalhadas.
Virás enquanto preparo o café
ao velho de repente desconhecido
que finge ler debaixo do limoeiro?
Ou estás entre as almofadas do sofá
cheio de pelos de gatos
da minha sala de estar,
ou nas gavetas salgadas
do armário das colheres?
O bater contra as águas do teu barco
ou me perturba
sei que me levarás
aí
onde outros ventos crescem
e as noites redemoinham indefinidamente,
as conchas já não vociferam nomes
e as revoltas correntes do rio atomizaram
os desfiados fragmentos da memória.