16 dezembro 2017

fanny enrigue

El cielo de los mustangs

El cuerpo humano
no es más
que un globo de carne
y sangre o así
parecía
desde la ventana
cuando empezó la catástrofe.

Pensé
en medio del pánico
en el auto de lujo
que había visto esfumarse
de mi mente gracias a la meditación
budista.
Vi fugaz su brillo
allá abajo
junto a los cuerpos rotos.

Quise saltar por esa ventana
pero me detuve:
estaba
en el primer piso.

O céu dos mustangs

O corpo humano
mais não é
que um globo de carne
e sangue ou assim
parecia
da janela
quando começou a catástrofe.

Pensei
no meio do pânico
no carro de luxo
que vi esfumar-se
da minha mente graças à meditação
budista.
Vi fugaz o seu brilho
ali em baixo
ao pé dos corpos estilhaçados.

Quis saltar pela janela
mas detive-me:
estava
no primeiro andar.

14 dezembro 2017

volja hapeyeva

КАЛІ ТЫ дрэва
а вецер сышоў ад цябе

стаяць нерухома можна стагодзьдзямі

і што табе птушкі зь іх звонкімі песьнямі лета

калі ты дрэва
ад якога сышоў вецер

Se fores uma árvore
abandonada pelo vento
podes permanecer imóvel ao longo dos séculos
sem te importarem os pássaros com as suas melodiosas canções de verão
se fores
uma árvore
abandonada pelo vento

12 dezembro 2017

mary coryle

Besame

Bésame en la boca,
tentación sangrienta
que en el marfilino
color de mi tez
tu mirada aloca;
bésala, tuya es.
Toma y aprisiona
mis labios, retenlos
mucho, mucho tiempo
dentro de tu boca
y quede en la mía
la huella imprecisa
de tu beso eterno.
Ahoga mi risa
sofoca mi aliento
con tu dicha loca:
bésame en la boca.
Bésame en los senos:
armiño escondido
tras la caridad
leve del vestido:
inquietante dúo
de rosas gemelas;
dormidas palomas
en un mismo nido;
de esencia de vida
llenecitas pomas.
Mis senos ... mis senos ...
blancura encendida
con yemas de rosas.
Mis senos ...
ondulantes, plenos:
bésame en los senos


Beija-me

Beija-me na boca
tentação sangrenta
que na ebúrnea
cor da minha tez
o teu olhar enlouquece;
beija-a, é tua.
Toma e prende
os meus lábios, fica neles
muito, muito tempo
dentro da tua boca
e fique na minha
a marca imprecisa
do teu beijo eterno.
Afoga o meu riso
sufoca-me o fôlego
com o teu improviso louco:
beija-me na boca.
Beija-me nos seios:
arminho escondido
por trás da caridade
leve do vestido :
inquietante dueto
de rosas gémeas;
pombas adormecidas
no mesmo ninho;
da essência da vida
crescidinhas maçãs.
Os meus seios… os meus seios …
brancura acesa
com gomos de rosas.
Os meus seios…
ondulantes, plenos:
beija-me nos seios



10 dezembro 2017

sereine berlottier

3 janvier

On ouvre le cahier
à la dernière limite des forces du jour
et il fait nuit.

On ouvre le cahier comme si
c’était la toute dernière des tâches, la moins hésitante, la plus
bornée.
On se sent sale
de toutes les choses du jour.
On les porte encore
Elles s’interposent
On ne les quitte pas.

On ouvre le cahier
et le temps de faire un peu de silence
et d’avancer
les mèches de soucis qu’on a dans les yeux

On écoute
ce sont d’autres pas dans la rue qui traversent

Une musique ailleurs et le bruit d’un enfant plus tard

On colle l’oreille à ce ventre
comme si on cherchait pour de bon

si on a mal
on fait comme si
c’était une façon d’avoir une histoire encore

3 de janeiro

Abre-se o caderno
no derradeiro limite das forças do dia
e é noite.

Abre-se o caderno como se
fosse a última das tarefas, a menos hesitante, a mais
obstinada.
Sentimo-nos sujos
por todas as coisas do dia,
Ainda com elas andamos
Estão interpostas
Não as deixamos.

Abre-se o caderno
e o tempo de instaurar algum silêncio
e seguir
as mechas de angústias que levamos nos olhos

Escutamos
são outros passos na rua que atravessam

Uma música algures e o barulho de uma criança mais tarde

Colamos o ouvido a este ventre
como se procurássemos para sempre

se estamos mal
fazemos como se
fosse uma maneira de ainda ter uma história.

02 dezembro 2017

karin boye

Ingenstans

Jag är sjuk av gift. Jag är sjuk av en törst,
till vilken naturen icke skapade någon dryck.

Ur alla marker springer bäckar och källor.
Jag böjer mig ner och dricker ur jordens ådror
dess sakrament.

Och rymderna svämmar över av heliga floder.
Jag sträcker mig upp och känner läpparna våta
av vita exstaser.

Men ingenstans, ingenstans...

Jag är sjuk av gift. Jag är sjuk av en törst,
till vilken naturen icke skapade någon dryck.


Em nenhum lugar

Estou doente de um veneno. Estou doente de uma sede,
da natureza nenhum líquido que a tempere.

Da terra, fontes e arroios.

Inclino-me e bebo das veias da terra
o seu sacramento.

O espaço está inundado de rios sagrados.
Levanto-me e sinto os lábios banhados
de  arrebatamento branco.

Porém, em nenhum lugar, em nenhum lugar ...

Doente de um veneno. Doente de uma sede,
da natureza nenhum líquido que a tempere.



01 dezembro 2017

rosario murillo

Hombre, de qué nos sirven las noches

Hombre, de qué nos sirven las noches
si hemos abandonado el amor
solo a su propia suerte
mudo y arrinconado como una anciana guitarra
que dejó de cantar.
Para qué sirve la brisa, este amarillo que encendimos
los barquitos de papel sobre el estanque del parque
los chingorros brillantes que dejamos
sobre la misma pared donde claváramos, ilusionados,
los sueños.
De qué nos sirve este montón de esperanza entre las manos
a qué jugar con gotas de rocío que nos empapen el cuerpo
con tardes que nos enciendan el pelo
a qué, si hemos perdido la tierra
y la batalla.

Homem, para que nos servem as noites

Homem, para que nos servem as noites
se abandonámos o amor
à sua sorte
mudo e acantonado como uma velha guitarra
que deixou de tocar.
Para que serve a brisa, este amarelo que acendemos
os barquinhos de papel no lago do parque
os gorros brilhantes que deixamos
na mesma parede onde craváramos, iludidos,
os sonhos.
Para que nos serve este monte de esperança entre as mãos
para quê brincar com gotas de geada que nos empapam o corpo
com as tardes que nos acendem os cabelos
para quê, se perdemos a terra
e a batalha.



25 novembro 2017

cecilia bustamante

El perfume de los campos de mi patria

El perfume de los campos de mi patria
dista, pero no se pierde.
Los cielos que me cubren
poseen la estrella de mis padres
y los ríos que llegan de las altas lagunas
acarician la simiente,
que colma las retamas florecidas.

Estos hombres que saludan
son los hombres de mi patria,
acallados y lejanos junto al río,
anidando en la noche hasta que brote el día.

Yo les ofrezco la inquietud de mi corazón
y la calma de mi mano vacía.


O perfume dos campos da minha pátria

O perfume dos campos da minha pátria
está longe, mas não se perde.
Os céus que me cobrem
possuem a estrela dos meus pais
e os rios que chegam das altas lagoas
acariciam a semente,
que enche as giestas em flor.

Este homens que cumprimentam
são os homens da minha pátria,
ocultos e longínquos ao pé do rio,
aninhando na noite até ao nascer do dia.

Ofereço-lhes a inquieração do meu coração

e a calma da minha mão vazia

19 novembro 2017

magda portal

11-

el gran ruido del mar estrellándose en las paredes de
[mi cráneo-
En cuyos frontales golpea la idea
De las más libre libertad
Para extender mis manos afiladas i firmes
A los muros cerrados de la muerte-

alegre capacidad de los sentidos
para desamarrarse de las costas de amor
i salir sobre los mares desconocidos
a los puertos sin nombre

11-

o grande barulho do mar estrepitando-se nas paredes do
[meu crânio-
Em cujos frontais golpeia a ideia
Da mais livre liberdade
Para estender as minhas mãos afiadas e firmes
Às paredes encerradas da morte-

alegre capacidade dos sentidos
para se desembaraçar dos custos do amor
e sair por mares desconhecidos
aos portos sem nome-