12 dezembro 2017

mary coryle

Besame

Bésame en la boca,
tentación sangrienta
que en el marfilino
color de mi tez
tu mirada aloca;
bésala, tuya es.
Toma y aprisiona
mis labios, retenlos
mucho, mucho tiempo
dentro de tu boca
y quede en la mía
la huella imprecisa
de tu beso eterno.
Ahoga mi risa
sofoca mi aliento
con tu dicha loca:
bésame en la boca.
Bésame en los senos:
armiño escondido
tras la caridad
leve del vestido:
inquietante dúo
de rosas gemelas;
dormidas palomas
en un mismo nido;
de esencia de vida
llenecitas pomas.
Mis senos ... mis senos ...
blancura encendida
con yemas de rosas.
Mis senos ...
ondulantes, plenos:
bésame en los senos


Beija-me

Beija-me na boca
tentação sangrenta
que na ebúrnea
cor da minha tez
o teu olhar enlouquece;
beija-a, é tua.
Toma e prende
os meus lábios, fica neles
muito, muito tempo
dentro da tua boca
e fique na minha
a marca imprecisa
do teu beijo eterno.
Afoga o meu riso
sufoca-me o fôlego
com o teu improviso louco:
beija-me na boca.
Beija-me nos seios:
arminho escondido
por trás da caridade
leve do vestido :
inquietante dueto
de rosas gémeas;
pombas adormecidas
no mesmo ninho;
da essência da vida
crescidinhas maçãs.
Os meus seios… os meus seios …
brancura acesa
com gomos de rosas.
Os meus seios…
ondulantes, plenos:
beija-me nos seios



10 dezembro 2017

sereine berlottier

3 janvier

On ouvre le cahier
à la dernière limite des forces du jour
et il fait nuit.

On ouvre le cahier comme si
c’était la toute dernière des tâches, la moins hésitante, la plus
bornée.
On se sent sale
de toutes les choses du jour.
On les porte encore
Elles s’interposent
On ne les quitte pas.

On ouvre le cahier
et le temps de faire un peu de silence
et d’avancer
les mèches de soucis qu’on a dans les yeux

On écoute
ce sont d’autres pas dans la rue qui traversent

Une musique ailleurs et le bruit d’un enfant plus tard

On colle l’oreille à ce ventre
comme si on cherchait pour de bon

si on a mal
on fait comme si
c’était une façon d’avoir une histoire encore

3 de janeiro

Abre-se o caderno
no derradeiro limite das forças do dia
e é noite.

Abre-se o caderno como se
fosse a última das tarefas, a menos hesitante, a mais
obstinada.
Sentimo-nos sujos
por todas as coisas do dia,
Ainda com elas andamos
Estão interpostas
Não as deixamos.

Abre-se o caderno
e o tempo de instaurar algum silêncio
e seguir
as mechas de angústias que levamos nos olhos

Escutamos
são outros passos na rua que atravessam

Uma música algures e o barulho de uma criança mais tarde

Colamos o ouvido a este ventre
como se procurássemos para sempre

se estamos mal
fazemos como se
fosse uma maneira de ainda ter uma história.

02 dezembro 2017

karin boye

Ingenstans

Jag är sjuk av gift. Jag är sjuk av en törst,
till vilken naturen icke skapade någon dryck.

Ur alla marker springer bäckar och källor.
Jag böjer mig ner och dricker ur jordens ådror
dess sakrament.

Och rymderna svämmar över av heliga floder.
Jag sträcker mig upp och känner läpparna våta
av vita exstaser.

Men ingenstans, ingenstans...

Jag är sjuk av gift. Jag är sjuk av en törst,
till vilken naturen icke skapade någon dryck.


Em nenhum lugar

Estou doente de um veneno. Estou doente de uma sede,
da natureza nenhum líquido que a tempere.

Da terra, fontes e arroios.

Inclino-me e bebo das veias da terra
o seu sacramento.

O espaço está inundado de rios sagrados.
Levanto-me e sinto os lábios banhados
de  arrebatamento branco.

Porém, em nenhum lugar, em nenhum lugar ...

Doente de um veneno. Doente de uma sede,
da natureza nenhum líquido que a tempere.



01 dezembro 2017

rosario murillo

Hombre, de qué nos sirven las noches

Hombre, de qué nos sirven las noches
si hemos abandonado el amor
solo a su propia suerte
mudo y arrinconado como una anciana guitarra
que dejó de cantar.
Para qué sirve la brisa, este amarillo que encendimos
los barquitos de papel sobre el estanque del parque
los chingorros brillantes que dejamos
sobre la misma pared donde claváramos, ilusionados,
los sueños.
De qué nos sirve este montón de esperanza entre las manos
a qué jugar con gotas de rocío que nos empapen el cuerpo
con tardes que nos enciendan el pelo
a qué, si hemos perdido la tierra
y la batalla.

Homem, para que nos servem as noites

Homem, para que nos servem as noites
se abandonámos o amor
à sua sorte
mudo e acantonado como uma velha guitarra
que deixou de tocar.
Para que serve a brisa, este amarelo que acendemos
os barquinhos de papel no lago do parque
os gorros brilhantes que deixamos
na mesma parede onde craváramos, iludidos,
os sonhos.
Para que nos serve este monte de esperança entre as mãos
para quê brincar com gotas de geada que nos empapam o corpo
com as tardes que nos acendem os cabelos
para quê, se perdemos a terra
e a batalha.



25 novembro 2017

cecilia bustamante

El perfume de los campos de mi patria

El perfume de los campos de mi patria
dista, pero no se pierde.
Los cielos que me cubren
poseen la estrella de mis padres
y los ríos que llegan de las altas lagunas
acarician la simiente,
que colma las retamas florecidas.

Estos hombres que saludan
son los hombres de mi patria,
acallados y lejanos junto al río,
anidando en la noche hasta que brote el día.

Yo les ofrezco la inquietud de mi corazón
y la calma de mi mano vacía.


O perfume dos campos da minha pátria

O perfume dos campos da minha pátria
está longe, mas não se perde.
Os céus que me cobrem
possuem a estrela dos meus pais
e os rios que chegam das altas lagoas
acariciam a semente,
que enche as giestas em flor.

Este homens que cumprimentam
são os homens da minha pátria,
ocultos e longínquos ao pé do rio,
aninhando na noite até ao nascer do dia.

Ofereço-lhes a inquieração do meu coração

e a calma da minha mão vazia

19 novembro 2017

magda portal

11-

el gran ruido del mar estrellándose en las paredes de
[mi cráneo-
En cuyos frontales golpea la idea
De las más libre libertad
Para extender mis manos afiladas i firmes
A los muros cerrados de la muerte-

alegre capacidad de los sentidos
para desamarrarse de las costas de amor
i salir sobre los mares desconocidos
a los puertos sin nombre

11-

o grande barulho do mar estrepitando-se nas paredes do
[meu crânio-
Em cujos frontais golpeia a ideia
Da mais livre liberdade
Para estender as minhas mãos afiadas e firmes
Às paredes encerradas da morte-

alegre capacidade dos sentidos
para se desembaraçar dos custos do amor
e sair por mares desconhecidos
aos portos sem nome-



14 novembro 2017

flaminia cruciani

He sido parida por un hombre
por el dolor de su oreja
en la alegrHe sido parida por un hombre
por el dolor de su oreja
en la alegría de un resto de eternidad
raspado en el fondo del fuego
por manos donde estaba escondido un dios.
Nosotros, es verdad, tenemos la misma sangre magnética
quieres castigarme porque lo parezco
porque de mí solo has acunado las reliquias
porque he nacido póstuma
y te buscas en mí, pero no te encuentras
porque solo soy una mortaja
un rosario de flamas que ruega al cielo.


Fui parida por um homem
pela dor da sua orelha
na alegria de uma cópia de eternidade
rasurada no fundo do fogo
por mãos onde se escondia um deus.
Nós, é verdade, temos o mesmo sangue magnético
queres punir-me pelo que pareço
que de mim só aninhaste as relíquias
que nasci póstuma
e procuras-te em mim mas não te encontras
que apenas sou uma mortalha
um rosário de chamas implorando os céus.ía de un resto de eternidad
raspado en el fondo del fuego
por manos donde estaba escondido un dios.
Nosotros, es verdad, tenemos la misma sangre magnética
quieres castigarme porque lo parezco
porque de mí solo has acunado las reliquias
porque he nacido póstuma
y te buscas en mí, pero no te encuentras
porque solo soy una mortaja
un rosario de flamas que ruega al cielo.


Fui parida por um homem
pela dor da sua orelha
na alegria de uma cópia de eternidade
rasurada no fundo do fogo
por mãos onde se escondia um deus.
Nós, é verdade, temos o mesmo sangue magnético
queres punir-me pelo que pareço
que de mim só aninhaste as relíquias
que nasci póstuma
e procuras-te em mim mas não te encontras
que apenas sou uma mortalha

um rosário de chamas implorando os céus.

08 novembro 2017

bibiana bernal

Pájaro de piedra

Ser de piedra y creerse pájaro
porque el viento propaga el polvo de las manos.

Verse ave en el reflejo,
aunque inmóvil sobre el asfalto,
abrasado por la luz de las cinco de la tarde.

Saberse nido
en un recodo del día que agoniza,
sin poder roer el aire.

Ser de carne y creerse hoja o pluma
y al final de la jornada ser quien cae.

Ser uno y creerse otro y otro y otro,
hasta anochecer sobre sí mismo
y volver al origen,
donde la arcilla no tenía rostro
y las alas no pesaban tanto.


Pássaro de pedra

Ser de pedra e julgar-se pássaro
porque o vento propaga o pó das mãos.

Ver-se ave no reflexo,
embora imóvel no asfalto,
abrasado pela luz das cinco da tarde.

Saber-se ninho
num recuncho do dia que agoniza,
sem poder roer o ar.

Ser de carne e julgar-se folha ou pena
e no fim do dia ser quem cai.

Ser um e julgar-se outro e outro e outro,
até sobre si anoitecer
e voltar à origem,
onde a argila não tinha rosto

e as asas não pesavam tanto.

03 novembro 2017

estelle fenzy

La forêt en son sommeil se rassemble après toi. Son œil fugitif mord les cimes. Superpose les rayons.
Ce sont de muettes effusions. Dans une lumière en sourdine.
Et tout à coup – la nuit.
La forêt pleine à nouveau. Unie, mousse et rideau. Espace éperdu, écheveau de légendes.
Comme, au fond de soi, l’entière origine du cœur animal. Délesté de ses peurs.

O bosque no seu sono dobra-se depois de ti. O seu olho fugitivo morde os altos. Sobrepõe os raios.
São efusões mudas. Numa luz em surdina.
E de repente – a noite.
O bosque pleno de novo. Unido, musgo e cortina. Espaço intenso, acervo de lendas.


Como, no fundo de si, a inteira origem do coração animal. Despojado dos seus medos.

27 outubro 2017

julieta marchant

CAMINAMOS PENSANDO en el nombre
en su obrar sigiloso
el lento proceder de una palabra.
Lo que heredé de mi madre y lo que ella de la suya heredó:
un nombre endurecido por el tiempo
la etiqueta que la carne tolera.
El rastro que en nosotras se abandona
los cuerpos reposan en su quietud imaginaria
de mi madre me separa un muro
a través de él la escucho quejarse
su desvelo me sostiene.
Huye la imagen y con ella el invierno
–las estaciones cavan la ausencia–
resguardo una escena, circula adentro el trazo que la borra.
Si pudiese escribir sobre un recuerdo cualquiera
que en el trayecto se resistiera a la inmovilidad
la letra un puñado de plumas que sepultadas pretenden.
Esta lejanía atesora un cadáver.
Las manos de mi abuela trenzaron un pasado distinto al de las fotografías
avizoro una cierta cadencia en el reloj oprimiendo su muñeca
el pelo terso, su canosidad embrutecida por el limón
la enagua acaso, los objetos –pensamos–
mientras mi madre clasifica vestidos que nadie volverá a usar.
Lo que alguna vez cubrió un cuerpo ahora lo descubre
inservible y desposeído de sus partes.
Desmantelo la casa
me ovillo entonces
por el contacto con la muerte replegarse hacia la infancia
retroceder
protejo retazos
zurzo
donde la tela cede y oscurece la memoria
aprieto la mano.
Restituir la herencia de un nombre
con otro que recubre el espacio que el primero desdeñó
un origen fraguado apenas
reconocerse tal vez
en el olvido ajeno
las palabras flotan y rajan.
Estrechas salas de estar amontono:
esquinado el patio de hibiscus, mi madre anudando tallos
rudimentarias estrategias para encauzar un árbol aún minúsculo
yo amarro también, por imitación o desgano:
una cierta tendencia al orden
o la fe heredada en los métodos.
Simultáneos nudos poblando el paisaje
caracoles quebrados en el trayecto involuntario de un niño
breves muertes en mi pequeño pie resuenan.
El pulso empuja hacia el interior, redimo lo impreciso
que me habita cuando intento alcanzar
la huella de mi pie
su absurda rebeldía al arquearse hacia adentro
las plantillas que intentaron refrenarlo
(un cuerpo manifiesta su diferencia).
Los zapatos de mi abuela deformados
sus dedos martilleando la gamuza
la gruesa cicatriz vertical que cruza el empeine de mi madre
y quiebra el ángulo de la pierna.
Las diferencias nos hicieron el nombre.
En el patio un árbol atado a otro mayor simula perfección
me sobrepongo un vestido que nadie volverá a usar
ella dobla y clasifica prendas aún tibias
que en cajas preservarán su color.
Lo que una vez cobijó y que ahora la carne despoja.
Enmiendo mi nombre, me reanudo.

CAMINHAMOS PENSANDO no nome
na sua operação sigilosa
o lento processo de uma palavra.
O que herdei da minha mãe e o que ela herdou da sua :
um nome endurecido pelo tempo
a etiqueta que a carne tolera.
O rasto que em nós se abandona
os corpos repousam na sua quietude imaginária
da minha mãe separa-me uma parede
através da qual a oiço queixar-se
o seu desvelo me sustém.
Foge a imagem e com ela o inverno
- as estações cavam a ausência -
Preservo uma cena, circula por dentro o traço que a apaga.
Se pudesse escrever sobre uma recordação qualquer
que no trajeto resistisse à imobilidade
a letra um punhado de penas que sepultadas pretendem.
Esta lonjura aprecia um cadáver.
As mãos da minha avó entrelaçaram um passado diferente das fotografias
entrevejo uma certa cadência no relógio oprimindo o seu pulso
o cabelo macio, o seu grisalho embrutecido pelo limão
a combinação porventura, os objetos – pensamos -
enquanto a minha mãe classifica vestes que ninguém voltará a usar.
Aquilo que certa vez cobriu o corpo, descobre-o agora
inútil e despossuído das suas partes.
Desmantelo a casa
enovelo-me então
pelo contacto com a morte recuar até à infância
retroceder
protejo retalhos
zurzo
onde o tecido cede e obscurece a memória
aperto a mão.
Restituir a herança de um nome
com outro que preenche o espaço que o primeiro desdenhou
uma origem forjada apenas
reconhecer-se talvez
no esquecimento alheio
as palavras descolam e racham.
Estreitas salas de estar amontoado:
dobrado o pátio de hibiscos, a minha mãe amarrando talos
rudimentares estratégias para encaminhar uma árvore ainda min+uscula
eu amarro também, por imitação ou desalento :
uma certa tendência para a ordem
ou a fé herdada nos métodos.
Simultâneos nós povoando a paisagem
caracóis quebrados no trajeto involuntário de uma criança
breves mortes no meu pequeno pé ressoam.
A pulsação empurra para o interior, redimo o impreciso
que me habita quando tento alcançar
a marca do meu pé
a sua absurda rebeldia em arquear-se para dentro
as palmilhas que o tentaram refrear
(um corpo manifesta a sua diferença).
Os sapatos da minha avó deformados
os seus dedos martelando a camurça
a espessa cicatriz vertical que cruza o peito do pé da minha mãe
e quebra o ângulo da perna.
As diferenças fizeram-nos o nome.
No pátio uma árvore atada a outra maior simula perfeição
sobreponho em mim um vestido que ninguém voltará a usar.
ela dobra e classifica peças ainda quentes
que nas caixas preservaram a sua cor.
O que uma vez cobiçou e que agora a carne despoja
Emendo o meu nome, recomeço-me.

18 outubro 2017

aracelis girma


Elegy

What to do with this knowledge
that our living is not guaranteed?

Perhaps one day you touch the young branch
of something beautiful. & it grows & grows
despite your birthdays & the death certificate,
& it one day shades the heads of something beautiful
or makes itself useful to the nest. Walk out
of your house, then, believing in this.
Nothing else matters.

All above us is the touching
of strangers & parrots,
some of them human,
some of them not human.
Listen to me. I am telling you
a true thing. This is the only kingdom.
The kingdom of touching;
the touches of the disappearing, things.


Elegia

Que fazer sabendo
que a nossa vida não está garantida?

Talvez um dia contactes o ramo jovem
de algo belo. E tal cresça e cresça
apesar do teu aniversário e do teu óbito,
e ensombre as cabeças de alguma coisa bela
ou se torne útil ao ninho. Põe-te a andar
da tua casa então, nessa crença,
Nada mais importa.

Acima de tudo e todos está o tato
de estranhos e papagaios,
alguns humanos
alguns não humanos.

Ouve. Digo-te
uma coisa verdadeira. Este é o único reino.
O reino do tato:

o contacto ao evanescente, coisas.