12 janeiro 2023

nil didier

 

L’année de ses trois ans, l’enfant comprit qu’elle déposerait un jour l’anse de son chemin. L’idée de

la mort fut celle de la solitude intacte, éblouissante ; l’ivoire marin qu’elle avait ramassé sur le visage

d’une passante quelques jours auparavant. Un noyau emmuré dans un fruit oublié des oiseaux.

*

J’ai ouvert une ligne en son centre ;

y coulait quelques gouttes de liquide amniotique

dont tu avais laissé un petit réservoir

pour l’avenir d’un langage qui s’ignorait.

*

S’étendait sous ses pieds le damier des décennies semblables à des cales de bateaux.

Il y avait demeuré entre deux mondes, imperceptiblement logé sous le niveau du fleuve mais tenu

à respirer l’oxygène ballotant la petite embarcation que sa mère avait lancée sur le courant le jour

de sa naissance.

Nous pouvons croire à tout ce qui nous serre le cœur : la somme des rives perdues, la somme des

rives invisibles.




No ano dos seus três anos, a criança compreendeu que um dia ela depositaria a alça do seu caminho. A ideia da morte foi a da solidão intacta, deslumbrante; o marfim marinho que tinha apanhado no rosto

de uma frequência alguns dias antes. Um nó preso em fruta esquecida dos pássaros.

*

Abri uma linha no seu centro;

onde vertiam algumas gotas de líquido amniótico

de que deixaste um pequeno tanque

para o futuro de uma linguagem que se ignorava.

*

Sob os seus pés estendia-se o tabuleiro de xadrez das décadas semelhantes aos calços dos barcos.

Lá tinha permanecido entre dois mundos, imperceptivelmente alojado abaixo do nível do rio mas mantido a respirar o oxigénio baloiçando o pequeno barco que a sua mãe tinha lançado durante o dia do seu nascimento.

Podemos acreditar em tudo o que nos aperta o coração: a soma das margens perdidas, a soma das

margens invisíveis.