28 junho 2021

luisa miñana

Amante con cigarrillo


Te deberé la vida, afirmo en voz muy baja, sin oxígeno.

Y él piensa que lo digo como una parte más de este juego amatorio que los dos nos traemos. El riesgo azuza las ganas

de ofertarle la piel en prenda. Y él recorre primero mis piernas con su boca y estruja luego mis costillas.

Te deberé la vida. Y él golpea

en el único peldaño de mi cuerpo que no me pertenece.

Por fin la muerte ablanda mi vida equivocada. Y oigo

la balacera en el cuarto de al lado. Se echa a un lado en la cama y su risa es brutal e inacabable. Ya no le teme a nada.

Llega un sms a mi teléfono. Fumo. Susurro: no podemos salir hasta mañana, hay redada. Ok, me dice, y fuma, bebe un trago, y me apunta con el mando a distancia de la televisión.


Amante com cigarro


Devo-te a vida, afirmo em voz muito baixa, sem oxigénio.

E ele pensa que eu digo isso como uma parte mais deste jogo amador que nós dois trazemos. O risco exarceba a vontade

de lhe oferecer a pele em penhor. E ele percorre primeiro as minhas pernas com a sua boca e aperta depois as minhas costelas.

Devo-te a vida. E ele bate

no único degrau do meu corpo que não me pertence.

Por fim, a morte enfraquece a minha vida enganada. E ouço

o tiroteio no quarto ao lado. Deita-se num lado da cama e o seu riso é brutal e sem fim. Já não tem medo de nada.

Chega um sms ao meu telemóvel. Fumo. Sussurro: não podemos sair até amanhã, há uma rusga. Ok, diz-me, e fuma, bebe um trago, e aponta-me com o controle remoto da televisão.