19 setembro 2020

maría auxiliadora balladares


Sudor

Siempre he querido ver cómo brota el sudor de tus poros
Me interesa menos su recorrido sobre tu piel
Éste es circunstancial
Aquello es de vida o muerte
He observado con detenimiento tus radiografías
Tus tomografías
Tus resonancias
He dado con la casi imperceptible desviación de tu columna
He concluido que tus órganos son pequeños
Durante días repetí el gesto de medir el tamaño del hematoma
Observé el cambio de color
Anoté el tiempo que toma pasar del verde al morado
Del morado al negro
Del negro al color de tu piel
Mirar hacia dentro como si no fueses tú
Me parece bastante ridículo
Tengo que familiarizarme con tus venas
Con tus nervios
Con las capas subcutáneas
He visto una y otra vez en video tus pólipos
Los he contado
Los reconozco
Son mis hermanos
He imaginado la intervención en tu útero
De aquello no quedan registros
Por eso me vuelvo un poco loca
Me desespero
Y en esas circunstancias prefiero no tener nada al alcance de las manos
He mirado tantas veces tu sangre
Conservé en el carro por más de un año
El sombrero y el chal que llevabas
El día del accidente de caballo
Verlos me recordaba que no soportaría tu muerte
Imagino el estado de tu cerebro entonces
Camino del hospital
Te pedía que no te durmieras
Conversaba contigo para mantenerte despierta
Hacías preguntas que me llenaban de terror
Preguntas simples que me llenaban de terror
He revisado tus medicinas
Memorizado sus componentes
Sus efectos secundarios
Te he visto sonrojarte efecto de la alegría y de la vergüenza
He apoyado mi cabeza en tu vientre
Reconozco todos los lenguajes de tu cuerpo

Soy una vidente
Puedes preguntarme cualquier cosa
Te responderé presto
Porque soy la lama que crece en los bordes de tus piernas


Suor

Sempre quis ver como brota o suor dos teus poros
Interessa-me menos o seu deslizar pela tua pele
Este último é circunstancial
O outro é de vida ou morte
Observei com atenção as tuas radiografias
As tua tomografias
As tuas ressonâncias
Detetei o quase impercetível desvio da tua coluna
Concluí que os teus órgãos são pequenos
Durante dias repeti o gesto de medir o tamanho do hematoma
Observei a mudança de cor
Anotei o tempo que leva passar do verde para o avermelhado
Do avermelhado ao negro
Do negro à cor da tua pele
Olhar para dentro como se não fosses tu
Parece-me bastante ridículo
Tenho de me familiarizar com as tuas veias
Com os teus nervos
Com as camadas subcutâneas
Vi e voltei a ver em vídeo os teus pólipos
Contei-os
Reconheço-os
São meus irmãos
Imaginei a intervenção no teu útero
Disso não ficam registos
Por isso me torno um pouco louca
Desespero
E nessas circunstâncias prefiro não ter nada ao alcance das mãos
Vi muitas vezes o teu sangue
Mantive no carro mais de um ano
O guarda-sol e o xaile que trazias
No dia do acidente com o cavalo.
Vê-los fazia-me lembrar que não suportaria a tua morte
Imagino o estado do teu cérebro então
A caminho do hospital
Pedia-te que não dormisses
Conversava contigo para te manter acordada
Fazias perguntas que me enchiam de pavor
Perguntas simples que me enchiam de pavor
Revi os teus medicamentos
Memorizei os seus componentes
Os seus efeitos secundários
Vi-te corar efeito da alegria e da vergonha
Apoiei a minha cabeça no teu ventre
Reconheço todas as linguagens do teu corpo

Sou uma vidente
Pode perguntar-me qualquer coisa
Responder-te-ei imediatamente
Porque sou o barro que cresce nas margens das tuas pernas