13 novembro 2018

sandra mendoza


Limón

Mamá dijo que la abuela era la responsable de que yo usara la tinta como aretes y de que el ponche de frutas quedara bien sin sal. Abuela me dijo que no debía cumplir los caprichos de los hombres / que no debía cortar su barba / podar sus pies / ni acuchillar mis sueños por los suyos.

Dijo que ellos no podían acuchillar mis sueños, ni mis cejas, ni nada de mí. Mamá responsabiliza a abuela por la falta de energía y mis ganas de cerveza. Sé que mi sazón es de lirios y líquido de mis lagrimales, sé demasiado, me digo, -no sabes algo- dice el abuelo en mi cabeza / mi papá lo repite y mi hermano, lo cuestiona.

Sabes todo, le digo a mi almohada en voz baja para que sea ruido que rebote a mis lóbulos y se quede guardado en el hipotálamo que crece cuando no debiera crecer según la doctora que me hizo las plaquetas. Abuela dice que las hierbas van a sanarme, que tenga calma, que acomode mi cabeza sobre sus piernas y descanse. Me caí, abuela, me caí. Mis rodillas están sangrando.

Ella toma un limón y lo exprime entre la herida: duele, abuela / sé fuerte, sanará / soy fuerte, abuela. / Estás sanando / me dice. Abrázame. Dile a mamá que ella puede sanar también. Dile que abra los ojos. Rociémosle limón, papá no va a enterarse. Dile, abuela. Que no lo olvide. Que nadie va a obligarnos al silencio ni a la sopa de hachas tampoco a la piel agrietada. Abuela dice que si vuelvo a resbalar voy a encontrar un secreto y que si no está ahí voy a encontrarlo entre el musgo, que abuelo intentará esconderlo pero que yo lo encontraré.

Mamá ya no habla, tampoco mueve los dedos, mamá está siendo estatua. Dice que la puerta la golpea, igual que la esquina de los muebles; sus piernas tiemblan en color morado. Mami, ¿estás bien? / Sí, mi amor, sólo me duele el estómago / sólo me quebraron las costillas / sólo trae pegamento y no le digas a la abuela o va a dolerme más / .

¿Mami…? Abuela dice que si te callas (shhh) ya no habrá mariposas que si (shhh) te callas, nadie te lleva guantes para luchar. Que si te callas (shhh) que si te callas (shhh), te mueres.

Abuela dijo que no la olvidara.

Limão

Disse a mãe que a avó era a responsável por eu usar a tinta como argolas e que o ponche de frutas ficasse bem sem sal. A avó disse-me que não devia cumprir os caprichos dos homens / que não lhes devia fazer a barba / tratar-lhes dos pés / nem esfaquear os meus sonhos em prol dos sonhos deles.

Disse que eles não podiam esfaquear os meus sonhos, nem as minhas sobrancelhas, nem nada de mim. A mãe responsabiliza a avó pela minha falta de energia e os meus desejos de cerveja. Sei que a minha comida é de lírios e líquido de lágrimas, sei demasiado, digo-me, - alguma coisa não sabes – diz o avô na minha cabeça / o meu pai repete e o meu irmão põe em dúvida.

Sabes tudo, digo à minha almofada em voz baixa para ser ruído que salte aos meus lóbulos e fique guardado no hipotálamo que cresce quando não devia crescer segundo a médica que me fez as plaquetas. A avó disse que as ervas me irão curar, que tenha calma, que acomode a minha cabeça nas suas pernas e descanse. Caí, avó, caí. Os meus joelhos estão a sangrar.

Ela pega num limão e espreme-o sobre a ferida : dói, avó / sê forte, vai curar-se / sou forte, avó / Estás a curar / diz-me. Abraça-me. Diz à mãe que ela também se pode curar. Diz-lhe para abrir os olhos. Deitemos-lhe limão, o pai não vai dar conta. Diz-lhe, avó. Que não o esqueça. Que ninguém nos obrigue ao silêncio nem à sopa de machados nem sequer à pele gretada. A avó diz que se torno a resvalar vou encontrar um segredo e que se não estiver ali encontrá-lo-ei entre o musgo que o avó tentará esconder mas que eu encontrarei.

A mãe já não fala, nem sequer mexe os dedos, a mãe está estátua. Diz que a porta lhe bate, tal como as esquinas dos móveis; as suas pernas tremem em cor de amora. Mamã, estás bem? / Sim, meu amor, apenas me dói o estômago / apenas me partiram as costelas / só me põe colada e não digas isso à avó senão ainda me vai doer mais /.

Mamã...? A avó diz que se calares (shhh) deixará de haver borboletas, que se (shhh) te calares ninguém te levará luvas para lutar. Que se te calares (shhh), que se te calares (shhh), morres

A avó disse para não a esquecer.