14 janeiro 2007

griselda garcia

SÓLO QUIERO TU SANGRE

I
la cuchara se hunde
en el frasco transparente
dos docenas de orejas
macerándose en quietud

agita el sedimento
enturbia la sorda
paz del almíbar.

II
la espalda es preciada
por el segmento de piel
que ofrece
un rectángulo casi perfecto

se extiende tirante
en un lugar fresco y oscuro
a salvo de los mosquitos.

III
el clítoris cede suave
a la caricia del bisturí
aséptico insecto de acero
manejado por un dios hambriento.

IV
un dedo cava feroz
y en dos movimientos
el segundo ojo
abandona su órbita
cueva acuosa que dando a luz
ha quedado ciega.

V
piano de níveas teclas
la boca,
hoy un despeñadero
de fragmentos astillados
colgando de la encía.

VI
un tirón suave
y salen intactas
yugular y carótida
rutas azulinas
finísimas naves
silenciosas reinas
de lo líquido.

VII
sierpes siempre activas
después del tajo
los intestinos prosiguen
su tarea inútil

los desechos se vuelcan
en un inusual
nacimiento fétido.

VIII
hueso tendón músculo
blanco amarillo rojo
manojos de extrañas flores
inmutable belleza
en un jardín estéril.

IX
secándose al sol
con sal gruesa y ají molido
el hueco que una vez
alojó vida
cuelga vacío como un odre viejo.

X
marmóreas
láminas calcáreas
cristales de hielo
cuentas de un collar escarchado
veinte florecillas de azúcar.

XI
la sangre es sorda
al llamado último
no acude a llenar
las cavernas diminutas

el pene aletea
una, dos veces
pájaro sin alas
cae a un costado,
su ojo ciego llorando
néctar póstumo.

XII
sacos esponjosos
casas de aire
fuelles fieles
millares de celdillas
agonizan derrotadas.

XIII
mientras el rojo
va templando el filo
ignorante de su futuro
la carne inocente
aguarda
aún viva.

XIV
cepillos pelucas almohadas
no otra cosa que hacer
con estas cabelleras
rojas negras marrones
que cuelgan ociosas en ganchos.

XV
dulce metálico y tibio,
sabor a estrellas púrpuras
destilan las muñecas.

XVI
sin coraza craneana
cisuras arenosas
maraña de cenizas
lentos gusanos grises
adentro es todo afuera.


SÓ QUERO O TEU SANGUE


I
a colher funde-se
no frasco transparente
duas dezenas de orelhas
macerando-se na quietude


agita o sedimento
turva a surda
paz da calda.


II
As costas são apreciadas
pelo segmento de pele
que oferece
um rectângulo quase perfeito.


estendem-se esticadas
num lugar fresco e escuro
a salvo dos mosquitos.


III
o clitóris cede suave
à carícia do bisturi
asséptico insecto de aço
manejado por um deus famélico.


IV
um dedo cava feroz
e em duas penadas
o segundo olho
abandona a órbita
cova aquosa que ao dar à luz
ficou cega.


V
piano de níveas teclas
a boca,
hoje um precipício
de fragmentos estilhaços
pendurados nas gengivas.


VI
um puxão suave
e saem intactas
a jugular e a carótida
rotas azulinas
finíssimas naves
silenciosas rainhas
do líquido.


VII
serpentes sempre activas
depois do corte
os intestinos prosseguem
a sua tarefa inútil


os restos giram de cabeça para baixo
em um inabitual
nascimento fétido.


VIII
osso tendão músculo
branco amarelo vermelho
um molho de estranhas flores
imutável beleza
num jardim estéril.


IX
secando-se ao sol
com sal grosso e pimento moído
o oco que um dia
alojou vida
pende vazio como um odre velho.


X
marmóreas
lâminas calcárias
vidros de gelo
contas de um colar estragado
vinte florinhas de açúcar.


XI
o sangue é surdo
à chamada última
não acode a encher
as cavernas diminutas


o pénis esvoaça
uma, duas vezes
pássaro sem asas
cai para o lado
seu olho cego chorando
o néctar póstumo


XII
sacos esponjosos
casas de ar
foles fiéis
milhares de células
agonizam derrotadas.


XIII
enquanto o vermelho
vai temperando o fio
ignorante do seu futuro
a carne inocente
aguarda
ainda viva.


XIV
escovas perucas almofadas
não outra coisa para fazer
com estas cabeleiras
vermelhas pretas castanhas
dependuradas ociosas em cabides.


XV
doce metálico e tépido
sabor a estrelas púrpuras
destilam as bonecas


XVI
sem couraça craniana
cissuras de areia
tojal de cinzas
lentos vermes cinzentos
por dentro é tudo de fora.