19 junho 2022

tibisay vargas rojas

 

Una de las estrellas venía, con vibrante cántico, hacia mí.

Hermann Hesse


Hemos velado juntos

por no ver

luceros al mediodía

los puntos negros que planean

entre nubes

la oscura mariposa que socava

corazones y huesos

con fulgores

de lágrima y puñal.

Hemos restado días

al calendario del horror

que se disputa un palmo de tierra

ya salobre de sangre

y bien perdido.

Hemos y mucho

comprendido

que siempre habrá atajo de fieras

de pie

sobre el pecho exánime

del otro.



Uma das estrelas vinha, com vibrante cântico, até mim.

Hermann Hesse


Temos velado juntos

por não ver

luzes ao meio-dia

pontos negros que planam

entre nuvens

a escura borboleta que minava

corações e ossos

com fulgores

de lágrima e punhal.

Temos subtraído dias

ao calendário do horror

que disputa um palmo de terra

já salobra de sangue

e muito perdida.

Temos e muito

compreendido

que sempre haverá atalho de feras

de pé

sobre o peito exânime

do outro.



18 junho 2022

arely jiménez

 

Asterión


Mi padre no duerme.


Quizá sea que la noche

se ha vuelto laberinto.


Mi madre, como Ariadna

deshace madejas de cuidados

al tanto que un sádico Minotauro

carcome sus huesos.


No sé cuánto se invierta en esta empresa,

a veces pienso que jamás termina.


Por la mañana, mi padre sueña,

lo hace de tal manera

que pareciera ya no despertar.



Asterisco


O meu pai não dorme.


Talvez a noite

se tenha tornado labirinto.


A minha mãe, como Ariadne

desfaz madeixas de cuidados

ciente de que um sádico Minotauro

lhe corrói os ossos.


Não sei quanto se investe nesta empresa,

às vezes penso que nunca acaba.


De manhã, o meu pai sonha,

fá-lo de tal maneira

que parece já não acordar.


17 junho 2022

anna ayanoglou

 

On se figure les cicatrices comme elles sont

habituellement-une ligne

plus ou moins longue et régulière


Les miennes se rouvrent

comme des volets battants une nuit de tempête

-la première en réveille une autre


et bientôt dans les chocs, le tumulte

elles crient-quelle naïve étais-tu

pour nous avoir crues refermées ?



Imaginamos as cicatrizes como são

em seu puro : uma linha

mais ou menos extensa e regular


As minhas são reabertas

como persianas estalejando em noite de tempestade

- a primeira sacode a outra


e no logos dos choques, no tumulto

gritam- quão ingénua estavas

ao creres que estávamos fechadas?


16 junho 2022

sabine dewulf

 

Plus d’une nuit ce rêve t’a fait signe


tes paupières scellées s’entrouvrent à grand-peine

aveugles pourtant demeurent tes yeux

tant le dehors impose

inexorable


son éblouissement


est-ce un songe manqué ?


garde la nostalgie de l’abîme embrasé

altitude peut-être un amour étranger


à mi-distance

sur l’horizon s’ouvrit


la blessure initiale



Mais de uma noite este sonho te chamou


as tuas pálpebras seladas mal se entreabrem

cegos permanecem ainda os teus olhos

assim à volta está imposto

inexorável


o seu deslumbramento


é um sonho perdido?


mantém a nostalgia do abismo inflamado

altitude pode ser um amor estrangeiro


a meia distância

abre-se no hotizonte


a ferida inicial


15 junho 2022

carolina jobbágy

 

Acidia


Pudo tratarse de tifus

esos perros

muertos en la calle


pero al tercer o

cuarto día

los ganglios inflamados


sentado en el jardín

deja

que el cielo se deslice


inevitable

ruptura de moléculas


adelgazan

y se arrugan


la huida fue a sitios apartados


lejos

donde no lleguen esquirlas

la inercia del corazón


por el muro sigue

tibio

un cambio de luz


hasta aceptar el color gris


entre sus dedos

se acumulan

datos clínicos

el curso lento de la enfermedad.



Acídia


Pode ter sido tifo

esses cães

mortos na rua


mas ao terceiro ou

quarto dia

os gânglios inflamados


sentado no jardim

deixa

que o céu deslize


inevitável

ruptura de moléculas


emagrecem

e enrugam-se


A fuga foi para lugares distantes


longe

onde não cheguem estilhaços

a inércia do coração


pela parede continua

morna

uma mudança de luz


até aceitar a cor cinzenta


entre os dedos

acumulam-se

dados clínicos

o curso lento da doença.


14 junho 2022

marinés scelta

 

Paciente


La oportunidad es un enfermo doblado por el dolor

sobrevive como un adicto

alimentado por la droga de la ausencia

deambula y choca encandilado con el frenesí

de una habitación viciada por la pérdida


Decrépito como la mejoría del final

desentierra ese último sabor de la boca y sabe

la hoja de la navaja es cargar con la equivocación

mirar hacia abajo ya es la caída

si se escribe con la fuerza de un vidrio en la mano

allí donde nadie necesita hablar



Paciente


A oportunidade é um doente dobrado pela dor

sobrevive como um toxicodependente

alimentado pela droga da ausência

deambula e choca encadeado com o frenesim

de uma sala viciada pela perda


Decrépito como a melhoria do fim

desenterra o último sabor da boca e sabe

a lâmina da navalha é carregar com o erro

olhar para baixo já é a queda

se escrito com a força de um vidro na mão

ali onde ninguém precisa de falar


13 junho 2022

elizabeth c. lara

 

La muerte no es tan grande


La muerte no es tan grande

cabe en 10 rectángulos 6×15

acomodada en un tabloide.


Un tabloide de $15 pesos

guarda la existencia de una persona:

las veces que sonrió

las veces que vio

y fue visto

las veces que cantó

y bailó.

Guarda los pasos de todas las casas

y calles por las que anduvo.

Las hojas de los libros que pasaron por sus manos.

Las veces que abrió el refrigerador,

tomó un cuchillo y cocinó.

Los brazos en los que estuvo y

todas las personas a las que amó.


La muerte no pesa tanto,

tiene apenas el peso una hoja couché;

a veces con brillo,

a veces mate.

Pero sostiene cajas llenas de ropa,

que jamás volverán a usarse,

cabezas sin ningún hombro que detenga su caída.


La muerte puede imprimirse

los sábados y los domingos a 10 pesos.

Puede salir, al lado de estampitas de cantantes de K-pop.

La muerte no es tan triste,

es blanca y azul.

O del color que sea el cielo de su creencia.

Si algún deseo me queda es que la mía sea

menor cosa que un tabloide.




A morte não é muito grande


A morte não é muito grande

cabe em 10 retângulos 6x15

acomodada num tablóide.


Um tablóide de $15 pesos

guarda a existência de uma pessoa:

as vezes que sorriu

as vezes que viu

e foi visto

as vezes que cantou

e dançou.

Guarda os passos de todas as casas

e ruas por onde andou.


As folhas dos livros que passaram pelas suas mãos.

As vezes que abriu o frigorífico,

pegou numa faca e cozinhou.

Os braços em que esteve e

todas as pessoas que amou.


A morte não pesa muito,

tem apenas o peso de um papel couché;

às vezes com brilho,

às vezes mate.

Mas sustém caixas cheias de roupas,

que jamais voltarão a ser usadas,

cabeças sem nenhum ombro que detenha a sua queda.


A morte pode ser impressa

aos sábados e aos domingos a 10 pesos.

Pode sair, ao lado de selos de cantores do K-pop.

A morte não é muito triste,

É branca e azul.

- Ou da cor que seja o céu da sua crença.

Se algum desejo me resta é que a minha seja

menor que um tablóide.



12 junho 2022

samanta galán villa

 

Salpicamos

la blancura hospitalaria

de nuestros vestidos


La lluvia

desnudó fosas

flores órganos


Encontramos un dedo

refugiado

en los brazos

de un arrayán


Lo bautizamos Dedín

Lo vestimos

de Niño Dios


Subimos al cerro

penumbras

iluminadas por la quema


Lo casamos con una margarita

No tuvieron hijos

castigo maldición

que viene del cielo


Dedín y Margarita mueren

aplastados

Los enterramos

con cristales de carbón

humo blanco



Salpicamos

a brancura hospitalar

das nossas vestes


A chuva

pôs a nu valas

flores órgãos


Encontramos um dedo

refugiado

nos braços

de um arraial


Batizamo-lo de Dedim

Vestimo-lo

de Menino Deus


Subimos o cerro

penumbras

iluminadas pela queima


Casamo-lo com uma margarida

Não tiveram filhos

castigo maldição

que vem do céu


Dedim e Margarida morrem

esmagados

Enterramo-los

com cristais de carvão

fumo branco


11 junho 2022

lourdes lópez

 

Limones desde arriba es un cienpiés redondo imposibilitado.

Desconozco el camino que me lleva a la casa donde mi cabeza destruyó el cuerpo de mi madre para hacerse vida.

Desconozco la angustia del parto desmesurado

cuerpos vaginados

que se parten

para dar paso a otra continuidad

inhumana.



De cima os limões são uma centopeia redonda impossibilitada.

Desconheço o caminho que me leva à casa onde a minha cabeça destruiu o corpo da minha mãe para se tornar vida.

Desconheço a angústia do parto desmesurado

corpos vaginados

que se partem

para dar lugar a outra continuidade

desumana.


10 junho 2022

verónika reca

 

He visto a la mesa amputarse las patas

para no salir corriendo.

Las cosas se rehúsan a huir

y me desilusionan,

me va quebrando el eco

de una casa vacía.


El poco valor de los mapos,

la trampa que no atrapa ratones,

los cuchillos que no cuentan sus muertos

y yo insisto en ser una cosa,

ser una cosa y no dejar rastros.


En mis sueños soy ventana,

deseo tanto ser un florero,

el ajo en la alacena.

Abrazo una columna

mientras voy podando

el suelo con mis pies de lija,

con un nudo en la garganta de hinojos.

De tantos intentos ya tengo aspecto de aguja,

el rumor, su silbido en mi contra.


Me destierran los utensilios,

me condenan a morir

con mi identidad mediocre

qué pena más dura

no ser una esquina.



Vi a mesa amputar as as suas pernas

para não sair a correr.

As coisas se recusam-se a fugir

e desapontam-me,

vi-se partindo em mim o eco

de uma casa vazia.


O pouco valor dos espanadores,

a armadilha que não apanha ratos,

as facas que não contam os seus mortos

e eu insisto em ser uma coisa,

ser uma coisa e não deixar rastros.


Nos meus sonhos sou janela,

quero tanto ser um vaso,

o alho no armário.

Abraço uma coluna

enquanto vou podando

o chão com os meus pés de lixa,

com um nó na garganta de funcho.

Com tantas tentativas já tenho aspecto de agulha,

o rumor, o seu silvo contra mim.


Os utensílios desterram-me,

me condenam a morrer

com a minha identidade medíocre

que castigo mais duro

não ser uma esquina.


09 junho 2022

jessica toloza rincón

 

No sé cuántas moscas he ahogado en el lavaplatos


Sus alas intentan moverse

Lleno el vaso de agua y empiezan a luchar otra vez

Los cuerpos mueren limpios

viajan por ese tubo que termina en una fosa

con las demás moscas

con las sobras de comida

Papá me observa mientras el agua corre

Quisiera ahogar su queja en la espuma

Dice cosas y su voz tiembla

El doctor me dijo que no puedo tener rabias

Le pregunto dónde está la rabia

Allí donde siento el hambre

Me dieron la noticia por teléfono

una arteria diminuta sobresale más que las otras

Una de las moscas que creía muerta

empieza a arrastrar sus patas

Puedo morir en cualquier momento

Yo tengo mis ojos fijos en su cuerpo

Limpio las sobras de espuma de mis manos

¡Bum!

Un vaso se rompe

no sé distinguir entre la sangre y el jabón



Não sei quantas moscas afoguei no lava-louças


As suas asas tentam mover-se

Encho o copo d'água e elas começam a lutar de novo

Os corpos morrem limpos

viajam por esse tubo que termina numa fossa

com as outras moscas

com as sobras de comida

O meu pai observa-me enquanto a água corre

Gostaria de afogar o seu queixume na espuma

Diz coisas e a sua voz treme

O médico me disse-me que não posso ter raiva

Pergunto-lhe onde está a raiva

Ali onde sinto a fome

Deram-me a notícia por telefone

uma artéria minúscula sobressai mais que as outras

Uma das moscas que julgava estar morta

começa a arrastar suas patas

Posso morrer a qualquer momento

Tenho os meus olhos fixos no seu corpo

Limpo as sobras de espuma das minhas mãos

Bum!

Um copo parte-se

Não sei distinguir entre o sangue e o sabão


08 junho 2022

maría cruz

 

A un lote baldío


Las piedras mueven su silencio,

las habitan escarabajos desnudos en la sombra;

hay un aroma de carbón y de naranjas dulces,

rosas de cera arrojadas en el pasto.

De mañana la luz entra con su machete rubio

y corta un ala de mariposa que canta

y desgasta la ordenada clorofila del alambrado

y penetra el polvo que levanta el poco viento.


He visto a un loco comerse el hedor de las manzanas

y la inquieta hojarasca que sostienen los bichos;

la noche local deja caer sus cenizas sobre

un omóplato rasgado

que copia sus heridas en el jardín de vidrio.



A um lote baldio


As pedras movem o seu silêncio,

estão habitadas por escaravelhos nus na sombra;

há um aroma de carvão e laranjas doces,

rosas de cera atiradas para o pasto.

De manhã a luz entra com o seu machado ruivo

e corta uma asa de borboleta que canta

e desgasta a ordenada clorofila da cerca

e penetra o pó que levanta o pouco vento.


Vi um louco comer o fedor das maçãs

e a folhada inquieta que sustenta os bichos;

a noite local deixa cair suas cinzas sobre

uma omoplata rasgada

que copia as suas feridas no jardim de vidro.


07 junho 2022

ágnes nemes nagy

 

Madár


Egy madár ül a vállamon,

Ki együtt született velem.

Már oly nagy, már olyan nehéz,

Hogy minden léptem gyötrelem.

Súly, súly, súly rajtam, bénaság,

Ellökném, rámakaszkodik,

Mint egy tölgyfa a gyökerét,

Vállamba vájja karmait.

Hallom, fülemnél ott dobog

irtózatos madár-szive.

Ha elröpülne egy napon,

Most már eldőlnék nélküle.



Pássaro


Está um pássaro em casa no meu ombro,

pássaro-gémeo, pássaro nascido comigo.

Cresceu muito, ficou muito pesado,

cada passo que enceto é uma tortura.


Peso morto, peso morto, peso morto em mim.

Desempoleirá-lo, pô-lo no chão – teima aguda,

as suas garras cravam-se no meu ombro

como raízes de um carvalho.


Em murmúrio junto ao meu ouvido: o som

do seu excruciante coração de pássaro arritmado.

Se me puser a levantar voo

cairei imediatamente por terra.


06 junho 2022

madelyn valencia

 

Grito


Cae una lágrima sobre un rostro que no eligió ser noche.

Ella (tan frágil) magullada por el eco escucha su propia voz.

Es un murmullo.

Alguien le grita a diario la palabra deforme y se la estampa

en la espalda como el granjero a su rebaño.

La decisión es un campo de batallas

(cualquier hora parece destinada al sacrificio).

El corazón sepultado en una nube se desborda ahora

(ella nunca supo morir después de cada aguacero).



Grito


Cai uma lágrima sobre um rosto que não escolheu ser noite.

Ela (tão frágil) ferida pelo eco escuta a sua própria voz.

É um murmúrio.

Há quem lhe grite diariamente a palavra disforme e a estampe

nas costas como o agricultor faz ao seu rebanho.

A decisão é um campo de batalha

(qualquer hora parece destinada ao abate).

O coração sepultado numa nuvem transborda agora

(ela nunca soube morrer depois de um aguaceiro).