30 novembro 2019

estefanía renderos


I
Prefacio

Nunca aprendí a guardar silencio
como tampoco a montar la bicicleta.

He perdido ya varios de mis dientes
y enredado alguna vez mi cabello con el amor de las hiedras.

Estoy frente a todos ustedes
que quieren verme de cara contra el cemento,
estoy contra todos ustedes
que han visto cómo he fracturado cada parte de mi cuerpo
pero que desconocen, cómo he cuidado el filo de mi lengua.

Hoy vengo a decir: todas las palabras que aprendieron a caminar,
a pedalear sobre sus pechos: las piedras que yo tuve en la cara.

I
Prefácio

Nunca aprendi a ficar calada
nem sequer a andar de bicicleta.

Já perdi muitos dos meus dentes
e algumas vezes armei os meus cabelos com o amor das heras.

Estou diante de todos vós
que querem ver-me de frente contra o cimento,
estou contra todos vós
que viram como fraturei cada parte do meu corpo
mas que desconhecem o modo como tratei o fio da minha língua.

Hoje venho dizer: todas as palavras que aprenderam a caminhar,
a pedalar sobre os seus peitos: as pedras que tive na cara.



27 novembro 2019

victoria colaj


Nuchapon oq’ej, chupan re jun ruwach’ulew re’ majunchik niseqer ta
Ruwäch ri ya man niq’alajin ta, yinoq’
Ri runaq’ awäch kan achi’el richin tz’ikin, xechup
Nuchapon oq’ej, ri ka’j chuqa janila ntoq’ rik’in b’is
Paruwi ri ponom ixim ninlukub’a jub’a ri nub’is
Nuchapon oq’ej, wakami ri kamik xukusaj ri a pay’aj, chuqa ri axajab’
Ninq’ab’arisaj ri wanima, chuqa xuweq ri’ ri tiqaq’ij ri niwär wi. Ri kamik, ayyy! kan achi’el jantape’

Nuchapon oq’ej

Estou a chorar, nesta terra deixou de amanhecer.
O rosto da água não se vê, estou a chorar.
Apagaram-se os teus olhos de pássaro cantor.
Estou a chorar, o céu triste também chora muito.
Em cima do milho torrado encosto um pouco a minha tristeza.
Estou a chorar hoje a morte como sempre pôs o teu chapéu e as tuas alpergatas.
Embriagou-me o coração e vestiu-se de entardecer adormecido. A morte, ai, sempre tão diminuta

Estou a chorar.

24 novembro 2019

julia magistratti


Las partes

Lleva una soga en la mano
y la soga lleva una vaca entristecida.
Todas las vacas del mundo están entristecidas.
Y si sucede la soga y la vaca,
también sucede el hombre, velado de un ojo,
cantado en la madrugada por los gallos.
El ojo que le falta soy yo que lo miro,
y todo mi cuerpo tiene presión de ojo, viaje de iris,
y me vuelvo absoluta
porque miro a un hombre, una soga y una vaca.
Siempre somos la parte que a otro le falta.
Alguien puede ser ahora las manos que he perdido;
mi mente soplada por vientos que también son de la tierra, pero que suceden adentro,
y mi corazón.
Alguien que tenga un músculo puede ser mi corazón
que me sobra y me falta;
que de madrugada, cuando los gallos cantan,
se abisma
y acontece lejos su abeja entre las flores.
Alguien puede tener lo que nos falta.
Yo tengo ahora un deseo demasiado grande
que se vuelve
hombre,
soga
y vaca entristecida.


As partes

Leva uma corda na mão
e a corda leva uma vaca entristecida
Todas as vacas do mundo estão entristecidas.
E se tal se passa com a corda e a vaca
também acontece com o homem, velado de um olho,
cantado na madrugada pelos galos.
O olho que lhe falta sou eu que o vejo
e todo o meu corpo tem pressão de olho, viagem de íris,
e torno-me absoluta
porque olho para um homem, uma corda e uma vaca.
Somos sempre a parte que ao outro falta.
Alguém pode ser agora as mãos que perdi;
a minha mente soprada por ventos que também são da terra mas acontecem dentro,
e o meu coração.
Alguém que tenha um músculo pode ser o meu coração
que me sobra e me falta
que de madrugada, quando os galos cantam,
se abisma
e passa longe a sua abelha entre as flores
Alguém pode ter o que nos falta.
Tenho agora um desejo demasiado grande
que se torna
homem,
corda
e vaca entristecida.

21 novembro 2019

agostina sulpizii


yo quiero ser una Amazona conurbana,
desnuda y llena de barro,
llevar una navaja entre los dientes.
quiero entregarme entera y devenir pantera,
ser la suciedad del barrio,
la flor mas delicada del jardín:
una dalia dorada.
quiero salir con todas las chicas,
beber de su saliva,
montarlas como yeguas.
quiero no salir jamás de mi cuarto,
no cruzar palabra,
enmudecer para volverme
el silencio del bosque,
el espíritu de una piedra.
quiero todo,
me realizo en cuadernos,
en el sonido de las teclas transcribiendo mi mensaje,
voy a explotar inflamada en perfume,
a prender un pucho
para incendiarme entera
y ser el humo dulce
que puedan respirar
en los patios del verano.

quero ser uma Amazona conurbana,
nua e cheia de lama,
andar com uma navalha nos dentes
quero entregar-me inteira e tornar-me pantera,
ser a imundície do bairro,
a flor mais delicada do jardim :
uma dália dourada,
quero sair com todas as miúdas,
tragar a sua saliva,
montá-las como éguas,
quero nunca sair do meu quarto,
não estar no paleio,
emudecer para me tornar
o silêncio do bosque,
o espírito de uma pedra,
quero tudo,
realizo-me em cadernos,
no som das teclas transcrevendo a minha mensagem,
vou explodir inflamada em perfume
acendendo um cigarro
para me incendiar inteira
e ser o fumo doce
que se possa respirar
nos pátios do verão.


18 novembro 2019

paola r. senseve t.


1
hace mucho que no hago nada, mamá
ningún movimiento muscular
o espásmico

soy un cúmulo de resistencia
rumiando un relámpago que no llega
esperándolo
para poder escribir
y rotar sobre mi propio eje genético

un segundo después de tu muerte, abuela,
nuestros cuerpos se van a tornar
en cristal

en plastilina sumergida en agua
o en el rigor de una espera
infectada por la impaciencia

hace meses que no hago nada, mamá
nada que te pueda inflar el pecho de orgullo

me he limitado a sacar la basura
en bolsas negras
a masticar carbohidratos
a imaginar qué haremos el día
en que el cuerpo de mi abuela
se desintegre en luz que
posteriormente se posará
con todo su peso

sobre nuestras narices


1
há muito que não faço nada, mãe
nenhum movimento muscular
o espasmódico

sou um cúmulo de resistência
ruminando um relâmpago que não deflagra
à sua espera
para conseguir escrever
e girar sobre o meu próprio eixo genético

um segundo após a tua morte, a,
os nossos corpos transformar-se-ão
em vidro

em plasticina imersa em água
ou no rigor de uma espera
infetada pela impaciência

há meses que não faço nada, mãe
nada que te possa inchar o peito de orgulho

limitei-me a meter o lixo
em sacos pretos
a mastigar hidratos de carbono
imaginando o que faremos no dia
em que o corpo da minha avó
se desintegre em luz que
posteriormente pousará
com todo o seu peso

em nosso redor aromático


15 novembro 2019

stevie smith


(Why does my Muse only speak when she is unhappy?
She does not, I only listen when I am unhappy
When I am happy I live and despise writing
For my Muse this cannot but be dispiriting.)


( Porque será que a minha Musa só fala quando está infeliz?
Não é isso que ela faz, sou eu que apenas a oiço quando estou infeliz
Quando estou feliz, vivo e não quero saber da escrita
Para a minha Musa isto só pode ser deprimente )


12 novembro 2019

terze caf


Un soir,
Avant de manger mon orange,
Je serai tuée ;
Il est aussi possible
Qu’avant de prendre un peigne
Pour mes cheveux légers,
Condamnée,
Je serai coupée en morceaux ;

Quand arrive la guerre,
Elle me reconnaît à l’odeur,
Et de loin, pousse un cri.
C’est la petite fille en blanc
Dans le feu, qui se moquait de mes idées.


Em uma noite,
antes de comer a minha laranja,
matar-me-ão;
Também é possível
que antes de pegar num pente
para os meus cabelos finos,
condenada,
cortar-me-ão em pedaços;

Quando a guerra chega
reconhece-me pelo cheiro,
e ao longe emite um grito.
É a rapariguinha em roupa branca
No fogo, que gozava com as minhas ideias.

09 novembro 2019

ingrid bringas


Correspondencia Privada

La última conversación con mi padre
fue sobre el patio de la casa, miraba lentamente
el árbol
las cerraduras oxidadas, el decía: alguien me espera
como si estuviera en un sueño permanente
y la piel arrugada por el sol
la luz de su lenguaje,
parecía no tener prisa en cada una de sus palabras
pero las palabras se fueron haciendo cenizas
caía el sol sobre las plantas
diluyéndolo todo,
una tarde que alguna vez fue su voz interior
alguna vez fue mi padre
alguna vez fue verano
un eco se apagaba lentamente con el canto de las aves
como la tarde con el pico quebrado.


Correspondência Privada

A última conversa com o meu pai
foi sobre o pátio da casa, olhava lentamente
para a árvore
os cadeados oxidados, ele dizia : alguém me espera
como se estivesse num sonho permanente
e com a pele enrugada pelo sol
a luz da sua linguagem
parecia não ter pressa em cada uma das suas palavras
mas as palavras foram-se desfeitas em cinza
caía o sol nas plantas
diluindo tudo,
uma tarde que uma vez foi a sua voz interior
uma vez foi meu pai
uma vez foi verão
um eco apagava-se lentamente com o canto das aves
como a tarde com o bico partido.

06 novembro 2019

maría auxiliadora álvarez


usted nunca ha parido

no conoce
el filo de los machetes
no ha sentido
las culebras del río
nunca ha bailado
en un charco de sangre querida
doctor
no meta la mano tan adentro
que ahí tengo los machetes
que tengo una niña dormida
y usted nunca ha pasado
una noche en la culebra
usted no conoce el río


vossemecê nunca pariu

não conhece
a lâmina das catanas
não sentiu
as cobras do rio
nunca dançou
num charco de sangue amado
doutor
não meta a mão tão dentro
que aqui tenho as lâminas
que tenho uma criança adormecida
e vossemecê nunca passou
uma noite na cobra
vossemecê não conhece o rio

03 novembro 2019

sab alegre



fiebre

un día tuve fiebre
y recordé un sueño recurrente
que tenía cuando era niña
un sueño que nunca puedo explicarle a nadie

un sueño decorado con baldosas azules
y pinceladas rosas en todas sus dimensiones
un sueño donde una mujer de cabello rubios
levantaba un papel ajeno del suelo
y en esa leve acción el mundo se destruía
sólo por levantar
lo que otro había dejado caer

desde ese día
no dejo de pensar
que la experiencia de la salvación
es un acto para pocos


febre

um dia tive febre
e lembrei-me de um sonho recorrente
que tinha quando era criança
um sonho que nunca consigo explicar a ninguém

um sonho decorado com azulejos azuis
e pinceladas rosa em todas as suas dimensões
um sonho em que uma mulher de cabelo loiro
levantava um papel estendido no chão
só por levantar
o que outro tinha deixado cair

desde esse dia
não deixo de pensar
que a experiência da salvação
é um ato para poucos



31 outubro 2019

danielle madrid-malone


Al nombrar las afueras de una urbanización familiar clase-media,
los solares se hacen bosques.
En los bosques de goteo pasan cosas terribles,
justo en la maraña de carteles de se vende, se vende parcela, se vende parcela para 4 inmuebles.

Este es el principio del relato,
el momento en que los músicos
guardan sus peines y se miran.

He ahí la prueba.

¿Ves ese árbol?
Queda la guirnalda de un muchacho, el holograma que cuelga.

(La brisa y los elementos naturales no guardan decoro, en general)

En la escritura
los ahorcaditos
son versos de cabo roto.

¿Cuál era la melodía inicial?
Ya sé, ya sé: la mujer pasa y se le agrieta la frente.


Ao nomear os subúrbios de uma urbanização familiar classe-média
As clareiras tornam-se florestas.

Nos bosques de gotejamento passam-se coisas terríveis,
precisamente no emaranhado de cartazes de venda, vende-se parcela, vende-se parcela para 4 imóveis.

Este é o princípio da narrativa
o momento em que os músicos
recolhem os seus pentes e se olham.

Está aqui a prova

Estás a ver esta árvore ?
Resta a coroa de flores de um rapaz, o holograma pendurado.

(A brisa e os elementos naturais não têm decoro, geralmente)

Na escritura
os enforcados são versos de corda partida.

Qual era a melodia inicial ?
Já sei, já sei : a mulher passa




28 outubro 2019

diana garza islas



21

En cada caja están sus órganos. Hay piedras a las que les basta su raíz. Hay los fotogramas extraídos, hay la serenidad. La palabra invertida, de su serenidad. Hay una cinta para medir el panorama. Es amarilla, como el lugar donde imaginé, y logramos hallar, pequeñas agujas óseas. La bala al fondo. A la orilla, su mirada ardiéndome, el cráneo superpuesto al cariz.

El melancólico esposo desde las alturas. Ásperas bolitas a la izquierda. Y todas las cosas que aquí no digo porque ya son.

Brillos nacarados del mismo color de lo que crece, y crees ver: escalas puntiagudas en el perímetro nacido de la lengua. Un cuerno extraviado corona y mira, mucho más allá, las rendijas bajo los cielos. La palabra Brandemburgo brilla, encaramada en una lámina fotogénica, otra vez desde el bosque. O es algo más doméstico, incluso pornográfico.

Finalmente, las manos huesudas y olvidadas de papá, a las que nunca les gustó la sombra.

[El reflector redondo del dentista sugerirá nuevas sospechas de ello.]


21

Em cada caixa estão os seus órgãos. Há pedras para as quais é suficiente a sua raiz. Há os fotogramas extraídos, há a serenidade. A palavra invertida, da sua serenidade. Há uma fita para medir o panorama. É amarela, como o lugar que imaginei, e conseguimos encontrar, pequenas agulhas ósseas. A bala ao fundo. Na margem, ardendo, o crânio sobreposto à matiz.

O melancólico marido das alturas. Ásperas bolinhas à esquerda. E todas as coisas que aqui não digo porque já o são.

Brilhos nacarados pela mesma dor do que cresce, e acreditas ver : escalas pontiagudas no perímetro nascido da língua. Um corno extraviado coroa e olha, muito mais além, os buraquinhos sob o céu. A palavra Brandemburgo brilha empoleirada numa lâmina fotogénica, outra vez desde o bosque. Ou é coisa mais doméstica, mesmo pornográfica.

Finalmente, as mãos ossudas e esquecidas do papá que nunca gostaram da sombra.

[O holofote redondo do dentista sugerirá novas suspeitas de tal.]

25 outubro 2019

elisa biagini


Lasciati un seme in mano
che ti cresca di vene, che
sopravviva al buio:

ti rifaccia
il dito che hai
tagliato per ogni
tuo morto. //

(Clonata dalle orecchie
nuovamente su piazza)


Guarda uma semente na mão
que cresça veia em ti e
sobreviva ao escuro:

e restaure
o dedo que cortaste
por cada um
dos teus mortos

(Clonada das orelhas
novamente na praça).

22 outubro 2019

edith södergran


Nordisk Var

Alla mina luftslott ha smultit som snö,
alla mina drömmar ha runnit som vatten,
av allt vad jag älskat har jag endast kvar
en blå himmel och några bleka stjärnor.
Vinden rör sig sakta mellan träden.
Tomheten vilar. Vattnet är tyst.
Den gamla granen står vaken och tänker
på det vita molnet, han i drömmen kysst.

Primavera Nórdica

Todos os meus castelos de ar derreteram assim neve,
todos os meus sonhos escorreram assim água,
de tudo o que amei só me resta
um céu azul e um punhado de estrelas pálidas.
O vento lambrisca lentamente entre as árvores.
O vazio estaciona. A água cala.
O velho abeto segue acordado a pensar
na nuvem auroral que beijou em sonho.



19 outubro 2019

gaia ginevra giorgi


avevo il respiro ingrossato
spezzato
mentre risalivamo il sentiero
di pini odorosi
tra il bosco e l’ombra
che seguiva
il tuo passo di guerriero
- di fuggiasco

ogni pausa
s’imprimeva
nel limo dolce
come nella memoria
(cristallizzate le viole e
ogni gemito)

tra il sudore - il sale
ed il sole
tra l’incanto
e la disperazione

con la schiena
spenta nel fango
e con la bocca
calda e bagnata
spalancata al cielo
ispido d’estate

pregavo che la crosta del monte
cedesse al mio peso
e mi trattenesse
da lì a sempre

ma tu avevi la quiete dei vetri
in testa la quiete
che sale dopo un gran

piangere

Estava minha anima inchada
estilhaçada
enquanto subíamos a senda
de pinheiros aromáticos
entre bosques e sombras
seguindo
o teu andar guerreiro assim
-fugitivo

Cada pausa
impressa em si mesma
em lodo doce
como em memória
(violetas e todo o soluço,
cristalizado)

entre o suor, o sal
e o sol
entre maravilha
e desespero

as costas
na lama
e a boca
quente e húmida
aberta ao sol
picante com o verão

Oracionei para que a crosta da montanha
se rendesse ao meu peso
e me abraçasse
desde aqui até sempre
mas tinhas a quietude do vidro
quietude na sua cabeça
que irrompe
depois de um choro pesado

16 outubro 2019

alice massénat



D’une vipère aux salaces de ma fièvre
s’éclipsait ce lugubre épars
le rire fou était fidèle
noir
La cornée vagabondant jusqu’aux fracas
d’un qui outre-vitrail
Le sang se cristallisa, l’apocalypse n’était plus qu’un rat
et dans mon pétoncle furibard
l’étal vibrait de son écrin aux plumes d’acier

Le tranchant était là
ma haine ne fit que croître
qui de l’absence ou du paraître l’emporterait

Crier
hurler mes ongles aux parois de fortune
le corps bouffé d’heurs
à dire le vrai je n’étais qu’une vulgaire écharde
qu’on recouvre d’un drap de suif
et parmi ces échancrures
le tu s’éloigne à outrecuidance

Taillader mes veines aux pirogues
éclater d’ici au beffroi
impassible
ne crachant plus rien d’autre qu’un feu iconoclaste

Le cerveau se meurt
et je pars plus loin
aux écarts de l’autre


De uma víbora promiscua da minha febre
esgueirava-se este lúgubre esparso
o riso louco estava fiel
negro
A córnea vagabundeando até aos estrondos
de um quem além-vitral
O sangue cristalizou-se, o apocalipse não passava de um rato
e no meu escalope furibundo
a tábua vibrava na sua caixa com penas de aço

O talhante estava lá
o meu ódio só pôde acreditar
quem da ausência ou do parecer prevaleceria

Gritar
uivar as minhas unhas às paredes da fortuna
o corpo lufa horas
para dizer a verdade eu não passava de um vulgar estilhaço
que se tapa com um lençol de sebo
e entre essas incisões
o calado afasta-se da ousadia

Retalhar as minhas veias nas pirogas
rebentar daqui à torre
impassível
cuspindo unicamente um fogo iconoclasta

O cérebro morre
vou mais longe
às discrepâncias do outro.


13 outubro 2019

cleofé campuzano


Distancia entre piedras

I
Con el quejido que hay aquí,
con la arena que medra
el pozo de las cosas.

Llámame desde la pared afilada,
desde la aguja oculta de la sal.
Deja ir mi mano. De la sombra,
el sol difunto.

Llámame desde el instante
indispensable del dolor,
desde el recuerdo de las suertes
perdidas en olvido natal.

II
Dos pendientes versadas
hacia el pronunciamiento
del ático ingrávido, habitan, hablan.

De todo cuanto queda: viejo, nuevo,
enigmático: piedra.


Distância entre pedras

I
Com o queixume aqui solto,
com a areia que difunde
o poço das coisas.

Chama-me a partir da parede aguçada
a partir da agulha oculta do sal.
Deixa ir a minha mão. Da sombra,
o sol defunto

Chama-me a partir do instante
indispensável da dor,
a partir da lembrança das sortes
perdidas em esquecimento natal.

II
Dois declives versados
para a declaração
do sótão sem peso, habitam, falam.

De tudo o que fica: velho, novo,
enigmático: pedra.