29 maio 2018

margaret randall


Preface

Nineteen-thirty-six. I hurried as always
but was late. Eight centuries
or ten thousand years,
my small story fixed to my back.
Food came weighed and wrapped,
shelter engorged as surplus.

My own, my own, my own
was a mantra I could sing
in any season.
I could be who I was
and also anyone else.

I was late and also much too early,
came to justice
before its time.
Unprepared to receive me,
its rough grasp hurt my hand,
embedded its promises in my flesh.

Juggling gender
I was early and also late.
Juggling children, service,
my explosion of words
on stone, parchment,
or floating cyber cloud.

Only poetry and love met me
where we laughed.
After so many false starts
they came in whole and sure
before the finish line.

My hand fit the ancient print,
a radius of living settled
on my shoulders.
I am lunar standstill now,
calendar of hope.

It is 2018, and I discover
I am perfectly on time.
Soon I will disappear
together with all my kind,
and the earth
with its synchronized clock
will wake some blue-green morning
its rhythms safe for a while.


Prólogo

Mil novecentos e trinta e seis. Apressei-me como sempre
mas era tarde. Oito séculos
ou dez mil anos
a minha pequena história sujeita ao meu redor.
A comida vinha bem embrulhada e peso certo,
a proteção e o refúgio engolidos como excesso.

A minha parte, a minha parte, a minha parte
era um mantra que eu podia cantar
em qualquer estação.
Podia ser quem era
e também outra pessoa.

Chegava tarde e igualmente demasiado cedo,
Vinda à justiça
antes de tempo,
impreparada para me receber
a sua rude maneira de me agarrar, magoava-me a mão
cravava as suas promessas na minha carne.

Prestidigitando o género
Chegava cedo e também tarde.
Crianças malabares, o serviço aos outros,
a explosão das minhas palavras
em pedra, em pergaminho
ou flutuando numa ciber-nuvem.

Só a poesia e o amor se encontravam comigo
onde nos podíamos rir.
Depois de tantos começos falsos
vinham inteiros e certos
antes da meta.

A minha mão ajustou a impressão antiga
um raio de viver estabelecido
que descansa nos meus ombros.
Agora sou a convergência lunar,
um calendário de esperanças

É 2018 e descubro
que estou exatamente a tempo.
Em breve desaparecerei
com toda a minha espécie
e a terra
com o seu relógio sincronizado
acordará numa manhã verde azul
os seus ritmos
seguros durante algum tempo

26 maio 2018

sujata bhatt


Ve a Ahmedabad

Ve y camina por las calles de Beroda,
ve a Ahmedabad,
ve y respira el polvo
hasta que te ahogues y te enfermes
con una fiebre que el doctor no conoce.
No me preguntes
porque no te diré nada
sobre el hambre y el sufrimiento.

Cuando era niña aprendí
a nunca correr a alguien
de nuestra puerta. Madre me dijo
que diera agua fresca, buena comida,
nada que yo no comiera.
El hambre es cuando tu madre
te dice años después
que en América un doctor dice
que ella está desnutrida,
sus huesos débiles
porque nunca hubo suficiente
comida para los niños,
ella y las mujeres que venían
a nuestra puerta con los suyos.
Los niños siempre deben estar alimentados.
El hambre es que tu madre esté enferma
en América porque ella quería
que comieras bien. El hambre es
cuando caminas las calles de Ahmedabad
y en lugar de repartir
monedas para todos
les das tomates, pepinos,
e ir a tu casa con la boca
saboreando hojas de eucalipto quemadas
porque has perdido
el apetito.
Y sin embargo, no digo nada
sobre el hambre, nada.

Tengo amigos por todas partes.
Esta vez nos encontramos después de diez años.
Alguien murió.
Alguien se casó.
Alguien acaba de tener un bebé.
Y cargo al bebé
porque está llorando,
porque hay una extraña erupción
por todo su pecho
y mi amigo pregunta
si tengo un hijo y por qué no
y cuándo me voy a casar.
Y el autobús llega
lleno de gente colgada
por fuera, en las puertas y ventanas.
Y su bebé llora
en mis brazos, sigue llorando
y un anciano se despierta
y me grita: ¿Cómo pude dejar
que mi hijo se enfermara?
Afortunadamente, en ese momento
alguien cuenta un buen chiste.

Tengo amigos por todas partes.
Esta vez nos encontramos después de diez años.
Y el sufrimiento es
cuando camino por Ahmedabad
porque este es el lugar
que siempre amé
este es el lugar
que siempre odié
porque este es el lugar
donde nunca podré estar en casa
este es el lugar
donde siempre estaré en casa.
El sufrimiento es
cuando estoy en Ahmedabad
después de diez años
y aprendo por primera vez
que nunca escogeré
vivir aquí. El sufrimiento es
vivir en América
y no poder
escribir una maldita cosa
al respecto. El sufrimiento no es
para que te lo cuente.

Ve y camina por las calles de Baroda,
ve a Ahmedabad
y camina por el estiércol de vaca
pero no olvides
mirar al cielo.
Es especial en enero,
nunca más verás cometas como estos.
Ve y conoce a la gente si puedes
y si quieres saber
sobre el hambre, sobre el sufrimiento,
ve y vívelo por ti mismo.
Cuando hay una epidemia,
cuando el doctor dice
que tu hermano puede morir pronto,
que tu padre puede morir pronto
no me preguntes cómo se siente.
No se siente bien.
Por eso hacemos
té con hojas de tulsi,
por eso siempre hay alguien
que sabe una buena historia.

Olha para Ahmedabad

Olha e caminha pelas ruas de Beroda,
olha para Ahmedabad,
vê e respira o pó
até te afogares e adoeceres
com uma febre que o médico não conhece.
Não me perguntes
porque não te direi nada
sobre a fome e o sofrimento.

Quando era miúda aprendi
a nunca expulsar ninguém
da nossa porta. A mãe disse-me
para dar água fresca, boa comida,
nada que eu não comesse.
A fome é quando a tua mãe
te diz após anos
que na América um médico disse
que ela está subnutrida,
de ossos débeis
porque nunca houve suficiente
comida para as crianças,
ela e as mulheres que vinham
à nossa porta com os seus.
As crianças devem estar sempre alimentadas.
A fome é a tua mãe estar doente
na América porque ela queria
que comesses bem. A fome é
quando andas pelas ruas de Ahmedabad
e em vez de partilhares
moedas com todos
lhes dás tomates, pepinos,
e ir a tua casa com a boca
a saborear folhas queimadas de eucalipto
porque perdeste
o apetite.
E no entanto não digo nada
sobre a fome, nada.

Tenho amigos em todas as partes.
Desta vez encontramo-nos ao fim de dez anos.
Alguém morreu.
Alguém se casou.
Alguém acaba de ter um bebé.
E carrego o bebé
porque está a chorar,
porque há uma estranha erupção
em todo o seu peito
e o meu amigo pergunta
se tenho um filho e porque não
e quando me vou casar.
E o autocarro chega
cheio de gente pendurada
por fora, nas portas e janelas.
E o seu bebé chora
nos meus braços, continua a chorar
e um velho acorda
e grita-me : Como pôde deixar
que o meu filho adoecesse?
Felizmente, nesse momento
alguém conta uma boa anedota.

Tenho amigos em todas as partes.
Desta vez encontramo-nos ao fim de dez anos.
E o sofrimento é
quando ando por Ahmedabad
porque este é o lugar
que sempre amei
este é o lugar
que sempre odiei
porque este é o lugar
onde nunca poderei estar em casa
este é o lugar
onde sempre estarei em casa.
O sofrimento é
quando estou em Ahmedabad
ao fim de dez anos
e aprendo pela primeira vez
que nunca escolherei
viver aqui. O sofrimento é
viver na América
e não conseguir
escrever uma maldita coisa
a esse respeito. O sofrimento não é
para te ser dito.
Olha e caminha pelas ruas de Baroda,
olha para Ahmedabad
e caminha pela bosta de vaca
mas não te esqueças
de olhar para o céu.
É especial em janeiro,
nunca mais verás cometas como estes.
Olha e conhece as pessoas se conseguires
e se quiseres saber
sobre a fome, sobre o sofrimento,
olha e vive-o em ti mesmo.
Quando há uma epidemia
quando o médico diz
que o teu irmão pode estar prestes a morrer,
que o teu pai pode estar prestes a morrer,
não me perguntes como se sente.
Não se sente bem.
Por isso fazemos
chá com folhas de manjericão,
por isso há sempre alguém
que sabe uma boa história.



23 maio 2018

andrea cruzado


Inocencia interrumpida

Me paro a mitad de la cuadra
Esperando que algún carro se detenga
Que algún conductor loco
Se apiade de mí
Que algún perro sarnoso
Se atreva a guiarme

Debe ser difícil para mi padre
Escuchar a los vecinos
Tildarme de niña malvada
Debe ser difícil, aun así, mi padre
Puede tomarme de la mano
Y llevarme a misa todos los domingos
Recibir juntos la ostia
Contarme historias antes de dormir
Tomar el desayuno
Juntos en la mesa
Pasarnos el café, la mantequilla, el azúcar

Podemos
Cortar con el mismo
Cuchillo
La carne que a diario
Nos alimenta.


Inocência interrompida

Paro a meio do quarteirão
Esperando que algum carro pare
Que algum condutor louco
Tenha pena de mim
Que algum cão sarnento
Ouse guiar-me.

Deve ser difícil para o meu pai
Ouvir os vizinhos
Catalogarem-me como menina malvada
Deve ser difícil, mesmo assim, o meu pai
Consegue dar-me a mão
e levar-me à missa todos os domingos
Recebermos juntos a hóstia
Contar-me histórias antes de adormecer
Tomar o pequeno-almoço
Juntos na mesa
Dar-nos café, manteiga, açúcar

Podemos
Cortar com a mesma
Faca
A carne que todos os dias
Nos alimenta.



20 maio 2018

leonor olmos


21
– ay mamita ya no nos tocó, será para los que vienen – iluminarán el cielo entre nosotros / siempre en vivo & en directo : así el horror se cuele por los aires / así se derrame : se encienda : en el estómago los hijos de saturno s.a. / dividen la piel & destrozan este envase en un medio controlado, en un sistema controlado : se puede enfermar desde adentro / llorar desde adentro / unir los pedacitos – doparlos / masticarlos : ser saliva / ser saliva y no ser sangre

………….madre, en mi sangre todo es hueco todo es frío, yo lo supe desde niña : ahora 8 horas las dedico a consumirme entre pálidas paredes fijando la memoria, en un punto lejano : consumido / devastado

………….1.1.- corrijo así, siglos de obediencia : de peste : de campos – nidos / de cuerpos que tuvieron que morirse / que tuvieron perderse,

………….1.2.- porque el poema viene del futuro : como un charquito de estrellas, de pulsiones : de monstruos que hablan despacito / de lenguas que cavan demasiado / de lenguas que suponen / que habitan / que insisten / en cortar un cuello

………….en cortar una boca con instrumentos de piedras y de metal / a pedacitos, lentamente a pedacitos, entre nosotros, casi absortos, alucinados

………….1.3.- porque el poema viene del futuro / huérfano de padre y madre : huérfano pero habitable por bombas, por latidos _ por sangre _ por aullidos _ por hilados, dentro de tus blancas piernas de tus morenas piernas (los poemas mamita chupan la sangre

y dejan los huesos / chupan la piel y dejan el hambre / y los pixelan / y los cuelgan en la nube – monstruo

………….en la nube – poema, unir los pedacitos, las imágenes del horror / éste es mi cuerpo perdido ; nido de cyborgs y serpientes )

21
- ai mamã não foi para nós, será para os que vêm – iluminarão o céu ebtre nós / sempre ao vivo e em direto : assim o horror infeste os ares / assim se derrame : se avenda : no estômago dos filhos de saturno, s. a. / dividem a pele e destroçam esta embalagem em meio controlado, num sistema controlado : pode adoecer-se a partir de dentro / chorar a partir de dentro / colar os cacos – dopá-los / mastigá-los : ser saliva / ser saliva e não ser sangue

mãe, em meu sangue tudo é buraco tudo é frio, sei-o desde criança : agora dedico 8 horas a consumir-me entre pálidas paredes fixando a memória num ponto longínquo : consumido / devastado

1.1.- corrijo, assim, séculos de obediência : de peste : de campos – ninhos / de corpos que tiveram de morrer / que tiveram de se perder,

1.2.- porque o poema vem do futuro : como uma poça de estrelas, de pulsões : de monstros que falam devagar / de línguas que cavam muito / de línguas que julgam / que habitam / que insistem / em cortar o pescoço

em cortar uma boca com instrumentos de pedras e metal / aos bocadinhos / lentamente aos bocadinhos / entre nós, quase absortos, alucinados

1.3.- porque o poema vem do futuro / órfão de pai e mãe : órfão mas habitável pelas bombas, pelos batimentos_pelo sangue_por uivos_por fiações, dentro das tuas brancas pernas das tuas morenas pernas (os poemas mamã chupam o sangue

e deixam os ossos / chupam a pele e deixam a fome / e pixelam-nos / penduram-nos na nuvem - monstro

na nuvem – poema, unir os cacos, as imagens do horror / este é o meu corpo perdido : ninho de cyborgs e serpentes)




17 maio 2018

graciela cros


Genealogía

Mi hija escribió que yo nací de un huevo en el río
y por eso soy un pez.

Para mi padre era un caracol
entonces debo ser lo que él creía
porque el huevo vino de él.

Sin embargo mi hija dice que también fui yegua
y que siéndolo parí un hijo de algodón
y a otro que está loco y lejos.

Hay uno que
es carpintero / corta madera hasta dejarla como el cuerpo.

No sé si esto
es realidad o ficción
porque una Activa Yegua de la Noche
una Auténtica Yegua Madre carne argentina de exportación
es caballo vaca pez carpintero y loco
carne de caracol

Cantora

Si no fuera porque me hija me clavó en el río
para que no me comieran cuando era huevo
nada de esto hubiera sucedido.

Genealogia

A minha filha escreveu que nasci de um ovo no rio
e por isso sou um peixe.

Para o meu pai eu era um caracol
assim devo ser o que ele acreditava
porque dele veio o ovo.

Porém a minha filha diz que também fui égua
e que nessa condição pari um filho de algodão
e outro que está louco e longe.

Há um que
é carpinteiro / corta a madeira até a deixar como o corpo.

Não sei se isto
é realidade ou ficção
porque uma Ativa Égua da Noite

uma Autêntica Égua Mãe carne argentina de exportação
é cavalo vaca peixe carpinteiro eb louco
carne de caracol

Cantora

Se não fosse o facto da minha filha me enterrar no rio
para que não me comessem quando era ovo
nada disto teria sucedido.


14 maio 2018

gisela galimi


Frutillas

Dicen que mi madre
limpiaba frutillas
la tarde de octubre
en que quiso nacerme.
Se le vino al ánimo
un súbito cansancio de piernas
y anunció que no recibiría visitas
hasta después del parto.
Mi padre, siempre tan hombre,
protestó, había hecho convite
para el próximo sábado.
Entonces ella
comenzó a parirme
ahí mismo,
un mes antes de la víspera.

Cada vez que lavo frutillas
y las corto,
de una forma distinta
al modo de mi madre,
pienso que hay varias maneras
de resolver un problema.

O si las frutillas son muy rojas,
no pienso en nada.

Morangos

Dizem que a minha mãe
lavava morangos
na tarde de outubro
em que me quis nascer.
Apareceu-lhe no espírito
um repentino cansaço de pernas
e fez saber que só receberia visitas
depois do parto
O meu pai, sempre tão homem,
protestou, tinha enviado convites
para o próximo sábado.
Então ela
começou a parir-me
ali mesmo,
um mês antes da véspera.

Sempre que lavo morangos
e os corto,
de um modo diferente
ao da minha mãe,
penso que há vária maneiras
de resolver um problema.

Ou sim os morangos são muito vermelhos
e não penso em nada.


11 maio 2018

gabriela yocco


llevo excesiva conciencia de mi rostro
como si fuera una marquesina obscena una fruta que se pudre
un cuadro en violeta y amarillos

una absurda conciencia de mí
de cada centímetro
de la pelusa en el dorso de las manos del vello del pubis
de la elástica transparencia de la piel
conciencia íntima de mi pelo de su crecimiento letal
del sudor
de las uñas y su lenta musculatura
conciencia de la curva de la córnea
del arco ciliar del latido
de las vísceras
de la garra simia de mis pies

llevo extrema conciencia de mi peso de la tarea de la gravedad sobre los párpados
de cada pliegue que el tiempo pone en mí

ando con este cuerpo con este barco ajado
sobre el océano impecable de los días
como si cargara un muerto
que tanto se me parece

Porto excessiva consciência do meu rosto
como se fosse uma marquise obscena uma fruta que apodrece
um quadro em violeta e amarelos

uma absurda consciência de mim
de cada centímetro
da penugem no dorso das mãos do arbusto da púbis
da elástica transparência da pele
consciência íntima dos meus pelos do seu crescimento letal
do suor
das unhas e sua lenta musculatura
consciência da curva da córnea
do arco ciliar do uivo
das vísceras
da garra símia dos meus pés

Porto extrema consciência do meu peso da tarefa da gravidade sobre as pálpebras
de cada vinco que o tempo me inscreve

ando com este corpo com este barco murcho
sobre o oceano impecável dos dias
como se carregasse um morto
que tanto se parece comigo.



08 maio 2018

cinzia marulli


I piedi

Ci serve un po’ d’inchiostro
per macchiare questo bianco
un pennello di nero per coprire
l’apparenza, potremmo usare
anche il lucido da scarpe
che si secca sempre perché nessuno lo usa mai.
Tanto i piedi sono uguali alla testa
con entrambi si possono fare molti viaggi
solo che i piedi vanno piano, fanno passi lenti
la testa, invece, corre veloce
lì, dove nessuno può arrivare.

Os pés

Servir um tisne de tinta
para nodoar este branco
um pincel negro para tapar
a aparência, podíamos usar
graxa para os sapatos
que seca sempre porque ninguém a usa.
Os pés são iguais à cabeça
com ambos podemos fazer muitas viagens
embora os pés andem devagar, em passos lentos,
a cabeça em troca corre veloz
aí onde ninguém consegue chegar.



05 maio 2018

ernestina yépiz


Declaración de fe

Me declaro a favor
de los amores que se vuelven rutina:
esos que suelen suscitarse
entre quienes comen juntos
tres veces al día;
duermen tomados de la mano
y despiertan siempre
a la misma hora
y en la misma cama.
Es decir,
me declaro a favor
de esos amantes
que juegan a besarse
como si untaran mantequilla
en un pan de centeno;
y se aman día a día
—noche a noche—
con las mismas tristísimas
y ridículas frases;
pronunciadas de tal forma
que parecen destilar por todo el cuerpo
la miel de una colmena entera.

Declaração de fé

Declaro-me a favor
dos amores que se tornam rotina:
esses que se costumam suscitar
entre os que comem juntos
três vezes por dia;
dormem de mão dada
e acordam sempre
à mesma hora
e na mesma cama.
Quer dizer,
declaro-me a favor
desses amantes
que se beijam
como se pusessem margarina
num pão de centeio;
e se amam todos os dias
- todas as noites -
com as mesmas tristíssimas
e ridículas frases;
pronunciadas de tal forma
que parecem destilar por todo o corpo
o mel de uma colmeia inteira.