18 março 2018

marija andrijašević



moj je pogled amfetaminski susretljiv i vjeruje kako je farmacija bogomdana
znanost.
jutrima, dok još ne razmišljam, rukom prelazim preko stomaka i nadam se bedrima.
čudan osjećaj.
ustat ću, bit ću i znat ćeš me.
ne znam s obećanjima, ne volim ih, a sklona sam obećavati s nonšalantnošću.
život klizi kad ga ja kontroliram. ide polako i ide svejedno. i nikad se ne obraća nikom. nema granica.
pazi, ja sam ti jednom vidjela svog starog da plače i to je bila jako nezgodna situacija.
on je imao loš vid i ja bih mu obično govorila koje je svjetlo na semaforu.
a taj dan kad je zaplakao vozili smo se na selo. on i ja.
bilo je zeleno. plakao je.
ja sam samo razmišljala: pa koji je tebi vrag, jebo ti sebe? šta sad ti tu meni plačeš? pa nisam ja tebe ošamarila.
sivo nije moja omiljena boja, ali meni nebo nikada nije plavo.
uvijek je sivo. sunce je crveno, a ceste su krvave.
vise na tridesetcentimetarskoj uzici. k’o njegovo tijelo.
moje ime je previše sveto za život kakvim živim.
i sad, on ti je plakao. plakao je, bogami, 20 kilometara. a ja sam samo razmišljala hoćemo li stati na benzinskoj i hoće li mi kupiti sladoled i snalazi li se ostatak obitelji bez nas kod kuće.
kad bi barem prestao plakati.
nikada se ne brinem o sutra. puštam vrijeme neka ide od trenutka do trenutka.
lice krijem. isprekidano je zarezima i točkama. neshvatljivo je.
moje oči imaju crnu točku u sredini. mrak koji dolazi iznutra.
govorio je da nas voli. brata i mene. mi smo njegov život. nitko nikada nije mislio da će on napraviti nešto dobro. obitelj. svima je bio crn. tad sam počela shvaćati i nametati pitanje iznutra: ali zašto nas onda uništavaš? ti si nas stvorio, nemoj nas i uništiti. i obriši te suze da se ne nađemo pod cisternom ispred nas.
ne znam voljeti dok ne vole mene.
moje nebo je uvijek sive boje.
taj dan se brat zaključao u sobu. stari je zvao policiju. kasnije je došao stric i molio brata da izađe. ja sam plakala u svojoj sobi. nisam shvaćala. imala sam jedanaest  godina i nisam znala zašto se svijet zove svijet i zašto nas otac ne voli ili zašto nas voli na taj jako čudan način. ja sam molila starog da idemo van. sjeli smo u auto i krenuli smo na selo. onda je on počeo plakati i ja više nisam znala tko je krivac u našim pričama.
hodam sigurna u sebe. u mom životu ne postoji loše.
želim da to znaš.
par dana kasnije sve je opet bilo u redu. zaboravili smo. potrajalo je dovoljno dugo da nas sljedeći udarac razlomi na još veće dijelove. stari više nikada nije zaplakao.

o meu velhote suicidou-se.
foi para o trabalho à uma da manhã com uma corda no bolso.
foi visto pela última vez às 5h e 45 m da manhã a caminho da estação de autocarros.
O meu velhote estava louco e era temerário.
gostarei? o que pensas? esta noite, sabes, não haverá mais evasivas nem mais esses longos olhares. olha-me. o que dizes? é tudo?
apanhou o autocarro até ao campo e pendurou-se numa espécie de matagal.
prudente filho de uma cadela. desceu do autocarro uma paragem antes e atravessou o rio descalço para que não seguíssemos as suas pisadas.
procuramo-lo durante um mês e cinco dias
queríamos acreditar que estava vivo e louco em algum lugar lá fora, queríamos acreditar que vivia em algum lugar.
hediondo, sujo, inconsciente, vivo.
o carro de bombeiros desci a rua quando me perguntaste pela primeira vez se te amava.
claro que te amo
mas como podia saber o que o meu velhote nos guardara para amanhã.
um mês e cinco dias de agonia.
tentamos todos os truques, procuramos mesmo debaixo da cama.
quase desconstruimos a televisão. talvez se tivesse escondido nos cátodos.
uma manhã, a minha mãe acordou e acordou os seus irmãos. e também o meu irmão.
enviou-os ao matagal e disse-lhes : esta é a última vez. mais uma vez e acabou-se.
o meu irmão cheirou, a sua morte.
tocou o telefone e eu sabia do que se tratava
disse-lhe : está bem. encontramo-lo. era a única coisa que precisávamos.
a mamã chorou, bem sei, não merecias, mas … já passou.
lamento porque te deixei há um mês e cinco dias e desculpa não ter sido suficiente para ti.
choro quando me lembro do meu irmão que o encontrou.
a sua cabeça, separada do corpo. e esse cheiro.
tinha a samarra do meu irmão e o meu relógio.
três dias depois devolveram-me o relógio, coberto de vermes, estudei-o na casa de banho.
o meu velhote vivia dentro desses vermes e podia falar com ele.
era enfermiço, nunca tinha estado mais branco, tinha-se convertido num verme.
disse-lhe: está tudo bem, disse-lhe: estás louco.
disse-lhe: esquecer-te-ei. logo. disse-lhe: lamento mas tenho de fazer isso
esmaguei todos esses vermes, fervilhei o relógio por longo tempo.
chorei.
o meu velhote suicidou-se. Perdeu o controlo da sua própria vida.
o meu irmão encontrou-o e eu flagelei a porta gritando que não iria ao seu funeral.
o meu irmão esteve ao pé de mim durante a procissão fúnebre. nunca o amei tanto como nesse momento.
a mamã disse: que se foda e que descanse em paz.
não passa um dia em que não pense como teriam sido as coisas para nós um mês e seis dias depois.



15 março 2018

elvira roca rey


Me levanté para orinar en el jardín
cuando vi la noche tan cuajada de estrellas
me quedé iluminada cual una luciérnaga
no debí nunca moverme de aquel centímetro de tierra
donde se posaron mis azules patas
donde mi orina fluía armoniosa
silbo dorado sobre el pasto
en la noche embalsamada de floripondios
las blancas campánulas cayendo en cascada cerca de mi cuello
su ardoroso perfume perturbando mis sentidos
y una viuda negra tejiendo sigilosa la trama de nuestro destino
deslizándose por las constelaciones
entre las ramas del sueño.

Levantei-me para mijar no jardim
quando vi a noite coalhada de estrelas
fiquei iluminada como um pirilampo
não me devo ter movido nunca desse centímetro de terra
onde pousaram as minhas patas azuis
onde a minha urina fluía harmoniosa
silvo dourado sobre o pasto
na noite embalsamada de floripôndios
as brancas campânulas caindo em cascata ao pé do meu pescoço
o seu ardente perfume perturbando os meus sentidos
e uma viúva negra tecendo silente a trama do nosso destino
deslizando pelas constelações
entre a ramagem do sonho.


12 março 2018

renate aichinger


Seelenstill : er

füllst du meinen akku auf
wenn mir die welt mal wieder aus den ohren
mit weißen kabeln

füllst du meine stille auf
wenn ich mein bauchgefühl nicht hör
mit weißen bässen zugedröhnt

füllst du meine leere auf
wenn ich mein schneckenhaus zugestöpselt
mit meinen weißen kabeln

die längst grau

paz da cabeça : ele

carregarás a minha bateria
quando o mundo desaparecer dos meus ouvidos
através dos meus auriculares brancos

preencherás o meu silêncio
quando não puder escutar o meu instinto
afogado pelo ruido branco

preencherás o meu vazio
quando tiver fechado a minha concha de caracol
com os meus auriculares brancos

há muito tempo cinzentos




09 março 2018

sara caviedes


¿Qué piensa la noche de los adentros gritos
y el grumo del sollozo solo en los portales?

Soy arena y perfil que demolido lame
el tiempo desvivido de la esfera.

Ya no caben más peces en mis copas.

Deja que llame a un cuerpo
si es que la voz asiste a quien perdió la forma.

Que pensará a noite dos adentrados gritos
e da ferida do soluço sozinho nos portais?

Sou areia e perfil que demolido lambe
o tempo desvivido da esfera.

Já não cabem mais peixes nos meus copos.

Deixa que chame um corpo
se é que a voz assiste a quem perdeu a forma.



06 março 2018

alba sabina pérez


Esquina Elisabeth

La adolescencia
es una esquina de mi bolso,
donde amargan los sonetos
de Elisabeth Barrett Browning.
Sus despedidas se anidan
entre borras de café
y hebras de tabaco,
y mis gafas se empañan
con cada tempestad
que contienen sus versos.

Recuerdo en mis tickets de metro
las tardes de universidad.
En mi adolescencia, Elisabeth,
sonetos del portugués
la limonada con Miguel,
y en esa esquina de mi bolso
Browning llora y muere
con el pétalo
de la adelfa fresca de mi madurez.

Ângulo Elisabeth

A adolescência
é uma aresta no meu bolso
onde amargam os sonetos
de Elisabeth Barrett Browning.
As suas despedidas aninham-se
entre borras de café
e fios de tabaco,
e os meus óculos embaciam-se
em cada tempestade
que os seus versos contêm.

Lembro-me pelos meus bilhetes de metro
as tardes de faculdade.
Na minha adolescência, Elisabeth,
sonetos do português
a limonada com Miguel,
e essa aresta do meu bolso
Browning chora e morre
com a pétala
do aloendro fresco da minha maturidade.


03 março 2018

andrea alzati


Memoria

la memoria es
un animal
silencioso

fuera del cuerpo
desproporcional al cuerpo
vive y se alimenta
de nosotros

gestos de reliquia
gestos de animal en
cautiverio
animal en
peligro
de no extinguirse nunca la memoria

no duerme
no sueña
no descansa

la memoria es un animal omnipotente
omnipresente,
súper poderoso
súper selectivo

la memoria es
un animal
inmenso

un animal doméstico inmenso
un animal doméstico
pero no mascota

la memoria
no es una mascota

la memoria es
un animal
salvaje.

Memória

a memória é
um animal
silencioso

fora do corpo
desproporcional ao corpo
vive e alimenta-se
de nós

gestos de relíquia
gestos de animal em
cativeiro
animal em
perigo
de nunca se extinguir a memória

não dorme
não sonha
não descansa

a memória é um animal omnipotente
omnipresente,
super poderoso
super seletivo

a memoria é
um animal
imenso

um animal doméstico imenso
um animal doméstico
mas não mascote

a memória
não é uma mascote

a memoria é
um animal
selvagem.

28 fevereiro 2018

andrea abreu


Campos de cenizas

Diáspora del cuerpo en
caída nazcan flores de las
cenizas de un cadáver
*
Toda vida esconde una descomposición
*
un higo se precipita:
hormigas se alimentan de una podredumbre
*
Aunque se sientan
lejanas La muerte se
agarra de la vida
*
el estómago es una
morgue el corazón
un crematorio
*
Nos espera un hoyo
cubierto de amapolas
*
ojalá devenir un árbol
en otro tiempo en una
nueva estación
*
Mente en estado larvario hasta que metamorfosis.
*
Espacio entre sangre y
sangre: vida
*
un gato abatido en la autopista
¿quién agitará su cola?
*
Piafo en sueños
Lamo las hojas de la
higuera de aquel arcano
jardín
*
Despierto. Dentro y fuera de los
párpados tan solo imágenes
*
Mente en el exilio controla cuerpo en la distancia.
*
Del hedor brotó una palmera
En el matadero margaritas quieren nacer
*
Aquí un bosque bracea en la
niebla Toda descomposición
contiene semillas
*
En los humildes pliegues
del tiempo mi vida y la de
una rata
*
Existencia es ulceración
El 18 de agosto Pavese escribe: “Todo esto da asco”

Campos de cinzas

Diáspora do corpo em
queda nascerem flores das
cinzas de um cadáver
*
Toda a vida esconde uma decomposição
*
um figo precipita-se:
formigas se alimentam-se de uma podridão
*
Embora se sintam
distantes A morte
agarra-se à vida
*
o estômago é uma
morgue o coração
um crematório
*
Espera-nos um buraco
coberto de papoilas
*
oxalá tornar-se uma árvore
noutro tempo numa
nova estação
*
Mente em estado larvar até que metamorfose.
*
Espaço entre sangue e
sangue: vida
*
um gato abatido na auto-estrada
quem abanará a sua cauda?
*
Piafo em sonhos
Lambo as folhas da
figueira daquele arcano
jardim
*
Acordo. Dentro e fora das
pálpebras apenas imagens
*
Mente no exílio controla corpo à distância.
*
Do fedor brotou uma palmeira
No matadouro margaridas querem nascer
*
Aqui um bosque esbraceja na
névoa Toda a decomposição
contém sementes
*
Nas humildes pregas
do tempo a minha vida e a de
uma rata
*
Existência é ulceração
Em 18 de agosto Pavese escreve: “Tudo isto mete nojo”


SEI LA TERRA E LA MORTE (Cesare Pavese)

Yo soy como la Tierra, siempre
sola, siempre viva. Siempre
gravitante. Siempre giratoria.
Siempre trescientos sesenta y cinco.
Y cuatro. Años bisiestos
y estaciones.

Fantaseo con la niña que duerme
en la otra cama. Se ha hecho amiga
de gallinas hacinadas y ratas
con ojos de sangre. Ella y yo
vivimos en una casa con muros
descubiertos, pilares enormes,
ventanas sin vidrios, alfileres en
las fotos, veneno para gatos.

Me quiere, pero me habla cerca
de la oreja y no consigo ver
lo que me dice. Todo porque soy
una mujer sin párpados ni boca.
Hueca.

Vacía como la Tierra.
Oscura como la Tierra


SEI LA TERRA E LA MORTE (Cesare Pavese)

Sou como a Terra, sempre
só, sempre viva. Sempre
gravitante. Sempre giratória.
Sempre trezentos e sessenta e cinco.
E quatro. Anos bissextos
e estações.

Fantasio com a criança que dorme
na outra cama. Fez-se amiga
de galinhas apinhadas e ratas
com olhos de sangue. Ela e eu
vivemos numa casa com paredes
destapadas, pilares enormes,
janelas sem vidros, alfinetes nas
fotos, veneno para gatos.

Gosta de mim, mas fala-me ao pé 
da orelha e não consigo ver
o que me diz. Tudo porque sou
uma mulher sem pálpebras nem boca.
Oca.

Vazia como a Terra.
Escura como a Terra

25 fevereiro 2018

alfonsina clariá

La palabra en tu boca,
gema, estalactita,
ascua que promete
nunca consumirse.

La palabra, rocío,
lluvia lenta,
música tenue,
agua que corre.

No sé devolver un río,
si no es con una sed eterna.

A palavra na tua boca,
gema, estalactite,
brasa que promete
nunca se consumir.

A palavra, rossio,
chuva lenta,
música ténue,
água que corre.

Não sei devolver um rio,
se não for com uma sede eterna.



22 fevereiro 2018

laura accerboni


La parte dell’annegato (3)

Ieri il bambino più alto
ha messo una pietra
tra i denti
e ha iniziato a masticare.
Ha dimostrato
a sua madre
ciò che una bocca può fare
se messa all’orlo
e che una casa distrutta
è solo una casa distrutta.
Ieri tutti i bambini più alti
hanno messo alla fame i nemici
e raccolto i loro giochi in fretta.
Hanno dimostrato alle madri
l’ordine
e la disciplina dei morti
poi sono corsi
a lavarsi le mani
e ad ascoltare
le notizie
in forma di ninnenanne.


A parte do afogado (3)

Ontem o menino mais alto
levou uma pedra
entre os dentes
e começou a mastigar.
Demonstrou
à sua mãe
o que uma boca consegue
se for levada ao extremo
e que uma casa destruída
é apenas uma casa destruída.

Ontem todos os meninos mais altos
fizeram desfalecer de fome os seus inimigos
e recolheram apressadamente os seus brinquedos.
Demonstraram às mães
a ordem
e a disciplina dos mortos
depois correram
a lavar as mãos
e a ouvir
as noticias
em forma de canção de embalar.

isabel zapata

canción de cuna para sonámbulos

los científicos la llaman ‘memoria selectiva’
por eso no recuerdo al dr. zinser, ni recuerdo
por qué te quitaron medio estómago, para
qué servía la heparina, la última vez
que te reíste, qué cosa brillante mirabas
en la ventana, el nombre de la enfermera
lavando tu cuerpo.

pero recuerdo con qué palabras me explicaste
en el videocentro de avenida revolución
la buena idea de rentar una película nueva
en lugar de llevarnos las brujas otra vez
recuerdo el cuento del oso que no lo era,
le construyeron una fábrica encima mientras dormía
al salir de su cueva el capataz lo confundió
con un obrero, lo llevó con el supervisor, el gerente,
el director le dijo usted solamente es
un hombre tonto, sin afeitar y con un abrigo de pieles.

canção de embalar para sonâmbulos

os cientistas designam como “memória seletiva”
por isso não me lembro do dr. Zinser, nem me lembro
porque te tiraram meio estômago, para
que servia a heparina, a última vez
que riste, que coisa brilhante olhavas
na janela, o nome da enfermeira
que lavava o teu corpo.

mas lembro-me das palavras com que me explicaste
no vídeo-centro da avenida revolución
a boa ideia de alugar um filme novo
em vez das bruxas outra vez
lembro-me do conto do osso que não o era,
construiram-lhe uma fábrica em cima enquanto dormia
ao sair do seu buraco o capataz confundiu isso
com um operário, levou-o ao supervisor, ao gerente,
o diretor disse-lhe você apenas é
um homem pateta, que não faz a barba e com um sobretudo de pele.

19 fevereiro 2018

viviana paletta

el ropavejero

Tengo mi capa de trapos.
Mi fusil sin hombro.
El poncho mezquino del cielo
envuelve la luz,
esconde
una esquirla de plata.

El miedo flamea
con su casaca rotosa,
con su paso descalzo.

Camino sin agua y sin brújula.
No veo la rígida constelación sur.
Voy derechito a la emboscada
o al paludismo.

Oigo descargas lejanas, inconexas.
Es la interrumpida noticia que da el silencio.

Siento pozos de frío
en mi cuerpo.

o roupa usada

Tenho a minha capa de trapos.
O meu fuzil sem ombro
O poncho mesquinho do céu
envolve a luz,
esconde
um fragmento de prata.

O medo ondeia
com o seu casaco andrajoso
com o seu andar descalço.

Caminho sem água e sem bússola.
Não vejo a constelação sul
Vou direitinho à emboscada
ou ao paludismo.

Oiço descargas longínquas, desconexas.
É a interrompida notícia que dá o silêncio

Sinto poços de frio
no meu corpo.

16 fevereiro 2018

alejandra machuca

VI
cuando la casa está en silencio nos estamos quietos para no romper las tejas
el rumor de una muerte vieja nos abraza y dice callen
y callamos

si reímos reímos en silencio
y si queremos un abrazo
miramos la ventana

cuando la casa está en silencio no tronamos ningún hueso
no mordemos ningún bollo
ni tragamos ningún agua

nos estamos en silencio
para no despertar a la casa

VI
quando a casa está em silêncio ficamos quietinhos para não partir as telhas
o rumor de uma morte velha abraça-nos e diz estejam calados
e ficamos calados

se rimos, rimos em silêncio
e se queremos um abraço
olhamos para a janela

quando a casa está em silêncio não estalamos nenhum osso
não trincamos qualquer bolo
nem bebemos nenhuma água

ficamos em silêncio
para não acordar a casa



13 fevereiro 2018

blanca morel

Pequeña oración a Marina Tsvietáieva

¿Recuerdas que sabíamos cosas sin nombres? Susurrabas a mi lado palabras de Rusia. Como una cascada reíamos, dos niñas que ríen. Puse un grano de sal en tus labios al nombrarte, y al nombrarte ardió una hoguera en la playa. Hubo amor para nosotras. ¡Y más viejo que el amor, el dolor, tan nuevo y viejo! A ratos no estuvimos solas. El lenguaje es un látigo sagrado, amazona. Fueron nuestros pies pequeñas estrellas.

Pequena oração a Marina Tsvietáieva

Lembras-te que sabíamos coisas sem nomes? Sussurravas ao meu lado palavras da Rússia. Como uma cachoeira ríamos, duas miúdas a rir. Pus um grão de sal nos teus lábios ao nomear-te, e ao nomear-te ardeu uma fogueira na praia. Houve amor para nós. E mais velha que o amor, a dor, tão nova e velha! Por momentos não estivemos sós. A linguagem é um chicote sagrado, amazona. Foram nossos pés pequenas estrelas.