22 janeiro 2018

hélène nicolas

Etre autiste
Concept ordinaire de l’autocritique

Les ordres bousculent l’initiative itinérante. Tu es en chemin
D’exécution d’un acte dicté par la raison
Quelqu’un t’interpelle,
Otage de ton silence, tu perds la Raison de ton Acte

Livré à toi-même, ordre ou désordre, seul responsable,
Tu plonges dans le plus proche état disponible,
Egarant le mode d’emploi du contrat social,

KO relationnel puis Big Bang émotionnel
La faute à qui tout ça ?

Edifiante question
Est-on responsable de nos déficiences ?
Les autres sont-ils garants de nos absences ?

Ser autista
Conceito vulgar da autocrítica

As ordens alteram a iniciativa itinerante. Tu estás a caminho
Da execução de um ato ditado pela razão
Qualquer um te interpela.
Refém do teu silêncio, perdes a Razão do teu Ato.

Entregue a ti própria, ordem ou desordem, única responsável,
mergulhas no mais próximo estado disponível,
afastando o modo de emprego do contrato social,

KO relacional seguido de Big Bang emocional
De quem é a culpa de tudo isto?

Edificante questão
Somos responsáveis pelas nossas deficiências?
São os outros garantes das nossas ausências?



18 janeiro 2018

lydie dattas

Jour et nuit

Ma jeunesse a été si absolument pure :
j'ai traversé la nuit sans craindre de mourir
quand la nuit n'était rien qu'absolument la nuit,
j'ai marché dans la nuit sans douter de l'aurore
lorsque la nuit doutait de ses propres étoiles.
J'ai marché dans la nuit comme au milieu du jour :
le ciel était couvert entièrement d'étoiles,
les étoiles éclairaient autant que le soleil,
ce terrible soleil qui éclaire la nuit.
La nuit me consacrait ses heures les plus belles,
la nuit avait pour moi la beauté de l'azur,
je buvais la rosée dans la coupe des roses,
les étoiles étaient aussi jeunes que moi.
La beauté jour et nuit se tenait près de moi :
je craignais la beauté plus que ma propre mort,
je ne préférais rien à la beauté des anges.
La neige jalousait la pureté de l'âme :
la neige me devait en partie sa beauté,
la neige qui laissait sa beauté dans mon âme.

Dia e noite

A minha juventude foi tão absolutamente pura :
atravessei a noite sem medo de morrer
quando a noite mais não era que absolutamente a noite,
andei pela noite sem duvidar da aurora
mesmo que a noite duvidasse das suas próprias estrelas.
Andei pela noite como pelo meio do dia:
o céu estava inteiramente coberto de estrelas
as estrelas iluminavam tanto como o sol,
esse terrível sol que ilumina a noite.
A noite consagrava-me as suas mais belas horas,
a noite tinha para mim a beleza do azul
eu bebia o orvalho na taça das rosas,
as estrelas eram tão jovens quanto eu.
A beleza dia e noite mantinha-se junto a mim:
eu temia a beleza mais que a minha própria morte,
eu não preferia nada à beleza dos anjos.
A neve tinha ciúmes da pureza da alma:
a neve devia-me em parte a sua beleza,
a neve que deixava a sua beleza na minha alma.



14 janeiro 2018

mireia calafell

Balenes Franques

Quina delícia el joc de les balenes
quan no hi havia espècies ni hemisferis.
Quanta complicitat sota la mar
abans de l’espetec, de l’estampida,
d’aquell fugir sense saber per què
cap a altres oceans i separar-se,
d’aquell partir-se el gel inexplicable.
I ja mai més els dies sense temps
on tot el que calia era saltar,
i ja mai més foren regals les ones
sinó un recordatori de distàncies,
el dolor constant de qui ha perdut l’altre.

S’estimaven, jo sé que s’estimaven.
És fàcil reconèixer en els teus ulls
el moviment tectònic de l’adéu,
l’angoixa a la mirada de les bèsties,
com d’alts eren els salts que tu i jo fèiem.

Baleias Francas

Que delícia a brincadeira das baleias
quando não havia espécies nem hemisférios.
Quanta cumplicidade debaixo do mar
antes do estouro, da debandada
desse fugir sem saber porquê
para outros oceanos e apartar-se,
desse inexplicável partir do gelo.
E já nunca mais os dias sem tempo
em que o mais importante era saltar,
e já nunca mais os dias sem tempo
onde a única coisa importante era saltar,
e já nunca mais foram prendas as ondas
sem uma recordação de distâncias
a dor permanente de quem perdeu o outro.

Gostavam-se, eu sei que se gostavam,
É fácil reconhecer nos teus olhos
o movimento tectónico do adeus,
a angústia no olhar das bestas
tão altos eram os pulos que tu e eu dávamos.



Literatura


No t’ha besat i ha marxat amb pressa,

i ha arribat a casa, i ha encès l’ordinador,

i ha escrit no t’he besat, no t’he besat la boca

i ara què en faig jo d’aquest voler-te als llavis.


En fa literatura. Només literatura.



Literatura


Não te beijei e desapareci em pressa,

cheguei a casa e liguei o computador

e escrevi que não te beijei, que não te beijei a boca

que farei agora deste querer-te nos lábios.


Faz literatura. Apenas literatura.



10 janeiro 2018

robin coste lewis

Plantation

And then one morning we wake up
embracing on the bare floor of a large cage.

To keep you happy, I decorate the bars.
Because you had never been hungry, I knew

I could tell you the black side
of my family owned slaves.

I realize this is perhaps the one reason
why I love you: because I told you this

and you still wanted to kiss
me. We laughed when I said plantation,

fell into our chairs when I said cane.
There were fingers on the floor

and the split bodies of women
who’d been torn apart by horses

during the Inquisition. You’d said
Well I’ll be damned!

Every now and then, you’d change
from a prancing black buck

into a small high yellow girl: pigtailed,
patent leather, eyes spinning gossamer, begging

for egg salad and banana pudding.
Or just as quickly you’d become the girl’s mother, pulling

yourself away from yourself.
Because my whole head was covered

with a heaving beehive, you thought I didn’t
notice. I noticed. I cried honey.

And then you were fourteen, and you had grown
a glorious steel cock under your skirt. To brag

you rubbed yourself against me. Then your tongue
was inside my mouth, and I wanted to say

Please ask me first, but it was your tongue,
so who cared suddenly

about your poor manners?
We had books and a waterfall

was falling in the corner.
I didn’t tell you I couldn’t

remember what that thing was you said
to me once, that tender thing you’d said

I should never forget.
The moment you said it, I forgot it.

I wondered if you thought we were lost.
We weren’t lost. We were loss.

And meanwhile, all I could think
about was the innumerable ways

I would’ve loved to have eaten you. How
being devoured can make one cry. And I hoped

you liked the pleasant taste
of juiced cane. You pulled

my pubic bone toward you. I didn’t
say It’s still broken; I didn’t tell

you, There’s still this crack. It was sore,
but I stayed silent because you were smiling.

You said, The bars look pretty, Baby,
then rubbed your hind legs up against me.


Plantação

E então uma manhã acordamos
abraçados ao chão descalço de uma grande jaula.

Para te manter feliz decorei as grades.
Como nunca tinhas passado fome, sabia

que te podia contar que o lado negro
da minha família possuiu escravos.

Compreendo que esta é talvez uma das razões
porque te amo : por te ter dito isso

e mesmo assim quiseste beijar-me
Rimos quando disse plantação.

esparramadas nas nossas cadeiras quando eu disse cana
Havia dedos no chão

e os corpos bipartidos de mulheres
que tinham sido despedaçadas por cavalos

durante a Inquisição.
Disseste, Maldita seja!

De vez em quando, deixavas de ser
um antílope revoltado

para seres uma dessas jovens mestiças : com trancinhas,
couro envernizado, olhos tecendo teias de aranha, implorando

salada de ovo e pudim de banana.
Ou de repente te convertias na mãe da rapariga, puxando-te

para fora de ti.
Como toda a minha cabeça se encontrava coberta

por uma colmeia extravasante julgaste
que eu não tinha dado conta. Mas dei. Chorei mel.

E já tinhas crescido e tinha-te crescido
um glorioso falo debaixo da saia. Para te vangloriares

esfregaste-te contra mim. Aí a tua língua
estava dentro da minha boca e eu quis dizer

Por favor, pergunta primeiro, mas era a tua língua
assim, quem se importaria de repente

com a tua falta de educação?
Tínhamos livros e uma queda de água

precipitava-se para um canto.
Nunca te disse que não me conseguia

lembrar o que me disseste
nessa altura, as ternuras que pronunciaste

Nunca o devia ter esquecido.
Quando as disseste, esqueci-as.

Julgo que pensavas que estávamos perdidas,
Não estávamos perdidas. Éramos a perda.

E entretanto só conseguia pensar
nas infinitas maneiras

que tinha fantasiado para te comer. Como
ser devorado pode fazer alguém chorar. E esperava

que gostasses do aprazível sabor
do sumo da cana. Puxaste

o meu osso púbico contra ti. Não te disse
continua partido, não te disse

ainda permanece aquela fratura. Doía
mas permaneci em silêncio porque estavas a sorrir.

Disseste, as grades são lindas, amor,
então esfregaste as tuas coxas em mim.



06 janeiro 2018

ela iakab

Vin îngerii

prin sângele meu istovit au trecut
înfrigurări fără nume

nemişcat am rămas în pulberea imensă
strigându-te cu glas de moarte

te va striga şi moartea mea cu glasul ei
când trupul meu de carne va fi amorţit
când trupul meu astral îşi va fi sfâşiat
ultima lumină

de câte ori moartea mă apropie de tine
vin îngerii
şi sădesc focuri stranii
în rănile mele


Chegam os anjos

pelo meu sangue esgotado sulcam e sulcam
crepúsculos febris

imóvel moribunda neste mar de pó
digo o teu nome

a minha morte chegará a chorar-te com uma nova voz
quando a carne em mim se torne pedra
quando o meu corpo astral seja apenas cacos
de outra luz

sempre que a morte nos ronda
chegam os anjos
os prodigiosos anjos
que deixam brilhar estranhos fogos dentro das minhas feridas



02 janeiro 2018

laura pugno

 ritroverai la tua casa
sparsa tra gli alberi
il letto nel legno di ulivo,
il resto
così profondamente nel bosco

stracci di abiti bianchi
tra i rami

improvvisamente, germogli di verde, verdeazzurro
come acqua

sopra quanto è distrutto
sopra quando è distrutto lo splendore –

reconhecerás a tua casa
desfeita entre as árvores
a cama na madeira da oliveira,
o resto
profundamente no bosque

restos de vestidos brancos
entre os ramos

de repente, rebentos de verde, verde-azul
como a água

sobre tudo o que foi destruído

sobre tudo o que foi destruído o esplendor -



31 dezembro 2017

caitlyn siehl

 STRETCH MARKS

I learned how to be big by accident.
I was 10 and I didn’t look like the other girls.
I was 10 and it was too late to turn back.
The kids had already learned how to
wield the knives under their tongues
so I kept quiet when they spat.
I stayed soft and I forgave.

The first few popped up on my inner thight
when I turned fourteen, splaying out like
white trees on smooth skin.

When I told my friends, they did not look proud.
I learned how to be big by accident.

A patch reached across my hips when I turned 16 and
the white rivers opened up into a delta on my calves.
I was a landscape.
I was art.

I kept growing and they kept coming like refugees
from some falling country.
“Give me your tired, your poor.”

I am a city of sounds.
I will keep you safe.

I know I am supposed to feel ugly.
They all tell me that no woman
should look so well-traveled,
but they do not know.

I am earth. I am sun and skies.
I am the high road, the low road.
I am every poem about skin.
I am a world that cannot be explored in one day.
I am not a place for cowards.


Estrias

Aprendi a ser adulta por acidente.
Tinha dez anos e não me parecia com as outras meninas.
Tinha dez anos e era demasiado tarde para voltar atrás.
Os miúdos já tinham aprendido a
colocar as facas debaixo das suas línguas
assim calei-me quando cuspiram
Permaneci calma e perdoei.

As primeiras apareceram na parte interna da minha coxa
quando fiz catorze anos, estendendo-se como
árvores brancas sobre suave pele.

Quando disse aos meus amigos, eles não pareceram ficar orgulhosos.
Aprendi a ser adulta por acidente.

Uma mancha estendeu-se pelas minhas ancas quando fiz 16 anos e
os rios brancos se abriram até um delta nas minhas pernas.
Eu era uma paisagem.
Eu era arte.

Continuei a crescer e continuaram a vir como refugiadas
de algum país em queda.
Dai-me os vossos cansados, os vossos pobres”

Sou uma cidade de sons
Manter-vos-ei em segurança.
Sei que se supõe que deveria sentir-me feia.
Todos me dizem que nenhuma mulher
devia parecer tão vivida,
mas eles não sabem.

Sou a terra. Sou o sol e os céus.
Sou o caminho alto, o caminho baixo.
Sou todos os poemas na pele.
Sou um mundo que não pode ser explorado num dia.
Não sou um lugar para cobardes.


29 dezembro 2017

laura borghesi

Apocalisse

Si dovrebbe avere il diritto di scegliersi l'apocalisse
atea senza lampi e frastuoni,
potrebbe essere attimo
come la radice che sa quando solcare il terreno,
potremmo diventare terminazioni capillari
che si processano sole.
Com'è difficile lo slabbro dell'assenza
è l'uscita impazzita di qualche pianeta contro la gravità.
Diventa santo l'ultimo gesto fatto
sa cadere insieme alla cenere nello scacco rosso della tela.

Apocalipse

Devíamos ter direito a escolher o apocalipse
ateu sem relâmpagos nem barulhos,
podia ser um instante
como a raiz que sabe quando sulcar o chão,
poderíamos converter-nos em terminações capilares
que se processam sozinhas.
Tal como é difícil a deformação da ausência
também o é a saída enlouquecida de qualquer planeta contra a gravidade.
Torna-se santo o último gesto proferido
sabe cair ao pé da cinza na casa vermelha do xadrez de pano.



28 dezembro 2017

mary barbara tolusso

Il mondo procedeva senza guerre.
Voglio dire che io ero
mio padre.
Gregorio Scalise

Ha scelto con cura le ossa e le mani,
è stato un uomo scrupoloso.
Dunque è proprio lui, la sua
creatura, nata come tutti, figlio
di un essere reale, un commesso
degli dei, qualcuno che l’avrebbe
portato a conoscere la propria
inconsistenza. Dicono che del padre
ha preso i piedi, il cervello
e quel modo di battere le ciglia
contro l’aria, respirabile
per ora. Nato, così, anche lui.
Venuto al mondo si distrae
con la trappola dei nomi, non arreso,
non riesce a dire altro «quello
è mio padre», ha detto soltanto.


O mundo evoluía sem guerras.
Quero dizer que eu era
o meu pai.
Gregorio Scalise

Escolhi com apuro os ossos e as mãos,
fui um homem escrupuloso.
Assim, é ele mesmo a sua
criatura, nascida como todos, filho
de um ser real, um cometimento
dos deuses, alguém que o levaria
a conhecer a própria
inconsistência. Dizem que do pai
tirou os pés, o cérebro
e a maneira de pestanejar
contra o vento, respirável
por enquanto. Nascido, assim, também ele.
Vindo ao mundo distrai-se
com a ratoeira dos nomes, não se dobrou,
só consegue dizer “aquele
é o meu pai”



27 dezembro 2017

mary oliver

Entering the Kingdom

The crows see me.
They strech their glossy necks
In the tallest branches
Of green trees. I am
possibly dangerous, I am
Entering the kingdom.

The dream of my life
Is to lie down by a slow river
And stare at the light in the trees–
To learn something by being nothing
A little while but the rich
Lens of attention.

But the crows puff their feathers and cry
Between me and the sun,
And I should go now.
They know me for what I am.
No dreamer,
No eater of leaves.

Entrando no reino

Vêem-me os corvos
Esticam o pescoço lustroso
Nos ramos mais altos. Estou
potencialmente perigosa. Estou
entrando no reino.

O sonho da minha vida
é deitar-me ao pé de um rio pacífico
e contemplar a luz nas árvores -
Para aprender alguma coisa sobre não ser nada
apenas um fractal mas saboroso
alvo de mira.

Mas os corvos tornam côncavas as penas e gritam
entre o sol e eu.
Devia ir-me embora agora.
Conhecem-me pelo que sou.
Não sonhadora,
não comedora de folhas

ren hang

《爱情》

你不在我身边的时候
我想去找很多陌生人做爱
然后再打电话全都告诉你

如果你愤怒
你越愤怒
我才越感到安稳


Amor

Sempre que não estás comigo
desejo ir à procura de um tipo qualquer para fazer amor,
e depois telefonar-te e contar-te tudo

Se isso te puser furioso :
quanto mais o estiveres
mais segura me sentirei.