16 agosto 2017

jessica sequeira

Alazán


The alazán is a kind of reddish horse
with a gold mane that lives
in Argentina. I started reading about it
because I didn’t know whether
to translate it as “sorrel” or “chestnut”
(although even then I knew
its essence went beyond its name).
It’s a proud animal, it walks with head high,
it paws the ground, it shakes off flies.
It whinnies when a human approaches,
it’s very independent, it’s wary of contact.
It has big eyes and often stands
quite still looking at the landscape.
When someone walks up
with an outstretched hand full of oats
it doesn’t immediately nose forward,
but swishes its tail then leans down
with dignity. It’s a very magnificent creature,
so magnificent I realized I could
no longer live without one. The imaginary
was coaxed into the real. Now I spend
as much time as possible with my alazán.
Sometimes I give its mane tiny haircuts
and brush out its shining tail. Sometimes,
and these are my favorite times, it goes
running over the grass very fast,
very very fast, and I think it is happy.
I sit and make sketches of it in motion,
every sketch different, never a repetition
diversion and stillness—
and seeing it so happy makes me happy too.
Alazán, alazán. So proud and free.
Don’t be afraid to walk my way in the pasture…
the way is gentle, the gate is open.


Alazão

O alazão é uma espécie de cavalo avermelhado
de melenas douradas que conheci na Argentina.
Comecei a ler sobre o alazão
porque não sabia se era melhor
traduzi-lo por “azedinha” ou por “castanha”
mesmo sabendo nessa altura
que a sua essência trespassava
o seu nome. È um animal orgulhoso;
anda de cabeça altiva
espermeia o chão, livra-se das moscas
ou relincha quando se aproxima um humano.
É muito independente e suspeitante de todos os contactos.
Tem grandes olhos e gosta de ficar
muito quedo, olhando a paisagem.
Quando aparece alguém com um punhado
de aveia, não a come
de imediato, antes abana a cauda
e depois inclina-se com dignidade.
É uma criatura maravilhosa, tão maravilhosa
que compreendi que não conseguiria viver sem ele.
O imaginário era persuadido a entrar no real.
Agora passo muito tempo com o meu alazão.
Às vezes corto-lhe um pouco o pelo
a sua melena, e escovo-lhe a sua cauda radiante.
Às vezes, e são os meus tempos favoritos,
corre pela relva altamente veloz
muito muito veloz e penso que está feliz.
Sento-me e faço desenhos dele
em movimento, cada desenho diferente,
nunca uma repetição, diversão e repouso -
e vê-lo assim feliz, faz-me também feliz.
Alazão, alazão. Tão orgulhosos e tão livre.
Não receies andar ao meu lado
no ervaçal. O caminho é ameno,
a tranca está aberta.


14 agosto 2017

estefanía angueyra

Estudio sobre cuatro ciruelas

Diecisiete jóvenes
se sientan alrededor de una mesa
en la que reposan cuatro ciruelas

Todos escriben acerca de ellas
sin mirarlas

Para algunos poetas
los objetos sirven tan sólo
por su poder evocador:

¿a quién le importan
esas manchitas violetas de ahí,
tan inmóviles y opacas?

Ay, pero si fueran tres
al menos podríamos hablar
del número de Dios

Compañeros, ¡miren!
¡Acabo de morder uno de los frutos!
Ahora podrán añadirle a su poema
una metáfora sobre la carne.


Estudo sobre quatro ameixas

Dezassete jovens
sentam-se à volta de uma mesa
onde repousam quatro ameixas

Todos escrevem sobre elas
sem as olhar

Para alguns poetas
os objetos servem apenas
pelo ssu poder evocador:

quem se importa
com essa pequena manchas de roxo
tão imóveis e opacas?

Ah, mas se fossem três
pelo menos poderíamos falar
do número de Deus

Companheiros, vejam!
Acabo de morder dos frutos!
Agora poderão acrescentá-lo ao poema
uma metáfora sobre a carne.


10 agosto 2017

raquel salas rivera


yesque hasta que muera seré la que más araña la tierra con uñas postizas la que contiene múltiples
personificaciones tierra crudamente elaborada por el ataúd que empuja contra yo compacta
parándome en el medio de la muerte digo circundándola y desde adentro me e x p a n d e
con sus maderas

esque andaba con mis uñas en la tierra diciendo coño la historia noestuya
noestuya la historia
noesmía la historia la contamos sabes

yesque mientras viva no puedo realmente llegar al sitio aquel
a tiempo lo he intentado es algo que algunos llaman inherente
es decir si eso es futuro
estaré siempre deatráspalante


Gancho de ferro fixo na ponta de um pau para pendurar e tirar objetos – éque até morrer serei
quem mais arranha a terra com unhas postiças quem contém múltiplas personificações terra cuamente elaborada pelo ataúde empurrado conra mim eu compacta parada no meio da morte digo à volta e de dentro me e x p a n d e
com as suas madeiras

era que andava com as minhas unhas na terra dizendo caralho a hisória nãoétua
nãoéminha a hisória, contamo-la como sabes

eéque enquanto viver não consigo chegar a esse sítio
a tempo tentei é algo a que alguns chamam inerente
quer dizer se isso for futuro
estarei sempre detrásprafrente

03 agosto 2017

marta jazmín

El presagio de la inercia

Mi voluntad tiene la forma de un pájaro
muerto, abierto y quieto en el aire.
Presiento cómo extiende
compasivo
su escondite de plumas cenizas
debajo del sol
y encima de mi libertad.

Sobre este camino desnudo
también hace frío de los simulacros celestes
que sobrevuelan la Tierra.

Ya una vez creí escuchar
las campanadas de mil parpadeos
anunciando una visión de mí
abandonada en los desagües del desierto.

y otra vez
bajo esta sombra
los ojos se entreabren como labios
en medio de todas las palabras.

O presságio da inércia

A minha vontade tem a forma de pássaro
morto, aberto e parado no ar.
Pressinto como estende
compassivo
seu esconderijo de plumas cinzas
debaixo do sol
e encima da minha liberdade.

Sobre este caminho nu
também faz frio dos simulacros celestes
que sobrevoam a Terra.

Já uma vez julguei ouvir
as badaladas de mil pálpebras
anunciando uma visão de mim
abandonada nos esgotos do deserto.

e outra vez
sob esta sombra
os olhos entreabrem-se como lábios
no meio de todas as palavras.

02 agosto 2017

christina thatcher

Now

I cry all the time
in the most inappropriate places,
even when I don’t feel sad.
My eyes leak like gasoline
from the fuel pump
you masking-taped together
in my old Granada,
or like the patio roof
you never managed to patch up
before the fire.

My body knows you’re dead.
No matter how much I know
I should not be crying
in a toilet cubicle,
in my office,
on the street when I see
people holding hands,
my body remembers
you, in the fat salty tears
which well up and spill
out, just like your laugh
when you were alive.


Agora

Estou sempre a chorar
nos lugares mais inapropriados,
mesmo quando não estou triste.
Os meus olhos gotejam como a gasolina
do tanque de combustível
que remendaste com fita-cola
no meu velho Ford Granada,
ou como o teto do pátio
que nunca conseguiste reparar
antes do incêndio.

O meu corpo sabe que estás morto
Não importa que eu saiba
que não devia estar a chorar
num cubículo de casa-de-banho,
no meu escritório,
na rua quando vejo
pessoas de mão dada
o meu corpo lembra-se
de ti, nas grossas lágrimas salgadas
que se acumulam e derramam
como o teu riso
quando estavas vivo.


01 agosto 2017

adriana schlittler kausch

[CUANDO SEA MAYOR]

Cuando sea mayor
construiré un mundo donde
las pastillas del amor
se vendan en farmacias

Pondré a secar
todo el invierno que llevo en las manos
Tendré que admitir entonces:

quise ser una flor rodeada de flores

No me apliques la condena
Ya se fue

Seré un día mayor y diré
que el cielo está sucio
y no hay orden en ser ordenado

Que llegar tarde es sólo un preludio

Que el cuento empieza cuando se acerca el final


[QUANDO FOR GRANDE]

Quando for grande
construirei um mundo onde
as pastilhas do amor
se vendam em farmácias

Porei a secar
todo o inverno que trago nas mãos
Terei que admitir então:

quis ser uma flor rodeada de flores

Não me apliques a condenação
Já passou.

Serei um dia grande e direi
que o céu está sujo
e não há ordem em ser ordenado

Que chegar tarde é apenas um prelúdio

Que a história começa quando se aproxima o final

26 julho 2017

saray pavón

El cigarro contiene mis manos
indecisas que, como niños
del tercer mundo, no tienen
otra cosa que llevarse a la boca,
ni quien les cuente un cuento.
Lo que una vez llamé casa
quedó atrás.

O cigarro contém as minhas mãos
indecisas que, como crianças
do terceiro mundo, não têm
outra coisa que levar à boca,
nem quem lhes conte uma história.
Aquilo a que una vez chamei casa
ficou para trás.



20 julho 2017

rosa alcalá

OFRENDA
Acurrucada
en la axila
tu cabeza, mi sudor

carga combustible de cohete
bautizo
desde las más profundas

capas de mi grasa. Una red
lanzada contra mí
por los estivadores

del insulto público.
Radioactiva en partes
por millones

Retardantes
de llamas

Mi leche
Te doy
como cuando

le di mi tiroides
a la industria.


OFERENDA

Aninhada
na axila
tua cabeça, meu suor

carga combustível de foguete
batizo
desde as mais profundas

capas da minha gordura. Uma rede
lançada contra mim
pelos estivadores

do insulto público.
Radioativa em partes
por milhões

Retardantes
de chamas

O meu leite
Te dou
como quando

dei as minhas tiróides
à industria.

16 julho 2017

karo castro

Ellos vendrán a salvarme

Se ocuparán de mí
me dejarán un pijama y óvulos fértiles sobre la almohada
Mi pecho emplumado
está colgado en un ropero
La vida es pequeña aquí
de una brillantez artificial
Como Ícaro no quiero derretir mis alas
por eso cacareo cada mañana sobre los huesos recogidos
para recordar entre sábanas
el olor a tierra húmeda.


Eles virão salvar-me

Ocupar-se-ão de mim
deixar-me-ão um pijama e óvulos férteis sobre a almofada
O meu peito emplumado
está pendurado num guarda-vestidos
A vida é pequena aqui
de uma brilhantismo artificial
Como Ícaro não quero derreter as minhas asas
por isso o meu cacarejar sobre os ossos recolhidos
para recordar entre lençóis
o cheiro a terra húmida.


13 julho 2017

eva gallud

carta de amor a la hermana ausente

saliste corriendo de la casa de la fiebre
saliste descalza de blanco y coronada de ortigas
miraste atrás solo para escupir
dijiste ya tengo pena suficiente
y yo temí la tala o el incendio
[No voy a contaros cómo murió mi hermana porque no está muerta]
¿recuerdas aquella vez que me mordiste la lengua
y estuve dos semanas sin hablar?
en el mapa de dolores que metiste en mi bolsillo
la noche antes de perderte entre los robles
había marcadas doscientas cincuenta y seis cruces
¿te acuerdas cuando te encontré debajo de la cama
con sangre propia entre las uñas?
esperé a que volvieras mientras la lluvia
disolvía la tierra golpeaba las piedras acallaba a los pájaros
y ya estaban enfermos todos los caballos
[No voy a contaros cómo murió mi hermana porque no está muerta]
dejé que te acercaras y me hurgaste dentro
tumbadas blancas y apretadas sobre la greda
mi hermana la de los pies pequeños tan descalza
mi hermana la de las manos espigas tan sagrada
dejé que te acercaras y me hurgaste dentro
¿recuerdas que intenté despertarte mordiéndote en el hombro?
¿recuerdas cómo me dolía el cuerpo de tanto levantarte?
dabas las gracias a las niñas por crecer
pero yo te quise siempre con cintas en el pelo
coronada de serbales asfixiada de hojas
yo te quise siempre cerca y fría
con la boca azul llena de abejorros


carta de amor à irmã ausente

saíste a correr da casa da febre
saíste descalça de branco com coroa de urtigas
só olhaste para trás para cuspir
disseste já tenho pena suficiente
e eu temi a derrocada ou o incêndio
(Não vos digo como morreu a minha irmã porque não está morta)
lembras-te quando me mordeste a língua
e estive duas semanas sem falar?
no mapa de dores que meteste no meu bolso
na noite antes de te perder entre os carvalhos
tinha marcado duzentos e cinquenta e seis cruzes
lembras-te quando te encontrei debaixo da cama
com o próprio sangue entre as unhas?
Esperei que voltasses enquanto a chuva
dissolvia a terra fustigava as pedras fazia calar os pássaros
e já estavam doentes todos os cavalos
(Não vos digo como morreu a minha irmã porque não está morta)
deixei que te aproximasses e me penetrasses dentro
tombadas brancas e apertadas sobre a argila
a minha irmã a dos pés pequenos tão descalça
a minha irmã a das mãos espigas tão sagrada
deixei que te aproximasses e me penetrasses dentro
lembras-te que tentei acordar-te mordendo-te o ombro?
Lembras-te como me doía o corpo de tanto te levantar?
agradecias às meninas por cresceres
mas eu sempre te quis com fitas no cabelo
coroada de sorvas asfixiada de folhas
eu sempre te quis próxima e fria
com a boca azul cheia de abelhões


09 julho 2017

stéphanie rauschenbusch

QUASI UNA SESTINA

I crave peaches, steatopygous things with pits, peaches

unripe or ripe,

as much as divebombing wasps

crave iced coffee from my glass.

Let me taste the white, wet

sexual flesh



of Venetian peaches on the Riva degli Schiavoni

ripe or unripe,

so perfect they should be entombed in Murano glass

along with glassy wasps--

filamented green-white, wet

peaches.


I desire yellow Roman peaches

with saffron wasps

swarming on them in the Campo dei Fiori market, fleshing

out the nakedness of ripened

Caravaggios under glass.

I want to sleep and dream this muddy wet
 odor.
It isn't white. It's strained, sprained, bruised.


QUASI UNA SESTINA

Desejo ardentemente pêssegos, objetos adiposos com caroço, pêssegos
maduros, ou não,
tão fortes como as vespas que bombardeiam em mergulho
desejam ardentemente o café gelado do meu copo.
Deixem-me saborear a branca, húmida
carne sexual

dos pêssegos venezianos sobre a Riva degli Schiavoni
maduros, ou não,
tão perfeitos que deveriam ser inumados num copo de Murano
com vespas de copo -
os filamentos verde-branco, húmidos
dos pêssegos.

Desejo pêssegos romanos amarelos
com vespas de açafrão
em enxame sobre eles no mercado de Campo dei Fiori, descarnando
a nudez madura de
Caravaggios em vitrina.
Quero dormir e sonhar com este húmido e agitado
odor. Não é branco, É amassado, torcido, ferido.