13 julho 2017

eva gallud

carta de amor a la hermana ausente

saliste corriendo de la casa de la fiebre
saliste descalza de blanco y coronada de ortigas
miraste atrás solo para escupir
dijiste ya tengo pena suficiente
y yo temí la tala o el incendio
[No voy a contaros cómo murió mi hermana porque no está muerta]
¿recuerdas aquella vez que me mordiste la lengua
y estuve dos semanas sin hablar?
en el mapa de dolores que metiste en mi bolsillo
la noche antes de perderte entre los robles
había marcadas doscientas cincuenta y seis cruces
¿te acuerdas cuando te encontré debajo de la cama
con sangre propia entre las uñas?
esperé a que volvieras mientras la lluvia
disolvía la tierra golpeaba las piedras acallaba a los pájaros
y ya estaban enfermos todos los caballos
[No voy a contaros cómo murió mi hermana porque no está muerta]
dejé que te acercaras y me hurgaste dentro
tumbadas blancas y apretadas sobre la greda
mi hermana la de los pies pequeños tan descalza
mi hermana la de las manos espigas tan sagrada
dejé que te acercaras y me hurgaste dentro
¿recuerdas que intenté despertarte mordiéndote en el hombro?
¿recuerdas cómo me dolía el cuerpo de tanto levantarte?
dabas las gracias a las niñas por crecer
pero yo te quise siempre con cintas en el pelo
coronada de serbales asfixiada de hojas
yo te quise siempre cerca y fría
con la boca azul llena de abejorros


carta de amor à irmã ausente

saíste a correr da casa da febre
saíste descalça de branco com coroa de urtigas
só olhaste para trás para cuspir
disseste já tenho pena suficiente
e eu temi a derrocada ou o incêndio
(Não vos digo como morreu a minha irmã porque não está morta)
lembras-te quando me mordeste a língua
e estive duas semanas sem falar?
no mapa de dores que meteste no meu bolso
na noite antes de te perder entre os carvalhos
tinha marcado duzentos e cinquenta e seis cruzes
lembras-te quando te encontrei debaixo da cama
com o próprio sangue entre as unhas?
Esperei que voltasses enquanto a chuva
dissolvia a terra fustigava as pedras fazia calar os pássaros
e já estavam doentes todos os cavalos
(Não vos digo como morreu a minha irmã porque não está morta)
deixei que te aproximasses e me penetrasses dentro
tombadas brancas e apertadas sobre a argila
a minha irmã a dos pés pequenos tão descalça
a minha irmã a das mãos espigas tão sagrada
deixei que te aproximasses e me penetrasses dentro
lembras-te que tentei acordar-te mordendo-te o ombro?
Lembras-te como me doía o corpo de tanto te levantar?
agradecias às meninas por cresceres
mas eu sempre te quis com fitas no cabelo
coroada de sorvas asfixiada de folhas
eu sempre te quis próxima e fria
com a boca azul cheia de abelhões


09 julho 2017

stéphanie rauschenbusch

QUASI UNA SESTINA

I crave peaches, steatopygous things with pits, peaches

unripe or ripe,

as much as divebombing wasps

crave iced coffee from my glass.

Let me taste the white, wet

sexual flesh



of Venetian peaches on the Riva degli Schiavoni

ripe or unripe,

so perfect they should be entombed in Murano glass

along with glassy wasps--

filamented green-white, wet

peaches.


I desire yellow Roman peaches

with saffron wasps

swarming on them in the Campo dei Fiori market, fleshing

out the nakedness of ripened

Caravaggios under glass.

I want to sleep and dream this muddy wet
 odor.
It isn't white. It's strained, sprained, bruised.


QUASI UNA SESTINA

Desejo ardentemente pêssegos, objetos adiposos com caroço, pêssegos
maduros, ou não,
tão fortes como as vespas que bombardeiam em mergulho
desejam ardentemente o café gelado do meu copo.
Deixem-me saborear a branca, húmida
carne sexual

dos pêssegos venezianos sobre a Riva degli Schiavoni
maduros, ou não,
tão perfeitos que deveriam ser inumados num copo de Murano
com vespas de copo -
os filamentos verde-branco, húmidos
dos pêssegos.

Desejo pêssegos romanos amarelos
com vespas de açafrão
em enxame sobre eles no mercado de Campo dei Fiori, descarnando
a nudez madura de
Caravaggios em vitrina.
Quero dormir e sonhar com este húmido e agitado
odor. Não é branco, É amassado, torcido, ferido.



01 julho 2017

pamela rahn sanchez

Cada uno busca su infierno
algunos lo encuentran
varios se atropellan
contra él
como perros
cegados por las luces de los carros
otros lo ven claramente
y huyen de él
para luego regresar a pisotearlo
como si jugaran
con lodo.

Cada um anda atrás do seu inferno
há quem o encontre
outros atropelam-se
contra ele
como cães
cegos pelos faróis dos carros
há quem o veja claramente
e dele fuja
para a seguir voltar a espezinhá-lo
como uma brincadeira
na lama.


24 junho 2017

catalina gonzález restrepo

Silencio en la mesa

Mientras masticamos la carne del abandono
alguien ha corrido una silla
para sentarse y beber con nosotros.

Vivimos en sonidos que no podemos decir,
improvisamos un concierto que jamás vendrá:
el piano suena muy alto y mis voces callan.

Morir es mejor que oír,
los músicos son niños con hambre.

Silêncio na mesa

Enquanto mastigamos a carne do abandono
alguém pegou numa cadeira
para se sentar e beber connosco.

Vivemos em sons que não conseguimos dizer,
improvisamos um concerto que jamais virá:
o piano toca muito alto e as minhas vozes calam.

Morrer é melhor que ouvir,

os músicos são crianças com fome.

21 junho 2017

natalia toledo

Yoo lidxe’

Dxi guca’ nahuiini’ guse’ ndaani’ na’ jñaa biida’
sica beeu ndaani’ ladxi’do’ guibá’.
Luuna’ stidu xiaa ni biree ndaani’ xpichu’ yaga bioongo’.
Gudxite nia’ strompi’pi’ bine’ laa za,
ne guie’ sti matamoro gúca behua xiñaa bitua’dxi riguíte nia’ ca bizana’.
Sica rucuiidxicabe benda buaa lu gubidxa zacaca gusidu lu daa,
galaa íque lagadu rasi belecrú.
Cayaca gueta suquii, cadiee doo ria’ ne guixhe, cayaca guendaró,
cayaba nisaguie guidxilayú, rucha’huidu dxuladi,
ne ndaani’ ti xiga ndo’pa’ ri de’du telayú.

Casa primeira

Em criança dormi nos braços da minha avó
como a lua no coração do céu.
A cama: algodão que saiu da fruta estragada,
Fiz das árvores azeite; e vendi aos meus amigos
como guaxinim a flor da acácia.
Tal como secam os camarões ao sol, estendíamo-nos numa trouxa
Por cima das nossas pálpebras dormia a cruz de estrelas.
Tortas feitas no barro, fios tingidos para as redes,
a comida fazia-se com a felicidade de uma morrinha sobre a terra,
batíamos o chocolate

e numa xícara enorme serviam-nos a madrugada

20 junho 2017

teresa de jesús casique

Tu padre no te espera ya. Entre cabras
y perros fue olvidando todo aquello
que alguna vez le perteneció incluida tu
fama y el último beso.

Tu casa es una trinchera de gatos
despellejados. La cama que plantaste
con tanto esfuerzo en el ático, bordeando
al mejor de los árboles, es ahora
el lugar donde copulan palomas para que
nazcan insectos.

Tu hijo se me perdió en el vientre,
no tendrá que enterrarte.

¿Cuántos pueblos liberaste? ¿Qué harás
con tanta medalla,
tantísima joya obtenidas del saqueo?
Ningún mueble quedó para adornarlo
con alguno de tus dorados trofeos.

Vienes de la guerra y qué encuentras: una
carreta llevándome

O teu pai já não te espera. Entre cabras
e cães foi esquecendo tudo aquilo
que alguma vez lhe pertenceu incluindo a tua
fama e o último beijo.

A tua casa é uma trincheira de gatos
esfolados. A cama que colocaste
com tanto esforço no sótão, bordejando
o melhor das árvores, é agora
o lugar onde as pombas copulam para que
nasçam insetos.

O teu filho perdeu-se-me no ventre,
não terá que te enterrar.

Quantos povos libertaste? Que farás
com tantas medalhas
tantas joias obtidas no saque?
Nenhum móvel ficou para ser adornado
com algum dos teus dourados troféus.

Vens da guerra e o que encontras: uma
carroça levando-me.


15 junho 2017

abril medina

Soñé mujeres sosteniendo sus vaginas
hombres devorándose los miembros
bajo el sol
llevé una mano entre mis piernas y recé
porque siguiera ahí
intacto lo profundo bajo el vello
no podía llorar
supe que los dedos mienten
que la oscuridad no tiene tacto
y cualquier abismo se parece al útero

alguien calló
entre mi cuerpo insondable
y no pude rescatarlo

ellas temían ser arrastradas
caer al vacío si separaban las piernas
cuando estaban solas
o siendo soñadas

apreté los ojos abiertos
desde adentro
y me resistí a mirar cómo se daban vuelta
para que la asfixia
no golpeara con violencia
la cuenca de los senos

ellos
sembraban genitales como minas en la tierra
se protegían del vértigo
y era la mutilación
una forma de andamiaje

algunos hurgaban
removían la herida para estar seguros
de que no se abrieran
un par de labios
bajo la sangre.

Sonhei mulheres sustentando as suas vaginas
homens a devorar os membros
debaixo do sol
pus uma mão entre as pernas e rezei
porque continuava ali
intacto o profundo sob a penugem
não conseguia chorar
soube que os dedos mentem
que a escuridão não tem tato
e qualquer abismo se parece com o útero

alguém calou
entre o meu corpo insondável
e não consegui resgatá-lo

elas temiam ser arrastadas
cair no vazio se separassem as pernas
quando estavam sozinhas
ou a ser sonhadas

apertei os olhos abertos
por dentro
resisti ver como davam a volta
para que a asfixia
não golpeasse com violência
a enseada dos seios

eles
semeavam genitais como minas na terra
protegiam-se da vertigem
era a mutilação
uma forma de andaimes

alguns mexiam
removiam a ferida para terem a certeza
de que não se abririam
um par de lábios

sob o sangue.

12 junho 2017

alicia aza

EURÍDICE

Eras el horizonte luminoso
de las noches sin velas ni letargos,
donde la oscuridad vence al olvido
y el resuello corrompe la amargura.

Me hablaste de aquel sueño de arrecifes
en las tierras lejanas y vidriosas
de mares del cortejo receloso
lejano de sus burdos cumplimientos.

Pero tu voz quebrada y solitaria
se confundió en la mía sin compases
y me transformó en lira de tus cantos,
halcón para tus ojos sometidos,
nenúfar de tus noches turbulentas,
crimen para tus labios de ceniza.

Y te amé mito débil de papel,
desarmado en tu aliento palpitante
con ritmo de cadera de otras voces.

Seré una silueta en tu memoria,
daré viento al molino de tus ojos,
armas para tu torso de guerrero.

Pero nunca susurres mi canción
o morirás ahogado con los besos
líquidos de las novias inmortales.


EURÍDICE

Eras o horizonte luminoso
das noites sem velas nem letargias,
onde a escuridão vence o esquecimento
e o fôlego corrompe a amargura.

Falaste-me desse sonho de recifes
nas terras longínquas e vítreas
de mares do cortejo receoso
distante dos seus grossos ofícios.

Mas a tua voz quebrada e solitária
confundiu-se com a minha sem compassos
transformou-me em lira dos teus cantos,
falcão para os teus olhos submetidos,
nenúfar das tuas noites turbulentas,
crime para os teus lábios de cinza.

E amei-te mito débil de papel,
desarmado em teu alento palpitante
com balanço de anca de outras vozes.

Serei uma silhueta em tua memória,
darei vento ao moinho dos teus olhos,
armas para o teu torso de guerreiro.

Mas nunca sussurres a minha canção
ou morrerás afogado com os beijos
líquidos das noivas imortais.



08 junho 2017

eve de laudec

Il est des silences ligneux
Qui font racines
Je ne veux pas être femme-tronc
Ligaturée
Dans le grand sol ma bouche bée

Ainsi sourd ma sève inféconde


Há silêncios de lenha
Que se tornam raízes
Não quero estar mulher-tronco
Atada
Ao grande solo boquiaberta


Assim surda a minha seiva infecunda

04 junho 2017

rita valdivia

En el graznido de mi noche
más largo que un pensamiento apelmazado
por la atmósfera;
los deseos se cuajan como alimento vital
violados por el aire.
Yo subía por las gradas desgastadas del tiempo;
cada paso removía la huella de mis ancestros,
y su aullido rompía el silencio octogonal.
Buscaba inspirarme en tu risa;
pero tu risa flotaba estática en el vacío,
tratando de llamar la atención
de los harapientos personajes
que desfilaban por filas verticales.
La mezcla de vida y hastío
se escapa por las mucosas
negando los caminos,
las manos diligentes,
los ojos purulentos de sabiduría,
los instintos metidos en cascarones.
Sobre la noche, sobre la risa vacía,
sobre mi sombra engrandecida por la fiebre
se mezcla la lluvia de indiferencia
fosilizando ideas premáticas.

No grasnido da minha noite
maior que um pensamento amassado
pela atmosfera;
os desejos coalham-se como alimento vital
violados pelo ar.
Eu subia as escadarias desgastadas do tempo;
cada passo removia a pegada dos meus ancestrais,
e o seu uivo rompia o silêncio octogonal.
Procurava inspirar-me no teu riso;
porém o teu riso flutuava estático no vazio,
tentando chamar a atenção
das esfarrapadas personagens
que desfilavam em filas verticais.
A mistura de vida e fastio
escapa-se pelas mucosas
negando os caminhos,
as mãos diligentes,
os olhos purulentos de sabedoria,
os instintos metidos em cascas.
Sobre a noite, sobre o riso vazio,
sobre a minha sombra engrandecida pela febre
mistura-se a chuva da indiferença
fossilizando ideias premáticas.

02 junho 2017

liliana lukin

Campo quirúrgico. 18

El invierno allí como un estado
de los seres y las cosas macerándose
en la necesidad, el vaho en las bocas,
la voluntad de amanecer atravesando
lo muerto del frío en los jardines.

(Nunca vi florecer como en la infancia
las flores de papel, los pensamientos,
las calas, los naranjos y el ciruelo,
donde mamá armaba los ramos
mientras amasaba mi destierro).

El color en las fotos: esos pétalos
secados en la estufa, devorando
la astucia del tiempo en el fermento,
el respirar atento de la criatura que soy
cuando no estoy aquí, cuando no he vuelto.

Ahora todo lo vivo participa en lo que vuelve
y come de mí, ese reclamo del mundo es
la condena por el crimen de escritura,
vivido como una
equivocación de la naturaleza.

Campo cirúrgico. 18

O inverno ali como um estado
dos seres e as coisas macerando-se
na necessidade, o bafejo nas bocas,
a vontade de amanhecer atravessando
o morto do frio nos jardins.

(Nunca vi florescer como na infância
as flores de papel, os pensamentos,
os lírios de água, as laranjeiras e a ameixeira,
onde a mãe armava os ramos
enquanto amassava o meu desterro)

A cor nas fotos: essas pétalas
secas na estufa, devorando
a astúcia do tempo no fermento,
o respirar atento da criatura que sou
quando não estou aqui, quando não voltei.

Agora todo o vivo participa no que volta
e come de mim, essa atração do mundo é
a condenação pelo crime de escrita,
vivido como um
equívoco da natureza.


26 maio 2017

mariel damián


A la escultura de Lady Godiva


Eres más bonita que todas las noches juntas que si algún día decidieras suicidarte, la muerte se enamoraría de ti e inmortalizaría tu existencia.

Te haría dueña del tiempo y del blancor de sus huesos

y cada noche paseando en el cementerio preguntaría por ti

para acurrucarse entre tus pechos de arena

esperando a que dijeras Agua y el cielo llorara en un azul verdoso

o dijeras Luz, Leche, Manto

y las flores crecieran en el cráneo escalfado del viento.


Tú caminas y el cuerpo de otros tiembla,

en el andar sigiloso de tu presencia, las arañas se emborrachan de poesía en los rincones.


No es culpa tuya la simetría de los miembros

Ni el trazo perfecto de los lunares en tu espalda.

Nada sabes de los electrones excitados dentro de los ojos que te miran.

Desconoces la agonía del poeta que escribe estas líneas a la música que eres cuando cantas.

Tuyos son los grillos en la cuna de la muerte y mío tu nombre prohibido que escribo en una tumba en el idioma de una estrella o de los peces.

Porque tuya es la maldición de existir a manera de un ombligo que al cubrirse hace la noche y al tocarse es paraíso.

Eres un campo minado de girasoles.

El paisaje es inundado por el trigal de tus cabellos y por tus muslos ondeando al sol como dos banderas de países diferentes.



À escultura de Lady Godiva


És mais bonita que todas as noites juntas, se algum dia decidisses suicidar-te, a morte

apaixonar-se-ia por ti e imortalizaria a tua existência.

Far-te-ia dona do tempo e da brancura dos seus ossos

e todas as noites ao passear no cemitério perguntaria por ti

para se aconchegar entre os teus peitos de areia

à espera que dissesses Água e o céu chorasse em azul esverdeado

ou dissesses Luz, Leite, Manto

e as flores crescessem no crânio escalfado do vento.


Caminhas e o corpo dos outros treme,

no andar sigiloso da tua presença, as aranhas embriagam-se de poesia nos cantos.


Não é culpa tua a simetria dos membros

Nem o traço perfeito do grão nas tuas costas

Nada sabes dos eletrões excitados dentro dos olhos que te miram.

Desconheces a agonia do poeta que escreve estas linhas perante a música que és quando cantas.


Teus são os grilos no berço da morte e meu o teu nome proibido que escrevo numa campa

no idioma de uma estrela ou dos peixes.

Porque tua é a maldição de existir a maneira de um umbigo que ao cobrir-se faz a noite e ao tocar-se é paraíso.

És um campo minado de girassóis.

A paisagem está inundada pelo trigal dos teus cabelos e pelas tuas coxas ondeando aom sol como duas bandeiras de países diferentes.



Mi mente en una cita


Tú miras mis ojos mientras hablas,

yo miro tus labios moverse.


Cada palabra que nace en tu boca

es un beso que he perdido.



A minha mente num encontro


Focas os meus olhos enquanto falas,

vejo o movimento dos teus lábios.


Cada palavra nascida na tua boca

é um beijo que me perdeu.