23 agosto 2020

gabriela vargas aguirre


Hospitales 1

Todos los que están por morir saben tu nombre. Caminar dentro de un hospital debe ser lo más parecido a caminar al cielo. Niña de zapatos azules, no avances que no te gustará lo que hay dentro, no escuches esas voces que te llaman, que te ofrecen dulces, no jugarán contigo.

Todos los que están por morir saben tu nombre. Niña de zapatos azules, no brinques, no grites, no llames la atención que todos aquí quieren de ti un pedazo de vida, un riñón, un diente sano. No respires que la muerte se prenderá en tu nariz para convertirte en polvo y eso que llamas sombra, que es tu yo malo o tu yo noche, se meterá en tus huesos y te hará llorar.

Todos los que están por morir saben tu nombre. Poseen la cualidad de la piedra. De ahí mismo tu palidez, tu semejanza a la muerte, tu amparo a lo que se dice en voz baja, a jugar en la mitad más amarga del silencio. Quizás más tarde puedas ir a ver cómo sobre el agua van cayendo los cuerpos y, entonces, sabrás que desde ya estás moldeando un muerto.


Hospitais 1

Todos que estão prestes a morrer sabem o teu nome. Andar dentro de um hospital deve ser a coisa mais parecida a caminhar para o céu. Menina de sapatos azuis, não entres que não irás gostar do que está dentro, não ouças essas vozes que te chamam, que te oferecem doces, não vão brincar contigo.

Todos que estão prestes a morrer sabem o teu nome. Menina de sapatos azuis, não brinques, não grites, não chames a atenção que todos aqui querem de ti um pedaço da vida, um rim, um dente são. Não respires que a morte acender-se-á no teu nariz para transformar-te em pó e isso a que chamas sombra, que é o teu eu mau ou o teu eu noite, entrará no teus ossos e far-te-á chorar.

Todos que estão prestes a morrer sabem o teu nome. Possuem a qualidade da pedra. Daí a tua palidez, a tua semelhança com a morte, o teu abrigo do que se diz em voz baixa, para tocar na mais amarga metade do silêncio. Talvez mais tarde possas ir ver como sobre a água vão caindo os corpos e, então, saberás que já estás a moldar um morto.