Hospitales 1
Todos
los que están por morir saben tu nombre. Caminar dentro de un
hospital debe ser lo más parecido a caminar al cielo. Niña de
zapatos azules, no avances que no te gustará lo que hay dentro, no
escuches esas voces que te llaman, que te ofrecen dulces, no jugarán
contigo.
Todos
los que están por morir saben tu nombre. Niña de zapatos azules, no
brinques, no grites, no llames la atención que todos aquí quieren
de ti un pedazo de vida, un riñón, un diente sano. No respires que
la muerte se prenderá en tu nariz para convertirte en polvo y eso
que llamas sombra, que es tu yo malo o tu yo noche, se meterá en tus
huesos y te hará llorar.
Todos
los que están por morir saben tu nombre. Poseen la cualidad de la
piedra. De ahí mismo tu palidez, tu semejanza a la muerte, tu amparo
a lo que se dice en voz baja, a jugar en la mitad más amarga del
silencio. Quizás más tarde puedas ir a ver cómo sobre el agua van
cayendo los cuerpos y, entonces, sabrás que desde ya estás
moldeando un muerto.
Hospitais 1
Todos
que estão prestes a morrer sabem o teu
nome. Andar dentro de um hospital deve ser a coisa mais parecida
a caminhar para o céu. Menina
de sapatos azuis, não entres
que não irás
gostar do que está dentro, não ouças
essas vozes que
te chamam, que te
oferecem doces, não vão brincar contigo.
Todos
que estão prestes a morrer sabem o teu
nome. Menina de
sapatos azuis, não brinques,
não grites, não
chames a atenção
que todos aqui querem de ti
um pedaço da vida, um rim, um dente são.
Não respires que
a morte acender-se-á
no teu nariz para
transformar-te em
pó e isso a
que chamas
sombra, que é o teu
eu mau ou o teu
eu noite, entrará
no teus
ossos e far-te-á
chorar.
Todos
que estão prestes a morrer sabem o teu
nome. Possuem a
qualidade da pedra. Daí a tua
palidez, a tua
semelhança com a morte, o teu
abrigo do que se
diz em voz baixa,
para tocar na mais amarga metade do silêncio. Talvez mais tarde
possas ir ver
como sobre a água
vão caindo os
corpos e, então, saberás
que já estás a
moldar um morto.