Alguien al otro
lado
Una niña muy seria,
en la antigua
avenida de mi infancia,
me visita en los
sueños.
¿Qué has hecho de
mi vida?, me pregunta.
No sé qué
responderle. Sólo sé
que estoy al otro
lado de la calle,
que la niña no
logrará alcanzarme.
Algo lo impedirá:
la cautelosa sombra
del silencio,
o la frontera súbita
del miedo.
Algún día sabré
qué responderle.
Tal vez no vuelva
nunca, tal vez llore.
Tal vez nos
convirtamos en paisaje,
y yo seré su sueño:
alguien no recuerda
su pasado,
con la memoria sólo
del futuro.
Alguien que
necesitará saber
si ha aprendido ya
a perdonarme.
Alguém
do outro lado
Uma
menina muito séria
na
antiga avenida da minha infância,
visita-me
em sonhos.
Que
fizeste da minha vida?, pergunta-me
Não
sei como lhe responder. Só sei
que
estou do outro lado da rua,
que
a menina não conseguirá alcançar-me.
Algo
a impedirá:
a
cautelosa sombra do silêncio,
ou a
fronteira súbita do medo.
Um
dia saberei responder-lhe.
Talvez
não volte nunca, talvez chore.
Talvez
nos convertamos em paisagem,
e eu
seja o seu sonho:
ninguém
recorda o seu passado,
apenas
com a memória do futuro.
Alguém
que precisará de saber
se
já aprendi
a
perdoar-me